DIAS MACABROS: A MULHER
De um local muito alto ela parecia encantada com o por do sol, enquanto em seus pensamentos flashbacks de sua vida passavam rápidos como a correnteza de um rio revolto.
O vale se estendia até onde as vistas podiam alcançar. Olhou para baixo e vislumbrou a beleza da natureza ao seu redor, as águas da cascata voando livres e graciosas para em seguida açoitarem impiedosamente as rochas que bravamente teimavam em resistir.
Ela sempre adorou o mirante, sentia uma incrível sensação de liberdade, a natureza indomável daquele lugar exercia sobre ela um estranho fascínio, mas hoje ela não podia demorar.
Deu uma última espiada no sol, que já se mostrava tímido no horizonte. Fechou os olhos e o vento bateu em seu rosto, sentiu-se livre... Mas algo a incomodava, uma sensação de que havia esquecido algo.
O vento bateu mais forte trazendo uma estranha sensação de carinho, sentiu-se livre novamente... Mas em seguida a angústia chegou sem piedade...
A carta. Ela havia esquecido de escrever a carta. Não havia mais tempo... Agora o vento batia ainda mais veloz e impiedoso em seu corpo... Abriu os olhos ainda a tempo de ver as rochas pela última vez, ela nunca as tinha visto de tão perto assim!
Pobre Sofia, seus motivos ninguém jamais saberá.