Deserto das Almas - 3º Capítulo - Nascida pelo Medo

3º Capítulo - NASCIDA PELO MEDO

Era outubro, o vilarejo estava celebrando o dia dos mortos. O problema desta comemoração, é que as mortes eram sempre constantes e em intervalos pequenos, não havendo o mínimo espírito para festejar algo que só trazia dor e sofrimento.

Nessa noite, Ebbie, moça jovem e bonita, uma das poucas da cidade, estava sentada em frente à sua casa, recordando alguns terríveis momentos passados. Ela morava sozinha e estava tendo um problema familiar.

No dia seguinte a festa dos mortos, Ebbie havia conhecido um rapaz que investigava e visitava lugares desconhecidos e não vistos nos mapas locais. Ele a conheceu e pediu ajuda para conhecer um pouco aquele lugar sombrio. Ebbie o ajudou durante dias e em meio ao tempo, eles se relacionaram e sem esperar muito, ela já havia engravidado. A situação ficou pior quando o rapaz que se chamava Josh, havia sumido no dia seguinte, após ela ter descoberto a gravidez. Ebbie, aflita, ficou intrigada ao saber que ele não tinha exatamente ido embora. Suas roupas, sacolas e câmera estavam penduradas na cabeceira de sua cama. O medo se tornou seu maior inimigo. Ela ficou confusa e esperançosa ao mesmo tempo e por alguns meses.

Os meses correm em um fluxo de agonia. Ebbie estava aflita e cansada e sua barriga crescia cada dia mais, o que obviamente iria acontecer. Ela pensou em buscar lenha, pois o frio era intenso naquela tarde. Ela caminhou até o bosque com um lampião em mãos. Ao entrar, seus passos à levaram para longe e bem adentro do bosque. Ebbie carregou o máximo de gravetos, tocos de madeira que poderia carregar. Ao caminhar e ao cessar da tarde, o gás de seu lampião havia acabado. Ebbie começou a ficar com medo e receio, afinal, era a primeira vez que ela ousou entrar naquele bosque. Ela caminhou depressa na trilha que daria para sua casa, mas ela na verdade estava caminhando em círculos.

A névoa chega e Ebbie começa a chorar e sentir contrações. Ao soar o vento frio naquele instante, ela ouve uma voz conhecida, vinda de longe. Era Josh. Ele a chamava, mas o som soava muito sombrio e estranho. Ebbie correu o máximo que podia e ao enxergar turvamente Josh ao longe, ela sentiu uma mão crespa puxa-la pelos cabelos até ela cair ao chão. Alguns gravetos que ela carregava caíram e arranharam sua barriga e seu rosto. Ela gritou por ajuda e levantou depressa, mas estava fraca e debilitada. Ebbie correu atrás do som da voz de Josh e uma sombra negra estava vindo atrás dela. Em meio ao breu e o grito da noite, o caminho para saída começou a aparecer e a visão que ela havia tido de Josh se tornou somente uma alucinação, mas em alívio, ela havia conseguido sair daquele terrível pesadelo.

Ebbie chegou em casa, deitou em sua cama e chorou a noite inteira e sua barriga sangrava. No amanhecer, ela havia descansado depois de tanto medo e as dores cessaram. No fundo, ela sentia medo de que o bebê pudesse ter morrido com a queda, mas ainda sentia-o mexer. Durante um tempo, ela ficou abraçando as roupas de Josh e encontrou alguns retratos em sua sacola. Era a foto da mãe de Josh. Era linda e estava jovem no retrato. Seu nome estava atrás do retrato e Ebbie o achou muito bonito.

Algumas semanas passam e ela não mais saiu de casa. As contrações do parto se tornaram constantes e a bolsa começou a estourar. Ebbie gritava de dor e estava fraca e sozinha. O bebê estava para nascer e ela gritava muito e lágrimas sofridas saíam de seus olhos. A hora chega, e em dor e fraqueza, o bebê nasce e é uma linda menina. Ela tinha os olhos de Josh. Ao segura-la em seus braços, Ebbie em seu último suspiro, deu um beijo na cabecinha da criança e faleceu alguns instantes depois. Um vizinho que ali passava, o que era raro, ouviu o choro da criança e entrou na casa de Ebbie. Ele encontrou seu corpo e o bebê em seus braços e ficou sem reação. Ele achou perto delas um retrato antigo e ao pegar a criança, viu que o nome da menina deveria ser igual aquela moça presente no retrato. Ele a chamou de Joana...