QUANDO ELE MORREU
~Antes de ler~
Resolvi escreve este conto de acordo com os meus fatos reais que aconteceu pouco tempo atrás. Mudei um pouco as personagens mas no fundo é o que aconteceu comigo...ainda não reabilitei me bem desse trauma...ainda sinto falta dele...apesar nunca mais puder vê-lo.
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Lembro me bem do dia em que desmaiei no meio do intervalo da escola...
Tinha 15 anos quando tudo aconteceu.
Luzes, vozes, movimentos...tudo ficou em câmara lenta e depois simplesmente desapareceu.
Ouvi uma voz que tentava dizer me algo...mas estava demasiado profunda para eu puder distinguir aquilo que dizia...
Não sei quantas horas tinha dormido mas parece que já não sentia tontura, dor ou vozes.
Tudo estava silencioso, ate que abri os olhos.
A primeira coisa que vi foi um teto...um teto branco.
A luz que perturbava a minha visão vinha da janela, era suficientemente grande e eu conseguia ver a pequena paisagem que a preenchia.
Desviei o olhar e virei a cabeça para a direita...notei que era um quarto bem espaçoso mas sem quase moveis nenhuns...aparentava mesmo de um quarto de hospital...
A minha respiração paralisou quando eu reparei em alguém que estava deitado na cama a seguir da minha, o meu "companheiro" de quarto.
Não havia mais camas no quarto, apenas a minha e a dele...
Observei o com cuidado...ele também olhava para mim...
De repente ele fez um grande sorriso...ele era tão macio...branco... pálido mas por outro lado inocente.
Era um rapaz que aparentava ter a minha idade...mas muito diferente das outras pessoas que eu já tinha conhecido.
Os seus olhos estava quase sem cor mas notava se um tom avermelhado neles, o seu rosto era incrivelmente belo...e tinha um sorriso muito alegre, e o que mais destacava se nele era o seu cabelo...era cor de prata e explicitamente comprido que passava para lá dos ombros.Estavam muito bem penteados.
Mas parecia que ele tinha perdido qualquer cor no seu corpo...
Desde os seus olhos quase sem cor ate ao cabelo...e as sobrancelhas...tudo estava prateado...
-Então serás a minha nova colega de quarto...-Disse ele numa voz muito profunda e tranquila.
Eu quis responder lhe abrindo a boca mas alguém entrou de rompante no quarto.
-Elsa, querida...-Era minha mãe.
-Mãe...
-Vejo que está a sentir se melhor.-Um medico apareceu atrás da minha mãe.-Mas não se preocupe, era apenas anemia...como vejo não descansou nada durante algum tempo não é?-Observou ele.
-Eu..-Tentei dizer.
-Terá que ficar aqui ate recebermos os seus analises, senhorita.-Concluiu o medico sem me deixar falar.
-Ainda bem que não é nada de grave...nem imaginas como eu me preocupei...-Lamentou se a minha mãe.
Não disse nada, apenas limitei me a olhar de novo para o garoto...
-Bom, parece que tens de descansar o máximo agora. Vamos te deixar...-Avisou o medico.
A porta voltou a fechar e fiquei de novo sozinha com ele no quarto.
Ele ainda mantinha um belo sorriso no seu rosto.
-Humm...chamo me Elsa...e tu?-Perguntei insegura.
-William.-Respondeu ele calmamente.
Ele estava sentado na sua cama e a sua atenção estava para além do quarto...ele desviara o olhar de mim para a janela...
A sua expressão tinha entristecido.
-Esse medico é muito gentil, não demoras muito para saíres do hospital.-Avisou me ele, com um sorriso pálido.
-Humm...por mim eu me sinto muito bem...talvez...-Respondi...Aí me lembrei que ninguém jamais preocuparia comigo se eu estivesse no hospital ou saído dele...apenas a minha mãe...
De tantas vezes que mudava de escola não consegui ter um único amigo. Não me importava com essas coisas mas agora...tudo mudou.
Pelos vistos não tinha nada de grave mesmo. Talvez não tinha dormido e descansado bem durante estes últimos dias....só isso.
Perguntei me qual era a razão por William estar aqui....por quanto tempo ele permanecia no hospital?
O cenário era sempre o mesmo, quarto e William ambos brancos como neve, minha mãe a fazer visitas e o medico.
-Quando anos tens William?-Perguntei eu numa das tardes quando a mãe e o medico tinham feito a visita.
Era uma tarde quente e o sol batia na janela...
Ele olhou para mim e voltou a sorrir como sempre fazia...a sol tocava gentilmente o cabelo dele e de alguma forma ele parecia transparente...
-16 e tu?-Respondeu.
Pensei que tínhamos a mesma idade...
-15.-Respondi.
Os nossos olhares cruzaram se.
-Deve ser tedioso estar sempre preso aqui dentro do quarto...-Conclui
-Não.-Retorquiu ele.-Aqui tudo é muito interessante, muitas coisas para ver e muitas pessoas com quem falar.
Fiquei muito surpresa por ele dizer algo assim. Como assim um hospital podia ser interessante?
As horas passavam e nós continuamos lá no quarto.
Ele falava pouco mas sempre que dizia algo tentava ser o simpático possível.
Tanto fazia estar num hospital ou em casa onde, de manhã ir para escola e ser ignorada pelo resto do dia, semanas,meses...anos.
O meu primeiro dia no hospital acabou com a visita do medico e da minha mãe e na verdade muitos outros dias assim...
Fazia uma semana que estava no hospital, o medico dizia que as minhas analises tinham melhorado e daqui a alguns dias podia sair.
William e eu continuávamos a falar e percebi que ele ia abrindo se comigo cada vez mais.
Fomos autorizados a sair do nosso quarto, e William fez me uma "visita pelo hospital" explicando onde se situavam os gabinetes, laboratórios e morgues.
Perguntei me de novo como ele sabia tanto do hospital? A quanto tempo ficara ele aqui?
As enfermeiras sorriam sempre que nos viam e ele era simpáticos com todos.
A personalidade dele lembrava me um cristal puro e limpo...inocente...
Dávamos muitas voltas pelo hospital, ele contava me coisas....e riamos muito.
Para alguns podia parecer fútil, idiota, simples mas para mim era uma grande distracção e conseguia conhece-lo melhor.
Já passava de 2 dias que estava no hospital mas com ele o tempo parecia correr mais rápido e não houve um único dia em que ele me deixou sozinha até que numa manhã ele saiu antes mesmo eu ter acordado.
O medico veio me visitar por volta das 9:30 e não havia sinais de William.
-Humm...cadê o William?-Disse eu tentando parecer tranquila.
-Ah ele. Esta a acabar as analises dele.-Informou me.
Acalmei me um pouco.
-Não te preocupes tanto...ele ficará bem-Disse o medico e começou a dirigir se ate a saída.-Por mais algum tempo....
Não percebi o que ele quis dizer com isso.
Meia hora se passou quando ele tinha voltado.
A sua expressão tinha se alterado um pouco mas largou um enorme sorriso quando me viu.
-Creio que vou deixar o hospital daqui a alguns dias...-Informei o.
Era triste afirmar isso. Sim. Para ambos.
-Mas podemos manter o contacto fora do hospital.-Continuei.
-Creio que sim...afinal a vida está cheia de possibilidades...-Concluiu ele.
William não costuma utilizar essas expressões ou algo do género mas as suas palavras ainda estava na minha cabeça.
"Vida está cheia de possibilidades."
-Mesmo que algo aconteça, nunca devemos desistir ou chorar por alguém que se foi...-Acabou por dizer ele.
Não entendi por que razão William dizia isso tudo...Porque?
A tarde foi lenta e quente...Abrimos as janelas...e um ar abafado de Verão entrou.
Os próximos dias continuaram iguais, não entendia o porquê mas William passava muito tempo fora do quarto fazendo cada vez mais analises e voltava com uma expressão ora triste ora confusa.
Sempre que tentava levantar o assunto ele desviava com uma resposta curta e mudávamos assunto.
Até a uma noite do meu penúltimo dia no hospital.
Sairia na Segunda-feira e tudo estava acabado.
Não sabia o que mais dizer ao William mas sabia que voltaremos a encontrar fora do hospital, claro.
Mas hoje a noite William comportava se estranhamente.
Conversava muito mais do que normalmente fazíamos, aproveitei para dar lhe o meu contacto quando eu sair do hospital.
Pelos vistos ele tinha que permanecer mais algum tempo aqui.
-Elsa...posso te abraçar?-Perguntou inseguro antes que eu deitei para dormir.
-Ohh..-Eu fiquei muito surpresa.-Claro, claro que podes.
Ambos rimos e ele aproximou se de mim.
Cheira incrivelmente bem e antes que eu pudesse mover ou dizer algo ele apertou me contra si.Era um abraço muito forte e quente.
Nunca toquei-o antes...era uma sensação muito confortável.
-Obrigado...obrigado por tudo.-Desabafou ele...-Ainda vamos nos divertir muito.-Concluiu ele com uma gargalhada.
Olhei mais uma vez para ele e deitando se adormeci.
Ainda senti o batimento rápido do meu coração ate que cai no sono.
Não sei se sonhei com alguma coisa ou não mas diante dos meus olhos apareceu William...apenas olhando me...
Algo me perturbava, talvez um ruído ou murmúrio ate abri os olhos.
Levantei me bruscamente e reparei em duas pessoas, a minha mãe e o médico.
Desviei o olhar para a cama de William mas havia algo errado. Ela estava vazia, limpa e arranjada como se ninguem esteve lá.
Não entendia, o que é que se passava? Ele mudou de quarto?
-O William...??-Tentei perguntar.
Os dois se mexeram em minha direção e a mãe sentando se na cama pegou a minha mão.
Olharam para mim em silencio.
-Querida....humm...eu...-A mãe tentava encontrar as palavras...-Não sabíamos nada dele...mas disseram me que ele sofria de uma doença muito grave...e era altamente incurável...como um caso perdido...ele...ele...morreu.-Dizia ela e lágrimas saíram dos olhos dela.
Olhei para o medico perplexa...não podia ser verdade.
-É...sim, é verdade. Era um bom garoto mas infelizmente uma das doenças mais graves...cancro do sangue...ele permaneceu no hospital por volta de 2 anos. Fizes lhe uma otima companhia, e o interessante é que quando ele sentiu se mal à noite...antes que o levamos ele pediu para olhar te de novo -Explicou o medico.
Não me lembro de muito mas ouvi a minha própria voz gritando...em todos os cantos do hospital ouviu se a minha voz...
Creio que perdi a consciência pela 2 vezes...e durante os esforços dos médicos tentado me voltar à consciência, de novo luzes, vozes, ruídos...eu só pensava em uma coisa...
William foi se...era por isso que ele nunca levantava a conversa sobre a sua doença, analises...aquelas frases, o abraço..."a vida está cheia de possibilidades"...
Nunca quis sequer perguntar lhe a razão d'ele ficava tanto tempo no hospital porque era como se fosse pegar um floco de neve elegante e puro com as mãos nuas...ele ia derreter e desaparecer.
Mas não estava mais comigo...jamais estará comigo.
Ele foi a primeira pessoa com quem eu consegui falar ou ter amizade apropriada...ele foi uma pessoa tão diferente dos outros e tão bela.
William permaneceu tanto tempo num hospital e quando eu cheguei ele deve ter ficado feliz por ter companhia...era isso.
Ele era um puro e fino cristal que abriu a minha vida...
Mas William morreu deixando apenas a quente lembrança do grande abraço do Adeus...
Retornei à consciência e estava de novo no mesmo quarto.
Já não estava mais ninguém comigo.
Baixei me sobre o edredão e lágrimas frias caíram fazendo manchas...
Não vou mais chorar...porque ele disse me que não vale a pena.
Ele sera a mais preciosa lembrança que já tive ou vou ter...
William eu amo te, o meu boneco de neve pálido
William, irei sempre me lembrar de ti, não importa onde ou quando.
As tuas lembranças, conversas e aquele abraço serão para sempre felizes...
Fizeste me descobrir que um hospital é um lugar divertido.
Obrigada...