A Caverna
Sentado em uma cadeira na sala um cadáver ouvia rádio. A melodia suave, de uma estação de música clássica, preenchia o ambiente juntamente com o odor fétido da carne podre. Olhava para o cadáver e ele me fitava de volta, sua face já parcialmente descarnada e com dois buracos ao invés de olhos lançava-me uma interrogação, uma pergunta a qual temia a resposta.
Lá fora havia luzes das quais via apenas as sombras, e sons dos quais ouvia apenas os ecos. Ali dentro daquela casa estava eu, privado de tudo o que era, ouvindo uma melodia no rádio, apodrecendo devagar e olhando para um fantasma a minha frente. E no que restava de minha consciência me questionava quem era aquele fantasma, e tinha medo da resposta.