Os Manequins
A loja estava sempre bombando de gente, uma loja de departamentos sem igual, Antonio costumava dizer que vendia do feijão ao avião, eram muitos produtos e de extrema qualidade, localizado no bairro Central, o Empório dos Magos, era uma referencia para toda a cidade. Antonio seu dono contava 44 anos e desde jovem, sempre teve muito tino para os negócios, ainda moleque, saia pela rua vendendo o que pedia de usados nas casas das pessoas, depois conseguiu um emprego onde rapidamente de vendedor,passou para gerente e anos mais tarde era sócio de Marcelo, no entanto sua ambição era muito grande e passados mais alguns anos, pode comprar a parte de Marcelo, que cansado do comercio, preferiu uma vida mais tranquila no campo, se bem que alguns meses antes da compra definitiva, ele passou a ficar diferente, seu sorriso sempre aberto, agora aparentava um ar sombrio e carregado de tristeza, era como se algo o estivesse preocupando, no entanto sua relação com Antonio, parecia estar mais sólida do que nunca e ele o atendia com mais presteza, passou a tratá-lo como um irmão, aquilo era um pouco estranho aos olhos de Mauro, um supervisor muito antigo na loja, desde os tempos do pai de Marcelo, onde apesar de Marcelo sempre tratar com cordialidade todos os seus funcionários, ele sempre teve um pé atrás com Antonio e o mesmo só havia se tornado seu sócio pelo fato dele estar passando por um período um tanto quanto complicado em termos de finanças.Marcelo enfim afastou-se e Antonio se consolidou como único e verdadeiro dono do Empório.
Anos se passaram e a avidez de Antonio, só aumentava, sempre cuidadoso e a frente dos negócios, ele não descuidava da supervisão, por sua loja ser muito frequentada, sempre ocorriam roubos, principalmente no setor de roupas e as pessoas no inicio eram levadas diretamente para a delegacia, assim que eram pegas roubando, no entanto, Antonio pediu aos seguranças, levarem as pessoas para conversarem com ele e assim foi feito.
O tempo correu e a loja passou a ter uma nova sensação, os manequins da loja, agora tinham um ar perfeitamente igual à de pessoas humanas, seus olhos pareciam sempre estar nos acompanhando e suas mãos e braços, eram perfeitos, na verdade pareciam pessoas de verdade, as pessoas chegavam a pensar que eram de verdade e muitas mulheres e homens sempre comentavam em tom de brincadeira: - eu me casaria com esse manequim! Era interessante perceber que nessas horas os manequins pareciam querer dizer alguma coisa, no entanto apesar de impressionadas, as pessoas seguiam com suas vidas sem dar maior atenção. Com isso, a loja ficou cada vez mais famosa e Antonio promoveu uma exposição de roupas finas, utilizando esses manequins, foi uma loucura, ele vendeu todo seu estoque e seu sorriso de satisfação, transparecia para todos. Mauro ficou intrigado desde o primeiro instante, onde Antonio estaria comprando esses manequins, de qual fornecedor? O velho Mauro não se conformava, pois sabia que algo estava errado, sendo assim, passou a ficar mais atento aos movimentos de Antonio.
Certo dia, uma jovem de uns 17 anos, foi pega roubando a loja, ela havia retirado alguns biquínis e os colocado em sua bolsa, como de costume os seguranças a levaram para falar com Antonio, Mauro ficou observando a garota entrar na sala e alguns minutos depois ela saiu tranquilamente, mas ela parecia não ter mais atenção para nada e parecia murmurar pequenas frases desconexas que pareciam uma oração, Mauro achou muito estranho, mas o que poderia estar acontecendo? Ele largou o serviço e resolveu ir atrás da moça, a seguiu ate sua casa e ficou a olhando pela janela, ela agia estranhamente, falou com a mãe e resolveu sair de novo, dessa vez ela levava uma mochila que indicava ter peças de roupas. A garota chamava-se Geisa era uma boa menina, mas um tanto quanto desvirtuada, só pensava em futilidades, como andar sempre bem vestida, isso a havia feito roubar em diversas lojas da região, nunca havia sido pega até aquela ocasião. Ela apanhou um ônibus e desceu em um bairro afastado, havia um carro esperando por ela e Mauro percebeu tratar-se do carro de Antonio, a garota entrou e eles seguiram até algumas ruas adiante, onde entraram em um grande galpão. Lá chegando, sem perder muito tempo, Antonio fez com que Geisa deita-se sobre uma maca hospitalar e a garota hipnotizada desfaleceu, Antonio começou a proferir uma oração estranha e começaram a surgir do nada, sombras perturbadoras que começaram a flutuar por sobre o corpo de Geisa, Antonio injetou uma seringa no corpo da garota e sua pele parecia estar se petrificando, como por mágica, seu corpo agora tinha a aparência de um boneco, um manequim, ele então, carregou o corpo até seu carro e seguiu para a loja. Mauro assistiu aquilo tudo bestificado, seu sangue gelou de pavor e ele não sabia o que fazer, estava atônito, sua mente não podia parar de pensar naquilo, ao mesmo tempo que sentia pena da moça, sentia um ódio maior por Antonio e por sua monstruosidade, que o fazia cometer aquele ato insano e sobrenatural.
Mauro ficou atordoado e no dia seguinte resolveu procurar por Antonio e exigir-lhe uma explicação, ao chegar o fim do expediente na loja, entrou no gabinete de Antonio e falou tudo de uma vez: - Eu vi o que você fez com aquela garota que foi pega roubando na loja, eu sei de tudo seu assassino! Antonio ficou atordoado e sem pensar, partiu para cima de Mauro que velho e cansado, não pode esboçar uma reação a altura, ele derrubou o pobre velho e foi enfiando um pequeno punhal no coração de Mauro, que morreu instantaneamente, sua alma atordoada, deixou seu corpo e em revolta, ficou vagando durante vários meses próximos a Antonio.
Com a ajuda de Renato, seu fiel guarda-costas e cúmplice, eles deram sumiço no corpo de Mauro, que nunca foi encontrado pois eles haviam cortado em pequenos pedaços e distribuíram para os cães que deliciaram-se com o banquete do pobre Mauro.
Nesse ínterim, Antonio Continuava com suas feitiçarias e ficava cada vez mais rico, pois todos aqueles que de alguma forma se opunham a ele, acabavam por perecer de maneira estranha e súbita. O espírito de Mauro, depois de tanto vagar em desespero, consumido por sua revolta, começou a participar de encontros com outros espíritos em cidades da zonas infernais, lá esses espíritos aprendiam a vingarem-se daqueles que lhes fizeram mal, daí Mauro aprendeu que poderia destruir Antonio, comprometido com um grupo de espíritos que lhe ajudariam em sua vingança e ele por sua vez faria o mesmo pelos outros, partiram ao encontro de Antonio, que começou a ter visões de Mauro, mais isso não o incomodava, pois Antonio sempre andava acompanhado por seus guias, que eram fortes demônios que sabiam como afastar os inimigos inconformados. Desta feita, Mauro teve que aguardar e num momento de descuido de Antonio durante o sono e quando seu espírito vagava por entre as trevas para encontrar-se com os de sua espécie, Mauro e seus comparsas, conseguiram capturá-lo e ao fazerem isso, Mauro falou para Antonio: Agora seu desgraçado, vamos dar a você, um pouco de seu remédio!
Feito isso levaram o espírito de Antonio até um lugar das profundezas infernais e fizeram com ele o mesmo feitiço que ele fazia com as pobres pessoas que cruzaram seu caminho, transformaram-no em um Manequim.
Mauro tomou o corpo de Antonio e no mesmo dia, foi buscar o manequim que continha o espírito de Antonio e o colocou bem na entrada da loja, porem diferente dos outros manequins, Antonio tinha em seu semblante um ar enraivecido que deixava as pessoas intrigadas e que sempre comentavam uma com as outras: - Esse manequim parece estar espumando de ódio, e saiam rindo, e também um pouco assustadas. Mal elas sabiam que aprisionado naquele boneco inerte, jazia o espírito de um verdadeiro demônio que em vida, só soube fazer o mal.