O espectro no espelho
O dedo lúgubre da depressão finalmente tomou posse da mente.
O que antes era tristeza passou a ter o peso plúmbeo de quem esperava pela morte.
Ele se contorceu no escuro e tocou as escaras pegajosas.
Há muito esquecera o dia.
Há tanto ansiava pelo fim.
Um dia foi criança, um dia sonhou, no outro... tinha mil anos.
Sem forças, sem vontade, sem qualquer explicação.
O espelho velho na parede suja mostrava sempre um espectro sem vida.
Não se reconhecia.
Criatura disforme, de olhos vazios, crânio gorduroso e boca caída.
Um fantasma que o atormentava nas trevas do dia.
Quis espantar a coisa que o fitava. Não conseguiu.
Um repuxo no rosto diabólico no espelho lembrou um sorriso de escárnio.
Resignado, procurou a solução.
A criatura no espelho faiscou.
No escuro pesado do quarto de morrer, desistiu de tentar.
Há muito abandonara Deus.
O espectro no espelho o olhava atento.
Um disparo.
O quarto ficou sujo.
A rua em silêncio.
No espelho, o espectro sorria maliciosamente.
Conseguira mais um.
"Baseado em um primo querido que tinha medo de espectros morando em espelhos"