Acusado

Dia movimentado em uma delegacia de polícia. Um sujeito entra e se aproxima do balcão. Diz ao atendente que precisa ser detido. O policial sem compreender, pede explicações. O homem informa que matou algumas pessoas e que precisa ser preso por isso. Outros policiais são acionados. O suspeito é algemado e encaminhado para uma sala. Lá ele comenta que cometeu assassinatos e está disposto a levar os policiais até o local. Alega que precisa ficar preso ou irá cometer mais crimes. A delegacia aciona outros distritos policiais, bombeiros, ambulâncias, especialistas em perícia, necropsia e todo aparato que uma investigação desse tipo merece. As mãos do suspeito sujas de sangue que ele alega ser de suas vítimas. Uma carreata de viaturas segue para o local indicado. Demoram para chegar em uma localidade distante da cidade, onde são obrigados a passar por estradas de chão. O lugar é de difícil acesso. Ao chegar, se deparam com uma casa velha e barracões próximos. Retiram o sujeito da viatura e caminham atrás dele, com arma em punho.

Ao entrar na residência, um cheiro horrível de podre. Sabiam que indicava probabilidade de cadáver. Ao chegarem na sala, o corpo de uma mulher, com a cabeça separada do tronco e deixada sobre uma poltrona. O rádio comunica a central e pede reforços, já que havia sido confirmado o crime. Caminham até a cozinha. Ao abrirem a geladeira, se deparam com pedaços de corpos deixados para refrigerar, no congelador a cena se repetia. O sangue fazia parte da decoração da casa. em todos os cômodos haviam manchas de sangue. Algumas manchas mais escuras devido ao tempo que estavam ali. O morador não se importava em limpar a casa. O aroma fez embrulhar o estômago de vários policias, que precisaram recuar para se recompor. Continuaram a seguir o suspeito, que os levou até um dos quartos. Lá havia um casal, baleado e estripado. O corpo de uma criança se encontrava embaixo de uma das camas, com marcas de asfixia. Um cão fora pregado na parede, feito uma espécie macabra de souvenir.

No quintal encontraram pessoas empaladas. Animais de pequeno porte, como galinhas e gatos apodreciam mortos em volta das estacas. Um bezerro e algumas cabras também compunham essa espécie de holocausto. Foi indicado um local onde havia enterrado corpos. Ao todo foram encontradas vinte covas, algumas com corpos em estado recente de decomposição. Adultos, idosos, jovens, crianças, animais. Nada havia sido poupado. Dois caixões foram encontrados em um dos barracões, com corpos dentro deles. No segundo barracão o espetáculo era ainda mais brutal, com corpos pendurados por ganchos. O suspeito apontava os locais, dizia como havia executado cada uma das vítimas e não expressava nenhum tipo de remorso. Questionado sobre estupros, disse jamais ter violado dessa forma qualquer das vítimas. Afirmou que os corpos encontrados na geladeira eram para o seu próprio consumo. As vítimas eram atraídas em estradas que ficavam nas imediações e ali ficavam a mercê de um sujeito violento e com força descomunal.

Discos de vinil foram encontrados próximos a uma vitrola. O suspeito gostava de boa música, segundo ele. Uma discreta biblioteca estava a seu dispor dentro da moradia. Chegaram mais peritos e membros da imprensa. Antes de ser levado para a delegacia, disse ter mais um local onde deveria levar os policiais. A caravana seguiu o trajeto indicado pelo assassino. Agora estavam bem no centro de uma movimentada metrópole, onde pararam em frente e um prédio abandonado, que estava, há bastante tempo, sendo ofertado, com uma placa de aluga-se em frente. dentro, foram guiados a uma parte subterrânea do edifício, constatando um horror ainda maior. Dezenas de vítimas, mortas de diversas maneiras, algumas trucidadas com o animal de estimação. Eram abordadas nas proximidades do edifício ou possíveis interessados em alugar o local. O assassino foi quase linchado em seu julgamento. A população estava indignada. Muitas vítimas faziam parte de uma lista de desaparecidos que há anos circulava pelo país. Foi sentenciado a uma pena enorme, reduzida aos trinta anos que a lei brasileira determina e podendo ser reduzida por bom comportamento e por ser réu primário. Acabou sendo transferido para uma instituição de tratamento mental, com intuito de ser esquecido ali dentro. Outras mortes ocorreram no período em que ficou internado, sendo mantido em uma solitária por tempo indeterminado, conseguindo escapar do cárcere por conta da displicência de funcionários. Passou a viver em uma floresta, caçando animais para se alimentar e o mais afastado possível dos lugares com circulação humana. Mas as pessoas adoram aventuras e vez o outra alguém se perdia naquele território que “o monstro”, como ficou conhecido, frequentava.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 22/01/2014
Código do texto: T4660682
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