Ruan Castro

Ruan, um menino saudável e bem disposto, como atestavam seus familiares. Passou uma infância tranqüilo e feliz, como os garotos pobres de sua idade, que viviam em um bairro considerado pacífico. Um fato marcara sua infância e que acarretou no fim da sua inocência. O pequeno fora estuprado pelo próprio pai. Deixado em casa, enquanto a mãe saía para trabalhar. Aos cuidados do pai, alcoólatra, costumava sofrer agressões e suas lamentações eram contidas sob ameaças. No meio de uma daquelas semanas infernais, ocorreu o ato. O pai desde pequeno era indiferente ou agressivo. Mas a mãe mantinha-se afetuosa, até morrer devido a um câncer. A madrasta, com que o pai se casara novamente, se preocupava mais em sustentar a casa e os seus outros filhos. O garoto acabou sendo agredido, tendo suas calças arriadas e sentindo o pai lhe penetrar. A dor no coração foi maior do que a do ânus. Chorou e defecou com sangue por alguns dias. Os estupros se repetiram. Um dia a madrasta flagrou o ato e abandonou o sujeito, mas sem denunciá-lo. Desejava apenas afastar seus filhos de quem poderia lhes fazer mal.

O menino cresceu sendo violentado. O pai não conseguira outra companheira e as crises de bebedeira aumentavam na mesma proporção que as dívidas. Um dia conseguiu imobilizar o pai, que estava desmaiado por conta da bebida. Deixou o sujeito nu, que acordou espantado, embora ainda estivesse alterado pelo álcool. Com uma tesoura de jardinagem, que guardavam no quarto de ferramentas, castrou o pai, deixando morrer de hemorragia. Saiu de casa e não mais voltou, ganhando a estrada. O corpo foi encontrado e a polícia tentou localizar o garoto, que já estava longe. Sem identidade e com nada que pudesse ser localizado, já que destruiu seus documentos. Conseguiu se abrigar em uma casa de fazenda, trabalhando como retirante em um canavial. Dormia junto com outros trabalhadores. Em uma noite, se embrenhou pelo matagal e com o facão de corte, cortou seu próprio membro. Não desejava que aquele objeto maldito também fizesse mal a outras pessoas. Associava o órgão à maldade sofrida durante anos.

Algumas moças se interessaram por ele, mas procurava evitar contatos mais íntimos. No dia que se castrou, conseguiu estancar o ferimento e aplicou, por dias, folhagem e remédios que comprara na farmácia da cidade. Um dia, passando mal, foi levado ao hospital. Comentou que havia sido picado por uma cobra no órgão e que cortara para evitar o efeito do veneno. Que ficara envergonhado e relatar o fato. Acabou recebendo tratamento adequado. Os donos da fazenda foram comunicados, mas mantiveram segredo, não apenas para zelar pela integridade do empregado, mas para garantir, em um momento que ele tentasse alguma insubordinação, ter algo que abalaria sua coragem, por poder fazer com que outros conhecessem seu estado. Em uma noite levou numa surra de outros empregados, que acharam que tivesse regalias. Em uma madrugada de festa, onde as pessoas exageraram na bebida, aprisionou os homens e deixou as mulheres trancafiadas em um cômodo. Cada homem, devidamente amarrado, inclusive os patrões. Castrou cada um deles, com sua foice sem cabo, deixando-os ali mesmo.

A chave do lugar foi entregue a uma mulher, que admirava e ganhou a estrada. A mulher, que era uma das trabalhadoras, ficou escandalizada ao ver o espetáculo de homens castrados. Todos amarrados e jorrando sangue, com os órgãos jogados no solo. A polícia foi acionada e conseguiu encontrar Ruan na estrada de terra. Foi encaminhado a justiça, mantido preso em cela separada. O julgamento não demorou. Logo descobriram o assassinato do próprio pai. Diziam que ficaria internado ali, até a época de ser levado para um manicômio judiciário. Especialistas argumentaram sobre seus traumas, mãos ninguém ousou defendê-lo diante dos tribunais. Dentro da cadeia, no banho de sol, havia castrado mais dos presos, utilizando uma lâmina de gilete. Eram estupradores que chegaram e resolveram aplicar a lei da cadeia. Sabiam do caso do rapaz e ele se tornou um líder dentro do sistema carcerário. Na rebelião ocorrida, foi ele quem castrou dois carcereiros e nove presos que depois foram esfaqueados e degolados por membros de outra facção. Líderes do crime organizado simpatizaram com o rapaz e por isso ele não era assassinado dentro do presídio.

Foi transferido para o manicômio judiciário. Devido a seu alto grau de periculosidade, era mantido longe dos outros internos. Ficava em uma solitária e entre os guardas, escolhiam as mulheres para atendê-lo, com comida, roupa e outras necessidades. Ficou internado por anos, até que foi ressocializado. De volta á sociedade, com uma pequena renda recebida do governo, morava em uma casa afastada da cidade. Cultivava plantas e se alimentava do que produzia em sua horta. De tempos em tempos recebia visitas de monitores, que verificavam se continuava tranquilo. Em uma ocasião, um homem foi enviado, para testar se conseguiria se relacionar. O enviado foi precavido a respeito do comportamento do paciente assistido. A conversa transcorria normalmente, quando recebeu uma pancada na cabeça. Com uma faca de pão, cortou o membro do sujeito ainda desmaiado, que horas depois, levado ao hospital, não resistiu e faleceu.

Uma caçada se iniciou atrás do acusado. Que conseguiu um menino como refém. O negociador o convenceu a largar a criança, dizendo que era inocente como ele fora antes dos abusos. Mas o negociador ficou no local da criança libertada. A calça do negociador foi aberta e o membro exposto. Com uma afiada faca, decepou o órgão do policial. Ruan recebeu diversos disparos, caindo mortalmente ferido dentro daquele barracão em que se encontravam. Caso encerrado. A imprensa alvoroçada e a polícia fazendo as últimas perícias. O corpo de Ruan foi transportado pelo carro do IML, dentro de um saco de corpos preto. Horas mais tarde, um acidente na estrada, o resgate foi comunicado e em seguida chegaram os policiais. O carro do IML havia saído da estrada. Encontraram o motorista e seu auxiliar, mortos e castrados. O corpo do de Ruan jamais foi encontrado. Casos de pessoas castradas apareceram posteriormente na região. Testemunhas relatam a presença de um homem com barba por fazer e olhar vago, com uma descrição física que se enquadra na do ex-interno e detento do manicômio judiciário. Os homens sentem um terror indescritível diante do que consideram “uma lenda urbana”. Por via das dúvidas, procuram não se embrenhar em locais muito afastados e nem perambular de noite em lugares ermos.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 22/01/2014
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