Invasão
Não gosto de escrever a noite, ainda mais sobre o que acontece enquanto durmo.
Mas as vezes é preciso contar...
Apago a luz e deito na cama....
Bem Vindo ao Pesadelo...
O frio do quarto parece não cessar com as cobertas e o edredom. A certeza de ser vigiado toma conta do corpo inteiro. Os músculos ameaçam cãibras de tensão e nem bem acabei de deitar.
Me encolho em posição fetal arfando ar pelos pulmões desesperados e escuto o bater de algo que parece uma marreta contra uma coluna estrutural da casa.
Tenho certeza que ninguém mais ouve esse barulho.
A luz de notificação do zap zap do celular é a única que vejo romper aquele buraco negro que virou meu quarto. E ela pisca em vermelho.
O sono toma conta e os olhos se esquecem de fechar. O corpo petrifica enquanto começam os sonhos noturnos.
A luzinha pisca.
Os pedaços de coberta começam a tomar vida e me causam uma estranha sensação, o frio parece ainda mais latente.
A luzinha pisca.
Envolto entre a fantasia e a realidade, tento acalmar minha respiração enquanto os olhos acompanham os sonhos lúcidos. - Ou pesadelos...
A luzinha pisca.
Com a respiração um pouco mais calma, ouço novamente o martelar na coluna da casa. Uma dose de medo extra percorre-me, tensionando ainda mais os músculos.
A luzinha pisca.
O barulho desperta um pouco meus sentidos e o pavor de saber que somente eu escuto aquilo realmente é desconcertante.
Os olhos piscam.
Vejo com maior nitidez um grupo de vermes comerem a gangrena que se forma em minha perna. Sinto-os romperem a carne podre abaixo do joelho direito.
A luzinha pisca.
Tento mover meus braços buscando afastar os vermes, mas a sonolência impede qualquer movimento. O frio torna ainda pior a sensação daqueles parasitas se alimentando da carne que restou de minha perna.
A marreta explode novamente tentando quebrar a pilastra da casa, e creio que não falta muito para que ela se rompa e eles infestem a casa inteira.
A luzinha pisca.
Outros insetos sobrevoam e pousam sobre meu corpo à cama enquanto observo.
Novamente o barulho se arremessa contra a casa, violando qualquer coisa que tentasse segurá-la de pé.
A luzinha não pisca mais!