Ele voltou...

Esse é o meu primeiro conto concluído.

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Eu nasci em uma família conturbada, vocês sabem o que é ter uma pessoa alcoólatra  vivendo sob o mesmo teto que você? Bom, se você não sabe, é melhor que não queira saber. Eu tinha um pai, ele era alcoólatra, infelizmente eu cresci com ele presente na minha vida. Ele não era uma pessoa que tinha uma presença agradável, ele xingava muitos palavrões, tacava objetos, quebrava coisas. E eu sempre reprimi meus sentimentos, sempre controlei minha fúria, até algum tempo atrás. Eu tinha uma mente barulhenta, me sentia incomodada com a presença dele. Acho que ainda não falei do meu pai como pessoa sã né? Pois bem, ele era uma pessoa ruim por natureza, sempre me batia e me censurava por coisas mínimas. Uma hora ele era uma pessoa comunicativa, simpática, e em questão de minutos se tornava um monstro. Nunca vi isso com uma doença, eu sabia que isso era natural dele. Eu já me referia a ele como demônio. O via como uma barreira entre eu e a nossa felicidade.   Quando eu digo "nossa" eu me refiro à eu e minha mãe. E após apenas mais um ataque de loucura do meu amado pai, eu decidi que aquele seria o último ataque que ele daria, pois foi naquele ataque que ele me deixou com um olho roxo, um nariz quebrado e vários hematomas pelo corpo. Bolei um plano para dar um fim naquela vida inútil dele, e no sofrimento da minha vida. Eu não queria sujar minhas mãos com seu sangue, eu queria apenas me livrar dele. Resolvi que o mais fácil seria o sufocar com uma almofada, já vi muito disso nos filmes, era um assassinato limpo, sem vestígios, e seria fácil fazer quando ele estivesse em um de seus "mini-comas", pois estaria bebado como um porco, desmaiado, indefeso, muito fácil...

Eu já estava decidida, eu iria colocar o plano em ação, mas o maldito parecia até que sentia que algo estava pra acontecer, ficou dois dias sem beber, sem sair de casa. Mas seria fácil tirá-lo de casa, deixei propositalmente cair dez reais no chão, perto da cama dele, porque eu sei que ele, mal caráter que é, torraria o dinheiro sem nem querer saber de quem era, e pra que era. Dito e feito, ele gastou o dinheiro todo em cachaça, e como era de se esperar, chegou em casa xingando, bebado, mal conseguia andar, logo deitou em sua cama e desmaiou. Aquele era o momento, era apenas eu e ele, minha mãe não estava em casa, pois era de tarde, ela estava no trabalho, enfim, eu não queria perder nem mais um segundo da minha vida, eu estava prestes a me livrar de uma pedra em meu sapato, e lá fui eu, peguei a almofada e pressionei contra sua face, sua maldita face, a qual eu já não aguentava mais ter de olhar, e ele mal reagiu, pressionei durante uns dois minutos pra ter certeza que me livrei dele. No momento eu não acreditei que estava fazendo aquilo, até lamentei, pois é triste uma família acabar daquela maneira, mas foi ele quem provocou o fim, e eu estava aliviada. Quando eu tirei a almofada, estava ele lá, dormindo tranquilamente com a boca aberta.

"De nada" Eu disse à ele, pois tinha o libertado da pessoa horrível que ele era, e com certeza ele estava grato por isso.

Para garantir que ele estava morto, coloquei o espelho debaixo de seu nariz, não vaporava. Eu até ri do quanto eu estava sendo amadora, parecia coisa de filme. Chamei a ambulância, disse que meu pai não queria acordar. Assim que chegaram, constataram aqui mesmo que ele já estava morto, tentaram reanimar ele, mas nada. Ufa!

Eu não chorei. Podem levar o corpo.

Eu compareci ao velório e ao enterro apenas para acompanhar minha mãe, ela chorava as vezes, mas eu sabia que era de emoção por ter livrado esse peso das costas dela.

Nos três dias que seguiram, tudo correu bem, organizamos a casa, nos livramos de tudo que o pertencia, estavamos usufruindo a paz. No quarto dia, coisas estranhas começaram a acontecer, estranhas não, familiares, panelas batendo, porta do armário abrindo, coisas caindo... O problema era que geralmente quando isso acontecia, eu estava sozinha, mas eu não tinha medo, eu tinha ódio, pois sabia que ele não tinha ido embora, eu acreditei que tinha me livrado dele, mas não, ele voltou! Poucas foram as vezes em que ele se manifestou perto da minha mãe, e quando se manifestava, ela nunca ouvia, ela nunca via, mesmo que fosse na frente da cara dela, não tinha como não ver ou ouvir. E toda essa tortura foi se estendendo, eu não aguentava mais, eu mal dormia, mal comia. Minha mãe achava que eu estava depressiva, mas ela estava enganada. No começo eu não podia vê-lo, apenas sentia e ouvia. As vezes ele se dava ao luxo de cochichar, assim como fazia em vida. Mas depois de um tempo as coisas mudaram, eu comecei a ver ele, ou melhor, o vulto dele, passeando pela casa. E em um dia, um dia especial, eu o vi no balcão da cozinha de costas pra mim, ele sentiu minha presença, se virou e sorriu pra mim, e voltou a fazer sei lá o que que ele estava fazendo. Aquilo foi a gota, ele estava debochando de mim e eu precisava me livrar dele de uma vez por todas. Peguei a maior faca que tinhamos em casa e aproveitei que ele estava destraído, dei pelo menos umas dez facadas pelas costas, ele se virou, tentou me empurrar mas estava fraco demais, ele apelou, na hora em que caiu no chão, tomou a forma de minha mãe, mas eu sabia que não era ela, minha mãe estava no quarto dormindo, ele começou a falar meu nome com a voz da minha mãe, então cortei sua garganta para que parasse de falar meu nome. Aquele corpo no chão parecia tão real, mas eu sei que era o espírito do meu pai imitando a forma da minha mãe, ele queria me enganar.

"Não foi dessa vez pai!" Eu gritei.

Eu queria sair com a minha mãe daquela casa, fui até o quarto dela, mas ela não estava lá, deve ter saído, ela sempre sai e não avisa. O "corpo" na cozinha ainda parecia com a minha mãe, no chão estava uma poça gigante de sangue, parecia tão real, mas eu não ligava, ele não vai me enganar.

Eu vou embora dessa casa pra ele nunca mais me achar, deixo essa carta aqui, espero que entendam tudo o que eu passei, eu não sei pra onde vou, avisem pra minha mãe que eu a amo, eu vou ficar bem, um dia eu volto pra buscar ela.

C Hernandez
Enviado por C Hernandez em 22/09/2014
Reeditado em 27/09/2014
Código do texto: T4972385
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