Ei filho, você está seguro aqui.

– Josh Daughtry. – Se apresentou ao senhor Phill. Josh não era um rapaz dos mais vigorosos. Magro de canelas finas, pele branca e cabelos castanhos, desgrenhados. Tinha os olhos negros e o sorriso no rosto era algo que o acompanhava a todo o tempo. Iria fazer 18 anos naquele ano, e aquele seria seu primeiro emprego.

– Phill Burns – Cumprimentou-o Phill, com um aperto de mão firme. Ele era um homem robusto e com um bigode que lhe causava orgulho. O porte físico já não era dos melhores, uma barriga mais do que protuberante forçava os botões da camisa de flanela e a calça já começava a ficar apertada nas coxas. O chapéu na cabeça era de lei. Era um homem de duras feições e cabeça calva, coberta sempre pelo chapéu. Podia se dizer que era um homem muito rígido, porém de boa índole. Até certo ponto.

– Ouvi dizer que o senhor tá precisando de gente pra tomar conta do milharal. – disse Josh, suas mãos um pouco frágeis ainda latejavam, devido ao forte aperto de mão. Estavam em frente ao portão onde começava a propriedade de Phill.

– Estou sim, e já soube pelo Velho Jay que você tá querendo o emprego. – adiantando-se à frente, Phill caminhou em direção à estradinha que cortava o milharal, e fez um sinal com as mãos para que Josh o seguisse. – O trabalho aqui é pouca coisa. Você só vai precisar vigiar pela noite. De dia quem cuida é o Steve Johnson.

– O senhor tem tido muitos problemas por aqui? Ouvi dizer que nessa época existem muitos corvos.

– Os corvos são o de menos. - respondeu Phill - Vê aquelas madeiras saindo do meio do milharal? - Josh fez um aceno positivo com a cabeça. - Tem em tudo quanto é lugar pelo milharal afora. Mandei tirar os espantalhos hoje, pra poder remendar os buracos que os malditos corvos fazem neles, até de noite já tá tudo no lugar de novo.

– Entendo. Então quais são seus problemas, exatamente? – perguntou Josh

– São os moleques da fazenda do O'Conner. Aquelas pestes adoram vir aqui roubar meu milho. E ficar fazendo adoração ao diabo dentro do meu milharal.

– Adoração ao diabo? Credo em cruz! – perguntou Josh, incrédulo.

– Isso mesmo. Um dia desses o Steve estava’ andando pra aqueles lados e encontrou uma estrela demoníaca no chão com uma cabeça de boi em cada ponta. E eles ainda fazem um maldito círculo na minha plantação. Onde eles fazem isso não cresce mais nada! Esses desgraçados não sabem com o que estão se metendo. Deus que me livre!

– Amém! Mas o senhor não fez nada a respeito? – indagou Josh – Por que o senhor ainda não falou com o senhor O'Conner?

– E adianta? Acho que ele também está no meio dessa blasfêmia. Aquele velho caduco diz que os netos dele não fazem nada. Um dia eu ainda vou mandar chumbo no rabo daqueles malditos. Vou mandar eles de mala e cuia pro quinto dos infernos.

– E falando em mandar chumbo, senhor. Eu vou trabalhar com alguma arma?

– É claro que não! Já to de saco cheio do xerife ficar na minha cola por causa do comércio do meu milho, não quero que você mate um daqueles merdinhas e acabe sobrando pra mim.

– Como eu vou espantar eles daqui então, senhor? – quis saber Josh.

– Só precisa fazer barulho que eles correm. Não tem por que ter medo desses merdinhas não. Eles não farão nada com você. – respondeu Phill, dando uma pequena gargalhada. – O demônio tá com eles, mas Deus é com você.

Este conto faz parte do conto "Gritos Afogados Por Uma Noite Sem Estrelas", caso queira acompanhar o desenvolvimento da história, continue visitando minha página. E caso a história se desenvolva de uma forma que me agrade, eu a transformarei em um conto só, ou uma crônica.