A GAROTA DO POSTO.

A festa acabará tarde da noite e Daniel estava muito longe de casa, os amigos com quem estava, haviam ido mais cedo, mas ele sempre querendo aproveitar o máximo possível, resolveu ficar, mesmo sem saber como retornar para sua casa, além do fato de estar um tanto quanto bêbado, pois tinha tomado todas.

Caminhou por ruas desertas do conjunto habitacional em que estava, sentiu um pouco de medo de sofrer um assalto, no entanto a bebida lhe dava mais coragem, depois de uns vinte minutos caminhando, chegou até um posto de gasolina que dava para a Av. Principal, resolveu ficar ali sentado esperando o ônibus que como lhe foi informado pelo frentista, só voltaria a circular as 4:00 da manha, ou seja, ainda faltava uma hora e meia.

Ficou sentado esperando no batente de uma calçada, enquanto isso ficava pensando em sua vida, no quanto tinha sido um inútil até o presente momento. Contava 30 anos de idade e seu trabalho até que lhe rendia um bom dinheiro, no entanto só queria saber festas, de se drogar e mulheres para transar, não se importava com os outros e só lhe interessava seu umbigo, ao contrario de ajudar, sempre que podia, infernizava a vida alheia. Porem de uns tempos para cá, algo tem lhe incomodado deverás, apesar de não ser consumido pelo remorso, passou a lembrar-se constantemente de um atropelamento que havia cometido, em uma noite de muita bebedeira, atropelou duas pessoas que estavam em uma moto, saiu fugido sem prestar socorro, sem nem ao menos querer saber se morreram ou não.

Absorto em seus pensamentos, sem perceber, nem notou a aproximação de uma jovem garota, deveria ter por volta de uns 18 anos, cabelos castanhos, olhos penetrantes e dona de um sorriso enigmático. Daniel ficou esperto quase que imediatamente, pensou de cara: - Nossa que garota bonita, hoje vou me dar bem, ainda bem que resolvi ficar até o fim da festa. Ajeitou o cabelo, postou-se de forma máscula e resolveu aproximar-se da bela desconhecida, perguntou seu nome e ela prontamente respondeu que chama-se Isabela e que estava em uma festa e tinha perdido a hora e iria esperar por um mototáxi que viria busca-la, ela disse morar no Bairro do Guamá, aquilo soou como uma sinfonia nos ouvidos de Daniel, pois ele também morava no bairro do Guamá, começaram a conversar e Isabela disse que ele poderia ir com ela, desde é claro, que dividisse a corrida com ela, o danado topou na hora e ficou bastante excitado com a possibilidade de terminar a noite com aquela gata em sua cama.

Passados uns 40 minutos, eis que surge o motoqueiro que que ela esperava, ela apresentou-o como Walter e que era um amigo que sempre fazia essas corridas para ela. Subiram na moto e seguiram caminho, a moto percorria célere por entre as avenidas solitárias da capital Paraense, Daniel colava seu corpo ao da bela garota, que parecia empinar cada vez mais o bumbum, quando sentia as investidas do sacana. Meia hora depois estavam no coração do Guamá, próximo a um cemitério chamado Santa Isabel, Isabela, disse morar na rua que ficava atrás do mesmo e que se Daniel estivesse interessado poderiam amanhecer o dia juntos, é claro que nosso amigo topou e assim ficaram na porta de uma casa. As caricias começaram a acontecer e Daniel se empolgava cada vez mais com a situação, já havia retirado a blusa da garota e agora sugava-lhe os seis com avidez, ela parecia estar tomada pela volúpia, no momento que Daniel acabará de começar a penetração, eis que surge Walter, o motoqueiro, que sem dizer coisa alguma, aplica-lhe uma facada certeira em suas costas, Daniel tenta fugir porem, Isabela passa-lhe uma rasteira e ele cai, em seguida Walter investe novamente contra ele com uma outra facada que dessa vez perfura-lhe o estômago.

Daniel pede para ele parar e pergunta o porquê de estar acontecendo aquilo, Walter lhe responde em tom sarcástico: - Desgraçado, você lembra da garota e do rapaz que atropelou, pois eu e Isabela, somos irmãos deles e fique você sabendo que ambos estão mortos por sua culpa, por não terem recebido o socorro a tempo. Nesse ínterim Daniel tem novamente os flashes dos acontecimentos e começa a chorar arrependido, mas agora é tarde demais para isso, Walter aplica-lhe uma facada derradeira em seu coração que tira sua vida de uma vez por todas.

No instante seguinte, Daniel sente sua alma deixando o invólucro carnal e fica desesperado, no entanto seu horror torna-se maior ainda, quando a sua frente surgem o rapaz e a moça mortos atropelados, ambos tinham o corpo dilacerado, pois haviam sido arrastados pelo carro que Daniel dirigia, por mais de 25 metros. Suas aparências eram horripilantes, o rapaz caminhou até ele e o prendeu sobre uma moto e a garota sentou logo atrás dele, enquanto o motoqueiro fantasma pilotava a moto, a garota ia empurrando as mãos por dentro da barriga de Daniel que sentia suas tripas serem dilaceradas por unhas que pareciam de aço.

Agora, Daniel estava numa viagem sem volta, numa viagem que embarcam todos aqueles que tem o egoísmo como marca em seus corações, uma viagem com parada única...no inferno.

Muitos dizem que por volta do amanhecer, sempre escutam gritos de dor e desespero e que logo em seguida ouvem o barulho estranho de uma moto sumindo a distância, no entanto, não dão muita atenção ao fato, pois afinal de contas, motos, mulheres, loucos e mortes, são uma constante em uma cidade repleta de almas apodrecidas no egoísmo.

Tony Monteiro
Enviado por Tony Monteiro em 17/05/2014
Código do texto: T4810402
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