O FEITIÇO DA SEREIA

O vento passa lento pela tarde que arde ao sol, no silêncio tranquilo da Ilha dos Amores, os pescadores podem ouvi-lo, um deles até sorriria se no dia não tivesse só pó de areia passeando pelo ar num vai e vem como se procurasse alguém. Ele se sentia cansado e passado nos nervos amaldiçoou o pó, depois com a fúria dos infernos infernais gritou alto, assustando os demais pescadores: “é poeira de sereia feia, pessoal”.

A poeira passa pelo desgosto do seu rosto já predisposto a uma lágrima quando lhe provoca uma agradável sensação nos lábios e um afável arrepio na pele. O pescador espantado se benze com um rápido sinal da cruz e acomoda-se ao lado do pequeno barco pesqueiro, com acalento o vento vai levando a sua prece que adormece antes do luar.

Cai às derradeiras sombras do fim da tarde, vêm à noite bem nascida trazendo o alento do frescor depois do sol, os ruídos perdidos das ondas ferem à noite sem maldade. Mar à dentro navega o solitário pescador levando no peito à cicatriz feliz de saudade da amada, e a esperança mansa que dança sedutora perto dos olhos com peixes na sua rede.

Em alto mar se encanta com a calmaria prateada das águas onde a lua cheia deitava o seu beijo doce sobre a pele d'água salgada, o mar parou para amar! Aquela luz lindíssima nunca havia visto, não era natural, no céu existia algo mais que as estrelas!

Atônito o pescador vê aquela luz iluminar a bela sereia nua e crua, com sua beleza pura, põe brilho nos seus olhos, água em sua boca e aroma nos seus lábios, conquistados em êxtase por um beijo amoroso. O peixe a ser fisgado aguardava-o com magia e poesia, com maestria trouxe o pescado, o aroma e o gosto gostoso com o desejo de outro beijo amoroso nos seus lábios ávidos.

O seu coração procura cura nos carinhos sábios cheios de burburinhos da sua amada, mas na fervura obscura da magia, iguais aos antigos cristais, os encantos se quebram e não voltam mais.

Voltou ao mar e lá ficou a sonhar com outro beijo amoroso, em uma noite clara vencido pelo cansaço entendeu o fracasso com dor, o vento passa lento pelo desgosto do seu rosto levando o sonho de um beijo amoroso no leito perfeito. Enfim o pescador entendeu o terror do feitiço e o horror do futuro que lhe espera impaciente, com lágrimas sonoras lamentou a má sorte e se deitou com a morte no leito escuro do fundo mar.

Midu Gorini
Enviado por Midu Gorini em 27/06/2016
Código do texto: T5679805
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