Abraços Estranhos em Camas Vazias
Ainda restava um pouco de fôlego nos pulmões de Bryan quando sua mãe, colocando a cabeça para fora da janela, o chamou para o jantar.
- Só mais um pulo, mãe! - gritou subindo as raízes da suntuosa árvore que formavam pequenos degraus. Pulou de dois em dois, respirando fundo e tomado pela bravura dos tolos, e saltou.
Desceu como uma ave desajeitada. O tornozelo girou em um ângulo estranho e o grito de dor escapou pela boca no ritmo do latejar.
- Eu falei para você entrar! - A mãe corria, desesperada - olha o que você arrumou, garoto!
Ele chorou e esperneou, mas não adiantou muita coisa. Três horas depois estava de volta. No hospital, envolveram-lhe até os joelhos com um gesso duro, e ele caminhava tão estranho quanto um pinguim. Tentou - chorando logo em seguida - colocar os pés no chão: a dor era insuportável.
Jantou sopa de frango com cenouras em formato de letras, e escreveu uma dezena de palavras obscenas enquanto comia. A maioria queria dizer, basicamente, "merda". Alguns sinônimos verdadeiros e outros que ele inventara.
Ainda sentia a barriga pesada quando deitou na cama. As colchas quentes e macias o abraçaram em um aperto aconchegante, e até o tornozelo ferido já não doía tanto. Sentiu a força fluindo para o mundo dos sonhos, os membros ficando leves e os olhos pesados fecharem-se para a noite.
Acordou em um pulo. O barulho incessante no telhado o despertou como uma marretada no crânio. Jogou as cobertas para o lado em um espasmo involuntário, e fitou a escuridão indiferente e vazia que preenchia o quarto. Se o vazio pudesse preencher algo, seria o negro da noite intermitente. Piscou, esfregando os olhos para trazer o mundo a vida, e estremeceu com o retumbar vindo do teto.
Congelou, a perna voltando ao latejar irritante da dor, e tentou se mover. O sapateado no telhado se intensificou, trazendo aquele medo do desconhecido que causava um incômodo no peito. A bola subiu o esôfago e voltou, quase escapando com o som da fibra rachando.
Saltou - como nunca antes havia feito na árvore - da cama e se arrastou para a porta, ignorando o pulsar que emanava do tornozelo inchado. O rastejar no telhado o seguiu, como uma cobra dotada de centenas de pés, e aprofundou a rachadura que agora já percorria toda a extensão das telhas.
Puxou a maçaneta e se lançou no corredor; a respiração descomassada fazia gotas de suor escorrerem pela face, e o medo brotava dos olhos como uma reação fisiológica ao que acontecia.
Silêncio.
O sussurrar do vento através das janelas era a sinfonia que regia a noite. Ouvia as batidas do coração explodindo no ouvido e o incomodo no estômago já parecia o vômito completo. Olhou para o quarto, curioso, e voltou deslizando para ele. A dor já não o deixava andar novamente. Recolheu as cobertas da melhor forma que pôde, escalou a cama e forçou una respiração controlada. Encarou o teto por alguns segundos, sintetizando as coisas como só uma criança é capaz, e virou para encontrar novamente a estrada de oneiros.
Ao seu lado, deitado e com um sorriso no rosto, o demônio o esperava de braços abertos.