O espectro no espelho
 

O dedo lúgubre da depressão finalmente tomou posse da mente.
O que antes era tristeza passou a ter o peso plúmbeo de quem esperava pela morte.
Ele se contorceu no escuro e tocou as escaras pegajosas.
Há muito esquecera o dia.
Há tanto ansiava pelo fim.
Um dia foi criança, um dia sonhou, no outro... tinha mil anos.
Sem forças, sem vontade, sem qualquer explicação.
O espelho velho na parede suja mostrava sempre um espectro sem vida.
Não se reconhecia.
Criatura disforme, de olhos vazios, crânio gorduroso e boca caída.
Um fantasma que o atormentava nas trevas do dia.
Quis espantar a coisa que o fitava. Não conseguiu.
Um repuxo no rosto diabólico no espelho lembrou um sorriso de escárnio.
Resignado, procurou a solução.
A criatura no espelho faiscou.
No escuro pesado do quarto de morrer, desistiu de tentar.
Há muito abandonara Deus.
O espectro no espelho o olhava atento.
Um disparo.
O quarto ficou sujo.
A rua em silêncio.
No espelho, o espectro sorria maliciosamente.
Conseguira mais um.

"Baseado em um primo querido que tinha medo de espectros morando em espelhos"

 
Edeni Mendes da Rocha
Enviado por Edeni Mendes da Rocha em 06/08/2013
Reeditado em 06/08/2013
Código do texto: T4421940
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