O VILAREJO INUIT - DTRL 28
- Nem parece que já faz um ano que ele se foi. - Disse uma bela mulher de cabelos louros, pele rosada e com as bochechas levemente avermelhadas devido ao intenso frio enquanto olha para uma antiga fotografia em preto e branco em um porta retrato empoeirado.
- Meu velho pai, que os Deuses o tenha em um bom lugar. - Um homem de barba grisalha responde atrás do balcão enquanto arruma uma caixa com diversos tipos de anzóis e boias para pesca, em uma caixa.
- Você até hoje não me disse o que foram fazer naquele fim de mundo pouco antes da morte dele.
- Johana, pretendo continuar assim, se me permitir.
- Ralph, somos um só, marido e mulher e da mesma forma que não escondo nada de ti, gostaria que você também o fizesse.
- E eu gostaria que você respeitasse a minha opinião.
- Tudo bem Ralph. – Johana responde, visivelmente emburrada.
Marido e mulher ficaram um tempo sem conversar na loja. Todo movimento que Johana fazia era precedido de uma respiração prolongada e alguns praguejamentos em baixo tom. Ralph pensou por alguns instantes e como conhece bem sua esposa, sabia que só teria paz depois de conversar com ela.
- Johana, você tem razão, além do que, tal como meu velho pai me revelou este segredo afim de prevenir gerações futuras, compartilharei com você, caso ignore o meu aviso.
- E qual seria o aviso?
- O que meu pai me contou quando chegamos no vilarejo abandonado as margens do lago Anjikuni, desafia a compreensão humana, atravessa as barreiras do real e o sobrenatural e com certeza fará você mudar sua opinião em conceitos e religiosidade assim como eu mudei os meus.
- Nossa Ralph, vocês encontraram com Jesus Cristo por lá?
- Quem me dera Johana. Façamos o seguinte. Após o almoço fechamos a loja e enquanto nos aquecemos com uma boa xicara de café em frente a lareira no meu escritório, te contarei em detalhes sobre a viagem que meu pai e eu fizemos.
- Combinado Ralph. – Johana responde, beijando Ralph nos lábios.
Precisamente as 14:00, Johana Labelle, baixou as persianas de seu estabelecimento, ela recolheu os itens de mostruário do lado de fora e ligou o pequeno letreiro de neon que piscava "Fechado" em vermelho. O casal herdara a loja de caça e pesca de seu pai Joel Labelle, localizada no povoado de Baker Lake na região de Kivalliq em Nunavut, Canadá.
Enquanto Ralph atiçava o fogo da lareira, a lenha começava a crepitar, Johana encheu duas xicaras de café e se recostou no sofá, cobriu-se com uma pele de caribu que cobria o móvel enquanto aguardava o seu esposo discorrer a história.
- Bem Johana, há cerca de um ano meu pai foi diagnosticado com câncer de laringe, muito provavelmente devido aos anos que fumava vigorosamente seu cachimbo.
Mais tarde entendi que a nicotina servia para acalma-lo por causa do evento estressante que sofrera quando jovem. Assim que ele soube do diagnóstico sobre o seu inexorável fim, passou a realizar tudo aquilo que não havia feito antes em vida, uma espécie de redenção acho eu.
O que sei é que tive bons momentos com o meu velho. Como fui seu único filho, juntos caçamos no extremo norte, assistimos uma partida de hóquei e até mesmo tomamos um porre de rum no bar do velho Zigfried. Diante de todas as realizações, apenas uma ficou pendente, uma viagem para os confins do pais em uma região ainda mais remota que essa que escolhemos como morada. A já mencionada região do lago Anjikuni, há cerca de 250 quilômetros daqui. E para lá fomos acampar.
Para essa viagem, meu pai fez algumas estranhas exigências. A seu pedido, utilizamos os mesmos equipamentos que ele usava em sua época. Trenos puxados por huskies e equipamentos antigos, que ele guardava com um zelo admirável. Não preciso mencionar que usar cães como transporte fez a viagem prolongar muito, entretanto, a cada pedaço de gelo vencido, meu pai tinha uma história para contar. Ver o meu velho falando avidamente de seus tempos dourados me causou imensa felicidade, sentimento esse que refletia em seu castigado rosto. Depois de alguns dias de viagem chegamos no falado acampamento. O lugar parecia suspenso no tempo e grande parte dos utensílios estavam nos seus lugares originais. Canoas amarradas em um píer improvisado, congeladas em meio ao lago, tornando-se parte da paisagem. Eis que meu pai apontou para uma cabana especifica, dizendo que ali passaríamos a noite.
Ao adentrarmos a cabana, meu pai vacilou um instante, e ficou observando o interior com um olhar triste. Resolvi respeitar o momento de meu pai e procurei acender um lampião para enxergar os pormenores do recinto e deixa-lo adequado para passarmos a noite. Como o lugar estava fechado, estava em um estado surpreendente de conservação. No chão havia restos de uma fogueira e no solo um pequeno desnível. Após alguns momentos, meu pai entrou e me ajudou a preparar o fogo e arrumar o lugar.
- Pai, porque esta cabana? - Perguntei.
- Meu filho, até o final da história você entenderá o motivo. Agora vamos deixar esse lugar habitável. - Respondeu afagando meu ombro.
Colocamos uma mesa que estava jogada em um canto no centro da cabana e tratei de preparar um café. Pouco depois que colocamos uma lebre na panela para cozinhar, meu pai começou a contar a história.
No início do século, eu explorei muito as regiões inóspitas no extremo norte, aonde fazia dinheiro com caça e sobretudo, no comércio de peles. Em uma de minhas expedições, conheci este vilarejo. Após alguns negócios com os chefes da tribo, passei a ganhar certa confiança das pessoas que aqui viviam, tornando-nos por assim dizer amigos.
O povoado era habitado por cerca de 50 pessoas, entre crianças, velhos e adultos. Eles tinham como líder, o caçador mais forte e destemido, conhecido como Olho de corvo, cuja família tinha forte influência sobre os demais. Olho de Corvo era casado com uma bela inuit de nome Nakeena e tinham duas filhas pequenas, Kita e Kiya.
Seu pai era o xamã da tribo, e carregava o apelido de Urso Negro. Apesar da idade avançada, Urso Negro era forte como o animal que fora apelidado, seu conhecimento sobre a natureza e seus mistérios, era no mínimo, fora do comum. A vila era de certa forma muito agitada e animada. Crianças corriam brincando de um lado para outro, as mulheres cuidavam dos afazeres enquanto cantavam ao passo que os mais velhos, papeavam nos alpendres e os homens trabalhavam, provisionando lenha e caça para o sustento.
Confesso que desde a primeira vez em que pus os pés aqui senti que de algum modo pertencia a este lugar e sempre que tinha algo a fazer próximo a região, ficava alguns dias acampado, procurando sempre ajudar os moradores e aprendendo seus costumes. Depois de um tempo, passei a ser muito bem recebido pelos inuites, tanto é que fui convidado a me hospedar com a família do Olho de Corvo, nessa cabana que estamos agora por mais de uma vez.
Os inuites tem uma ligação muito íntima com a Terra, animais e o mundo espiritual, por isso seus costumes e modo de viver e sobreviver, incluindo a caça e pesca, são regidos por conceitos religiosos. Certa vez durante um ritual de clarividência, Urso Negro, o xamã da tribo e pai de Olho de Corvo, vislumbrou um futuro terrível para os moradores da tribo. Dentre muitas maldições, escassez na caça, doenças e uma geada sem precedentes recairiam sobre os habitantes, caso um sacrifício não fosse oferecido para aplacar a fome primitiva de uma antiga entidade que a muito tempo adormecida, parecia ter despertado.
Eu era muito cético e não me importei muito com a visão que o xamã teve e deixei o povoado pois tinha algumas encomendas de pele e precisava caça-las o quanto antes. Duas semanas depois, voltei ao acampamento, e ao invés da habitual cordialidade do povo inuite, o silencio sepulcral reinava por todo o local. Não havia ninguém nas ruelas do assentamento, e nem o menor sinal de movimentação recente. Mesmo com as minhas apuradas habilidades em rastreamento, não fui capaz de encontrar pegadas na tentativa de encontrar o menor movimento. Quando vi os caiaques ancorados como era habitual, minhas pernas fraquejaram por um momento pois soube naquele instante que havia algo errado.
- Os cães. - Pensei.
- Vai ver que fugiram usando os trenós. - Eu tentei me convencer.
Ao chegar no canil, encontrei as portas escancaradas e uma espessa camada deve, que ia até a cintura. Resolvi escavar a neve que cobria o solo do canil em busca de pistas. Qual foi o horror quando descobri as carcaças dos pobres cães. Pelo estado dos animais, certamente foram atacados por alguma besta selvagem. – Presumi.
Talvez uma motivação obscura fez com que eu continuasse a procurar por maiores informações. Com muito empenho, comecei a esquadrinhar centímetro por centímetro do lugar. Cada cabana que investigava, alimentava mais e mais minha curiosidade. Em algumas, encontrei a mesa posta, em outras, rifles e artefatos para caça, itens indispensáveis e que sempre estão a tiracolo de qualquer homem adulto, e em grande maioria das casas, os pertences pessoais não foram sequer tocados.
O pior de tudo, é que nenhuma pegada. Nenhum rastro sequer. Será que perdi o meu dom? - Me indaguei mais de uma vez.
Minhas pupilas dilataram-se e meu coração acelerou quando viu ao longe, uma luz dentro da cabana de Olho de Corvo. Corri o mais rápido que pude, esgueirando-me e tomando proveito de cada canto escuro na tentativa de me proteger, caso quem ou o que causou o súbito desaparecimento do vilarejo, estivesse por perto. À espreita.
Chegando na cabana do Olho de Corvo, a mesma condição das outras casas foi encontrada, diferenciando-se apenas por uma fogueira cozinhando um pedaço de leão marinho. No instante que meu ouvido captou um ruído atrás de mim, minha mão direita já empunhava a minha Ruger .32, entretanto uma voz conhecida me fez parar o movimento de disparo no instante em que o gatilho seria puxado.
- Sou eu Labelle.
- Droga Olho de Corvo! Quase me matou de susto.
- Não foi minha intenção velho amigo.
- Mas que diabos aconteceu aqui? – Perguntei devolvendo a Ruger ao seu coldre.
- Antes de mais nada, deixe me trancar a porta Labelle, um golpe de vento a abriu e por um momento pensei que era o fim. Achei que ele havia me encontrado. - Respondeu Olho de Corvo.
- O que diabos aconteceu?
- Acho que estamos seguro agora. Mas tratemos de falar em um tom mais baixo, pois desconfio que a audição dele é muito sensível tornando-o capaz de escutar até mesmo sob uma espessa camada de gelo. Há três noites que não ouço nada além do uivar do vento, mas é bom não arriscar.
- Me diga Olho de Corvo, aonde estão todos?
- Nós fomos atacados, Labelle.
- Quem os atacou? Alguma fera?
- Não, o próprio Demônio.
- Suas palavras não fazem o menor sentido pra mim, Olho de Corvo.
- E é tudo minha culpa. - Olho de Corvo concluiu cabisbaixo.
- Tenha calma velho amigo. Deixe-me ajuda-lo a colocar seus pensamentos em ordem.
- Tudo bem.
- O que posso concluir até agora é que alguma coisa atacou o vilarejo? Estou correto?
- Sim.
- Quem o atacou?
- Um Demônio. De acordo com as visões de meu pai é uma antiga entidade denominada de Qallupilluk.
- Aquela criatura folclórica?
- Labelle, posso lhe assegurar que ela é real.
- E como aconteceu?
- Lembra-se da visão que meu pai teve?
- Sim. Ele mencionou alguma coisa sobre oferenda ou algo assim.
- Exatamente. A oferenda era para saciar o implacável Qallupilluk. Porém, como meu pai profetizou, muito tempo havia se passado desde o último sacrifico, e uma oferta já não seria suficiente, duas faziam-se necessárias, com a mesma idade e o mesmo sangue. – Olho de Corvo hesitou por um momento.
Por Tulugaak! - Ainda posso ouvir os gritos... minhas pequenas... – Olho de Corvo lamentou com lágrimas nos olhos.
- Suas filhas?
- Sim. As visões enlouqueceram Urso Negro. Tentei por diversas vezes convence-lo a não entregar minhas filhas, suas netas, mas a loucura o cegou e no ápice de sua insanidade, ele avançou com um punhal na direção de Kiya, não me restando outra escolha, senão mata-lo. Você é capaz de imaginar o quão terrível é enterrar um ente querido? Ainda mais morto por suas mãos? Era ele ou minhas filhas, e eu não podia deixa-lo machuca-las. Eu mesmo cavei sua cova e sepultei meu querido pai.
Que inferno vivo os Deus me encerraram! A verdade é que manchei o nosso solo sagrado com sangue do meu sangue. Acho que isso desagradou ainda mais o Demônio. O pior ocorreu após três noites em que fazia luto pelo meu pai. Algo aconteceu no vilarejo. E começou no canil.
Era tarde da noite e Meeko, filho de Kodiak o responsável pelos cães, havia acabado de alimentá-los, quando subitamente ouviu latidos de fúria seguido por grunhidos de medo e dor. Ele havia deixados os bichos segundos antes em excelente estado, sendo assim resolveu voltar para ver o que estava acontecendo. O que sei é que o que o garoto viu, o fez molhar as calças. Ninguém acreditou em suas palavras e por Ragnarok! Se tivéssemos dado a devida atenção para o menino e fugido para o mais longe possível, talvez todos estivessem vivos hoje. Mas o julgamos por deixar a porta aberta causando a morte dos cães por algum animal selvagem e o castigamos severamente.
Mutilar seria palavra que mais se aproxima do que aconteceu, porem nem de longe retrata o real estado em que nossos animais ficaram. Eles foram massacrados com requinte de crueldade e a disposição dos corpos, indicava que um ser pensante foi o responsável pelo ato macabro e cruel, além de que revelava que a real intenção de tamanha brutalidade era chamar a atenção ou aterrorizar.
Antes mesmo que pudéssemos compreender a situação como um todo, um grito foi ouvido do outro lado do vilarejo. Era Zaloya, a mulher de Ukaleq, o pescador. Ela estava jogada no chão aos prantos encarando o vazio do horizonte. Seus lábios balbuciavam fragmentos que ao junta-los dizia que um monstro havia levado sua pequena filha Seska, de apenas oito anos de idade. Seu marido tentou defende-la, mas foi levado também. Não era possível entender mais o que a mulher falava, pois, seu estado mental estava gravemente abalado. Os eventos que se desenrolaram a partir dali causou uma onda de pavor latente em todos.
Por toda a parte, gritos eram ouvidos enquanto os habitantes desapareciam. Em meio a correria num relance vi a sombra daquela coisa. Era muito maior que um homem ou qualquer animal que eu já tenha visto, a criatura caminhava sob as patas traseiras velozmente e quase não fazia barulho. De repente alguma pobre pessoa cruzou o seu caminho e como vi apenas as sombras projetas na pele de Caribu iluminada por uma fogueira, não sei dizer quem foi o infeliz, sei que a criatura o pegou com o que parecia ser braços e...
Olho de Corvo vacilou por um momento.
- O que aconteceu? - Perguntei.
- Que Alignak tenha piedade de nós. A coisa engoliu a pessoa inteira. Vi primeiro ele abocanhar a cabeça e depois enviou o restante do corpo para seu interior profano.
Ao olhar a tensa expressão de Olho de Corvo, soube ali que ele falava a verdade. O que mais me assustou foi o fato de um guerreiro por natureza temer algo daquela forma.
Após alguns segundos em silencio, Olho de Corvo continuou.
- Resolvi proteger minha família nesta cabana, fiz uma barricada na porta com a mesa, carreguei meu rifle e rezei que o pior não acontecesse. Minha esposa encostou na parede e abraçando minhas duas filhas começou a cantar para acalma-las.
O tempo foi passando e o acampamento continuava assustadoramente silencioso. Nenhum grito, nenhum passo, apenas o vento era ouvido do lado de fora. A Calmaria era tamanha que minha mulher e filhas adormeceram e eu, num vacilo também cochilei.
Os gritos de Kita e Kiya me tiraram do mundo dos sonhos, fui capaz de ver apenas por um instante suas mãos indefesas tentando alcançar a borda do gelo. O monstro infernal havia aberto um buraco sob os pés dela e as tragou para baixo das calotas.
Em um relance, Nakeena emergiu do buraco no gelo, mas logo foi envolvida por uma mão ou garra e puxada para baixo. Para sempre.
- Pelos Deuses Olho de Corvo, você viu a coisa?
- Apenas suas garras, se houvesse como descreve-las.
- Sinto muito amigo.
- Seu pai acreditou na história? - Johana perguntou, me interrompendo.
- Deixe-me finalizar e perceberá que não há dúvidas sobre o que ocorreu. – Respondi.
Meu pai tentou consolar Olho de Corvo, mas se deu conta que ele estava inconsolável. Ficaram alguns minutos em silencio enquanto as chamas da fogueira diminuíam em ritmo acelerado. Ao se dar conta que o fogo não tardaria a apagar, Olho de Corvo ofereceu-se em ir pegar mais madeira para queimar, do lado de fora da barraca. Meu pai apenas acenou com a cabeça enquanto atiçava as minguantes labaredas.
Enquanto meu pai tentava colocar em ordem o que acabara de ouvir de seu amigo inuit, Olho de Corvo cortava lenha do lado de fora. Alguns minutos depois, ele apareceu na entrada da cabana com a face visivelmente assustada.
- Ele levou o meu pai. Disse Olho de Corvo
- O que?
- Eu vi que a neve próxima aonde eu enterrei meu pai estava revirada. A criatura, ela escavou a sepultura e levou o seu corpo.
Quando Olho de Corvo se projetou para entrar na cabana, alguma coisa volteou sua cintura. Não era possível descrever ou explicar aquilo, se era mão, garra ou outra coisa. Essa garra, chamemos assim, levantou Olho de Corvo do chão na minha frente, espalhando a lenha que carregava por todo lado. A garra bateu o corpo dele contra as paredes de um lado para o outro, forçando-o em seguida contra o teto, batendo-o repetidas vezes com extrema brutalidade, fazendo sangue jorrar de sua boca, salpicando o meu rosto. Em um movimento rápido, a coisa o puxou-o para fora com violência. Pude apenas ouvir os seus gritos de horror, que logo silenciou na noite fria.
Em todos os meus anos no Norte em meio a vida selvagem, me deparei com os mais diversos perigos. Me vi de frente com os mais mortais predadores de nossa era e nunca havia sentido o que senti naquela cabana. Mais do que medo, mais do que terror ou loucura, me senti impotente.
Assim que recuperei o controle de minhas pernas, caminhei durante a madrugada toda e logo cedo cheguei ao distrito da polícia montada. No momento em que fui prestar o meu depoimento, resolvi omitir os fatos extraordinários que presenciei, não por medo, mas por ter certeza de que não conseguiria provar nenhuma palavra sobre aquela noite maldita.
- E assim meu pai terminou o relato daquela gélida noite as margens do lago Anjikuni. Pouco tempo depois ele veio a falecer como você bem sabe.
- Ralph, sempre respeitarei o seu pai, mas será que não foi um urso? Ou algum outro grande predador? Talvez eles sofreram de histeria coletiva ou alguma outra doença.
- Johana, minha esposa, repetirei o que meu pai disse e eu vi com os meus próprios olhos corroborando tudo o que ele contou.
- Meu filho, sei que o acabei de te dizer, parece ser inverossímil, fruto de uma imaginação fértil, mas saiba que nenhuma palavra sequer dita aqui possui inverdades, confesso que guardar esse segredo durante todos esses anos não foi tarefa fácil. Bem como havia prometido, resolvi passar a noite aqui nesta cabana, a mesma em que há cinquenta anos tive um encontro intimo com o sobrenatural e o indescritível. Eu o trouxe aqui para você ver a única prova do ocorrido.
Olhe para cima.
Quando olhei para o teto conservado devido ao frio e ao isolamento da barraca, pude ver os rastros que as unhas de Olho de Corvo deixaram quando foi puxado pela criatura.
Tema: Mistérios Inexplicáveis.