Corpo Vazio

A dor gravitava o peito e elevava-se aos olhos, transbordando a derrota que a vida lhe impusera.

No sonho o filho chutava.

A barriga se mexia alegremente em um furor contagiante. A criança sorria (ou talvez gritava). Até o sangue escorrer por entre as pernas; a vagina se abriu e vomitou o morto que caiu como pedra. O crânio rachou-se num quadro pintado em guache.

Acordou assustada, soluçando entre choros e gemidos. Na cama a casca da criança se agarrava aos seus braços. Sabia que ali encontraria o amor de mãe.

A cabeça aberta lembrava uma flor.

Jefferson Lemos
Enviado por Jefferson Lemos em 30/03/2016
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