Adão e Eva.
Um dia nublado qualquer do ano atual, uma pessoa qualquer acorda-se e passa a mão pelo cabelo a fim de ajeitar, após alguns segundos sentada na cama levanta-se para ir à cozinha tomar um café da manhã.
- Bom dia pessoa que me deu à vida... O que temos para o café da manhã?
- Temos ovo mexido com bacon para a pessoa que não quer ser saudável e duas bananas para uma pessoa que quer. Qual você escolhe?
- Vou ser a pessoa que não quer ser saudável – Sorri.
- Como sempre – Sorri de volta.
Após o café da manhã tomado a pessoa volta para o quarto e troca-se, veste uma camisa, uma calça e duas unidades de tênis marrom. Sai pela porta da frente e caminha em direção ao centro da cidade como faz todos os dias para dar uma olhada nos livros novos que chegaram, enquanto caminha coloca o fone de ouvido para escutar a playlist do dia que ia desde Gabriel, o pensador até Los Hermanos passando por Leonardo e Tati Zaqui. Chega à livraria indo direto na sessão de terror, porém algo a fez parar na sessão de Romance para dar uma olhada no que tinha – Afinal nunca tinha lido um desse gênero – se interessou por alguns e anotou no braço para não se esquecer dos nomes, quando se virou pra trás viu uma pessoa na sessão de terror... Têm cabelos, pele, carne, osso, a achou muito bonita e ficou parada observando-a enquanto escolhia uns livros.
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Não sabia que livros escolher e sentia que alguém a observava de longe, sentiu um calafrio e o coração batendo forte o medo a atormentava toda vez que isso acontecia... Não aguentava mais ser observada, “desejada”, e ter que ouvir palavras chulas de outras pessoas só por que a achavam bonita – FODA-SE VOCÊS TODOS! – pensava, mas nunca conseguia realmente dizer, o horror que penetra seu corpo nessas situações é quase tão doloroso quanto à vez que foi molestada no metrô ou então quando foi estuprada por um “amigo” da escola que de raiva por ter sempre sido gentil e nunca conseguido nada com ela ficou enfurecido e a culpava por nunca ter se interessado por ele.
- Tudo bem pessoa? Como posso lhe ajudar? – Uma pessoa que trabalha na livraria chegou de súbito, porém o alívio foi grande.
- Estou procurando por livros de terror para uma pessoa. Só sei que ela gosta do Stephen King, porém não sei quais elas já leu.
- Bom, temos um lançamento que chegou faz pouco tempo. Acredito que esse ela não tenha – Foi até a prateleira pegar o livro. A pessoa ainda a observava.
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- Não acredito que ela gosta de Stephen King – Disse pra sua própria cabeça e botou um sorriso no rosto. A pessoa saiu com a bolsa da livraria e nossa personagem observadora foi atrás caminhando com seu fone de ouvido escutando – Desconstruindo Amélia – com os olhos grudados na pessoa com a bolsa.
- Será que ela me notou?
- Não, tenho certeza que não.
- Mas bem que ela podia ter notado né.
- Deveria ter ido na sessão de Terror.
- Filho da puta. Eu sempre vou lá, justo hoje não.
Após o diálogo consigo percebeu que a pessoa na frente deu uma olhada para trás e sorriu, e claro foi recíproco. Ao chegar a casa entra pela porta da frente e alguém pergunta
- Como foi o passeio? – Então lembra-se da pessoa com a bolsa e do seu sorriso.
- Foi ótimo! – Sorrindo sobe a escada.
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Ainda sentia que está sendo observada e o pior que agora está sendo perseguida também, tenta acelerar o passo, porém a pessoa que a segue aumenta a velocidade conforme necessário para não perdê-la de vista. Todas as sensações dos abusos que sofreu estão vindo a sua mente feito avalanche e tomam conta de seus olhos que está prestes a explodir de tanta dor e estresse.
- Não vou olhar pra trás. Não vou.
- Se eu não olhar posso não me lembrar do rosto caso aconteça algo.
- Calma! Calma!
- Droga, não consigo ter calma.
Porém com muito esforço e fadiga chega à sua casa e adentra-a o mais rápido que pode. Finalmente um lugar seguro, a pessoa que está lá dentro pergunta.
- O que aconteceu? Como foi? Comprou o presente?
- Comprei... Foi horrível – Subiu para o seu quarto chorando.