T.O.C Sobrenatural - Parte 1
Bate o sinal do colégio, Manoel, aluno esforçado e estudioso, recolhe o seu material escolar calmamente, conferindo também abaixo de sua carteira, por algumas vezes. Com paciência de Jó, aguarda os estudantes a se retirarem da sala. A maioria deles causando algazarra nos corredores, como que extravasando uma energia represada numa manhã inteira.
Aos poucos, a escola se esvazia, o barulho cede espaço ao silêncio, pelo menos até o turno da tarde. Mais à vontade e longe da agitação, o rapaz espera a chegada do ônibus no ponto. Em pouco tempo, a condução surge na avenida trazendo muitos passageiros. Quando o coletivo estaciona, o jovem adentra ao interior do veículo.
Chegando em casa, no mesmo instante, sobe ao quarto, o uniforme dá lugar a uma vestimenta mais informal. De repente, sua mãe o chama para almoçar. Sem pensar duas vezes, desce ao andar inferior, com a intenção de saciar a fome.
No decorrer da tarde, o estudo entra em cena na rotina do garoto. Devido às provas já marcadas pelos professores, não há tempo a perder. E assim, o dia se vai, dando boas-vindas à noite que se instala soberana. Segue o jantar, e num piscar de olhos a hora de deitar.
Graças ao seu TOC ( Transtorno Obsessivo Compulsivo ) Manoel, retarda em muito, ao ato final de realmente se recolher. Ao escovar os dentes, abria e fechava a torneira várias vezes, escorria a pasta sobre a escova repetitivamente. Saindo do banheiro, retornava-o novamente para ter certeza se a luz estava apagada.
Na parte final, ao vestir o pijama, o cansaço pesava em suas costas, e ao mesmo tempo, sempre transmitia a falsa impressão do fim de sua maratona angustiante. Desta forma, ele padecia em silêncio com o seu transtorno.
Praticamente prostrado sobre a cama, do nada, desperta um desejo incontrolável de se levantar, uma emoção que o atormenta. Numa fixação sem limites, acendia e apagava a luz em seu aposento por uma, duas, três, quatro vezes. Em seguida, executava com as mãos o sinal da cruz, deitando-se novamente.
No entanto, o toc regressava, cada vez com mais intensidade, o ciclo se completava por várias vezes, como se não tivesse fim. Não satisfeito, invadia a cozinha para tomar um copo d'água, mesmo sem ter sede alguma. Em algumas noites, tamanha era a compulsão, que seus pais eram obrigados a aplicar-lhe uma bronca, pois, caso contrário, ninguém poderia descansar.
Desta maneira, noite após noite, madrugada após madrugada, o ritual tomava conta de sua mente. Em uma ocasião, quando todos estavam dormindo, chegou a ouvir passos dentro da residência, deixando a família em alvoroço, sendo duramente criticado pela atitude.