O rumo da busca
Naquele final de semana, eu agiria de novo. Já estava tudo preparado e eu ia ao encontro do calhorda. Mas eu não iria matar na hora, eu precisava extrair informação dele. Afinal, minhas últimas limpezas tem sido inúteis – mato um aqui, dias depois mato um outro qualquer ali, se eu não montar uma rede criminosa eu nunca conseguirei pescar muitos peixes, e cansa matar pouca gente em muita viagem. Além disso, consome muita gasolina, e isso é ruim.
Liguei para o cuzão na quarta e disse para ele que queria que ele eliminasse “uma vagabunda que está me dando nos nervos.” Desta vez eu saí com o Escort, que não ficava muito atrás do Opala, mas vestida para balada, e não para guerra. Uma minissaia, salto alto e uma regata decotada – simplesmente aguardei em frente à casa noturna Tebas. Filmou? Eu era o alvo.
-É morena, cabelo na cintura, pernas grossas, é meio fortinha. É horrorosa. Parece um monstro, tem uma bunda gigante e forte. Tem olhos azuis e lábios carnudos, peitos grandes. Ela fica dando em cima do meu namorado, eu não aguento mais, dê um jeito, eu acho que ele vai trocar ela por mim, e...
-Eu não preciso dos seus motivos. Só me diga onde encontrar e o local de encontro para você me dar o dinheiro, que você verá no dia seguinte o nome dela no obituário...
O clube era movimentado, e eu sabia que ele era matador barato. Não me pegaria com armas de precisão tampouco nada elaborado. Para me matar, ele precisaria chegar perto, e se chegasse perto, seria visto. Minha saia era curtinha, mas a dele era mais. Eu não sabia a cara dele, ninguém sabe. Eu disse que deixaria o dinheiro dentro de um bueiro, só que eu fui mais rápida. Eu parei longe e vi-o abrindo a tampa. O dinheiro estava bonitinho, contadinho. Era só ele concluir o serviço. Mas eu queria complicar a vida dele.
Eu estava bem em frente à porta do clube, virada para a rua, fumando. Eu odeio fumar, mas eu precisava para garantir minha discrição. Eu notei que ele não chegaria, mas eu não podia vê-lo. Sabia que estava sendo observada, e a minha estratégia foi um erro. Se eu não saísse dali, ele provavelmente iria embora, me dando o calote. E muito provavelmente me mataria quando eu não estivesse esperando, agora que sabe meu rosto. Bem, eu posso ser inteligente, mas também cometemos erros!
Fui até o Escort e fiquei encostada na porta, fumando para o alto. A rua era desértica e eu estava de olho. De repente, eu vi uma pessoa vindo na minha direção, mas eu não tinha certeza se era ele, eu não podia atirar. Se eu matasse qualquer um que não fosse assassino, eu me mataria logo após. O que me fez perceber que era ele era o jeito manco – eu notei no momento do bueiro. Foi só sacar a arma. Ele percebeu e parou. Sacou a dele, foi quando dois disparos foram ouvidos, super à lá velho oeste. Ele me arrancou um pedaço, mas caiu no chão. Eu não erro, mas ele me acertou! O retrovisor do meu lindo Escort! Acertar os meus carros é o mesmo que me acertar! Dei um tratamento especial para ele, chegando em casa.
Mas antes eu fui até ele. Lentamente, guardei a arma e, desfilando para dar ao pobre demônio uma boa visão antes de morrer, comecei a falar:
-Você não é profissional, você é muito fraco. E ainda ganha dinheiro com isso, que patético...
-Cala essa boca... Me mate logo... Estava fedendo a armadilha mesmo...
Atirei nas duas mãos do matador para que ele não tentasse nada. Afinal, mesmo acertado, ainda estava em condições de reagir. Sofreu, mas em silêncio – o silêncio espartano, isso sim era legal. Pelo menos, o vigor de um soldado tinha, só era ruim de briga. Coitado, teria dado um bom rebelde nos anos seguintes. Peguei o dinheiro de volta, e o arrastei até o escapamento do carro. Liguei o motor.
-Você está vendo essa fuligem aqui? Isso é a fumaça, produzida pela combustão incompleta que os nossos motores ineficientes se utiliza. Aqui tem monóxido de carbono, altamente tóxico, e você vai, agora, me dizer com quem você trabalha, senão você vai respirar esse gás como se estivesse fumando.
-Não seja burra, eu sou um assassino profissional, eu trabalho sozinho, e preciso, é perigoso.
Levantei sua cabeça e coloquei-a diante da saída de gás. Eu vi que ele estava prendendo a respiração.
-Você não pode segurar para sempre. Morrer intoxicado é chato, eu sei como é.
Depois de dois minutos, o que eu achei impressionante, ele teve de soltar e respirar bufando. Mas começou a tossir, e lentamente ia ficando fraco... depois de 15 segundos respirando gases tóxicos, eu o soltei. Estava pálido, mas o rosto enegrecido.
-Que vergonha, todo sujo, fedido, ensanguentado, você não conseguirá nenhuma gata na balada desse jeito!
Meti-lhe um chute na cara.
-Você matou um menino inocente, seu monte de bosta, a mando de um comerciante de bebidas. O crime foi na semana retrasada, e adivinhe, num sábado!
Ainda tossia. O virei para cima, e comecei a forçar a ponta do salto contra seu olho esquerdo.
-Ou você diz com quem trabalha ou perde esse olho, e eu não estou brincando.
-Eu... cof cof... trabalho junto com a minha quadrilha...
-Eu quero um nome, agora! O líder!
-O líder ninguém conhece, mas seu codinome é “Tigre”. Todos temos codinomes, ninguém sabe a identidade do outro... me deixei em paz!
-Isso não basta! Onde vocês se encontram?
-Nós nos vemos no Zakk 12, quando é combinado...
-O bar de motoqueiros... um pouco barra pesada para pessoas como você, não acha?
-Eu matei mais de trinta pessoas, eu sou o mais barra pesada dessa cidade, sua vagaba!
Nesse momento eu cavei a ponta do salto no olho. Acho que isso tirou a visão dele, mas não tenho certeza. Os 10 cm de salto foram lá no fundo. Mas ele teve de soltar ao menos um gemido.
-Porquê...?
-Por que você matou mais gente que eu, e isso não é legal! Não gostei!
É engraçado ver os maus sofrerem. É bem legal mesmo. Os maus, cruéis, infiéis, malditos, soldados do inferno, vê-los sofrendo é remédio para mim, remédio pelas coisas que eu já vi e já passei. Na verdade, foi por isso que eu me tornei uma assassina – para acabar com toda espécie de estorvo criminoso que ultrapassar meu caminho.
As coisas começaram quando eu tinha cerca de 14 anos, em 1980. Minha mãe estava à beira da morte graças a um câncer de mama, e meu pai, sempre ausente, nunca vinha. Era raro pais separados na minha época, mas os meus eram. Nos dias atuais, os casais se juntam, têm filhos e se separaram- ninguém mais fica junto. Mas, no século passado, ter pais separados era bizarro... E motivo de brincadeira. Eu era muito atazanada pelos outros na escola – eles diziam que meus pais haviam se separado por minha causa, que eu era uma bastarda cheia de espinhas e com aparelho nos dentes. E, ademais, eu sempre fui sombria. Estou sempre de preto, e naquela época eu era apenas uma rockeira mirim que gostava de usar camisetas do Iron Maiden e do Black Sabbath. Só que, além de Carla, eu já tive uma amiga. Uma outra melhor amiga, que se foi.
O nome dela era Maria Luísa. Conhecida, na verdade, por Malu. Malu era dois anos mais velha que eu e tinha nascido um pouco loira, muito mais linda do que eu. Eu a via bonita, encorpada e fazendo sucesso com os garotos, e sonhava em ser igual. Sempre me protegeu de tudo, e era minha defensora na escola – não deixava nada barato, afinal, ela ainda era mais velha que as pessoas que pegavam no meu pé. Eu sofria um imenso bullying, mas eu acredito que ele tenha sido produtivo – eu aprendi a enfrentar as adversidades. Perdi minha covardia e ganhei determinação aos doze anos de idade, quando começou a puberdade e as mudanças feias que fazem uma mulher desabrochar.
Contudo, em 1982, ao fazer 18 anos, Malu havia se formado e ingressado na Mackenzie, cursando jornalismo e, lá dentro, ela conheceu um dos alunos da administração, nas diversas festas que frequentava. O nome dele era Renato – o mais badboy de toda aquela universidade, eu acredito. Ela sempre tinha todos os garotos a seus pés, mas Renato era pra lá de especial: ela estava a fim. E Renato percebia, sempre esnobando. Apesar de tudo, quando uma mulher bonita gosta, não tem homem que aguente muito tempo – ele cedeu e os dois começaram a sair.
Após ter pedido minha irmã em namoro, eles resolveram sair para comemorar. Foram até um bar qualquer encher a cara. A 14 de julho de 1982, os traficantes com que Renato negociava decidiram dar as caras para finalizar o acordo: entraram no bar metralhando Renato e minha irmã, pois o seu namorado não havia pago a última carreira de cocaína que cheirou.
Eu fiquei péssima, revoltada. Queria me suicidar, minha família estava um caco. Eu estava estudando para prestar direito, a carreira de Carla, mas acabei perdendo a vontade e prestei o primeiro curso que vi pela frente: Educação Física. Me formei em uma faculdade que não queria! Ao menos serve para ajudar no combate a essa praga.
Minha irmã se envolveu com um bandido, ou mesmo um futuro criminoso, e acabou morta. É aí que floresce o meu ódio: eu vou me dedicar até o fim dos meus dias para eliminar o máximo de assassinos e monstros que fazem inocentes sofrer.
-Quando vocês vão se encontrar lá novamente?
-Não... tem... dia... certo...
-Retardado! Você é inútil!
Atirei na nuca, matando-o. Eu precisava apenas me livrar do corpo. Arrastei-o até um beco. Peguei um galão de álcool, que eu uso de reserva para o Escort no porta-malas e banhei o pobre demônio. Acendi um fósforo.. e joguei nele. Fez um fogo algo, bonito.
Voltei para casa pensando no “Tigre”, no Zakk 12. Alguém lá dentro tinha de conhecer, e é por isso que eu faria uma visita ao bar na quinta-feira – o dia mais movimentado.
A semana passou não muito rápido, a minha única diversão além da serviço noturno, os papos com Carla, não eram possíveis, pois em tempo de provas ela não vai fazer musculação. Ela até me ligava algumas vezes, mas só para contar fofoca e dar alô. Finalmente o ex dela estava deixando de atrapalhar, e isso era reconfortante para a sua mente. Eu tinha que aturar papos chatos na academia, com homens e mulheres fúteis, sobre batom e modos de musculação. Logo na segunda, ele percebeu que Carla não estava por perto, e logo foi se aproximando.
É, o chato. Eu nunca te contei sobre ele? O nome é João Marcos. Ele é um jornalista que trabalha em um jornal local, de expressividade alta, mas não é nada perto da Folha ou do Estadão. Eu já sabia o que ele queria – me fazer mil perguntas, para descobrir coisas sobre mim, ler sobre isso e depois ter papo. Homens, nunca façam isso; e se forem fazer, façam-no de maneira discreta, pelo amor de Deus.
-Oi.
-Oi.
-Tudo bem?
-Tudo.
-Como foi o seu final de semana?
-Bom.
-E a Carla, não está vindo?
-Provas.
-Eu vou fazer meu treino.
-Ok.
Papo interessante! Se ao menos ele falasse sobre algo... Ele era o tipo de inconveniente que está a fim, mas não joga o verde e também não esconde. Fica ali no mais ou menos, quero e não quero, e isso irrita. Entretanto, naquela semana, ele estava diferente. Acho que é porque ele havia completado 30 anos, e percebeu que não ficava com ninguém há dois, acho que o medo de morrer sozinho estava aflorando, e eu era a bola da vez. Eu apenas esperava ver o que ele ia fazer. Depois de ter terminado, ele me chamou para sair. Eu julguei isso um milagre.
-Eu não posso.
-Pode ser qualquer dia da semana!
-Eu trabalho, e esta sexta eu não vou estar disponível.
-No sábado?
-Eu quero descansar da sexta.
-Que tal um pagode no domingo?
“Pagode no domingo”, “Pagode no domingo”, “Pagode no domingo”...
Domingo eu não faço nada. Eu prefiro ficar em casa assistindo TV e lendo, eu também tenho cultura!
-Ah, está bem, mas saiba que eu estou sempre aí, se quiser sair é só avisar.
Como se fosse a mulher que precisa ter a iniciativa... Ele era um moço branco, de cabelo castanho claro, com leves entradas, alto e forte. Ele era bonito sim, mas era muito idiota. E eu não tinha tempo para isso. Eu tinha dois serviços, minha única amizade que era mais preciosa que qualquer coisa e todas as minhas armas pra cuidar. Eu não precisava nem de um cachorro. No dia seguinte ele veio conversar de novo, cada vez mais abusado.
-Você está linda hoje!
-Obrigada – dessa eu até gostei, mas o que é uma bola dentro no meio de infinitos erros?
-Pensou melhor? – talvez se ele não tivesse dito isso eu poderia considerar algo, para sairmos como amigos.
-Não existe “pensar melhor”, eu já disse que eu não posso, e por favor não peça de novo - Ele ficou roxo. Parou de falar comigo, e nos dias seguintes só cumprimentava.
Finalmente chegou quinta feira, e eu estava ansiosa para ir até o bar. Eu pensei em chegar abrindo fogo em quem estivesse lá dentro, pois naquele lugar só aguenta gente ferrada mesmo, só que tinha muitos deles. E não são magrelos, são homens gigantes e gordos, que precisam ficar com o corpo pesado de chumbo. Por isso, eu decidi apenas fazer um social. Tomei um banho no banheiro da academia mesmo, me vesti com uma regata vermelha e uma calça jeans azul escura, eu não estaria exatamente a serviço, e sim “investigando”. Coloquei um pequeno canivete no meio dos peitos, pois as pessoas são revistadas antes de entrar, menos os “clientes fieis”, que os seguranças fazem vista grossa aos pequenos artefatos de guerra que eles carregam. Fui para casa, coloquei meu Ray-ban, e saí de Opala até o lugar quando ainda estava claro.
Cheguei quando o sol quase se punha. Estacionei do outro lado da rua, bem em frente. Chamei a atenção apenas com o carro. Desci do carro e simplesmente todos ficaram olhando para mim. Eu me senti o máximo, normalmente eu estou vestida em roupa de academia e um pouco acabada do serviço; e quando eu fico bela para o serviço não tem muita gente para apreciar.
Fui até o segurança com os diversos motoqueiros me observando, e pedi para entrar.
-A entrada é gratuita, só paga o que consome. Mas eu preciso te revistar.
Gentilmente ele me revistou, sem passar a mão no meu bumbum nem nos seios. Eu nunca vi leão de chácara tão simpático e tão grande. Você acha que aqueles gordões motoqueiros são grandes? É porque você não viu esse segurança.
Entrei, e uma música do ZZ Top tocava. Acho que era “Sharp Dressed Man”, mas não tenho certeza. Eu olhava as pessoas nos olhos, havia algumas mulheres vida loka lá dentro, todas tatuadas, fumando e bebendo. Esse pessoal que não respeita o próprio corpo é foda.
Sentei no balcão e pedi uma cerveja. Novamente, alguns locões vieram dando em cima, mas desta vez eu fui gentil. Precisava fazer um social, pois eu só conseguiria informações provavelmente com o mais poderoso, o líder de algum motoclube ou algo do tipo. Só que eu simplesmente não podia dizer meu verdadeiro nome. Quando eu estou a serviço, digo que meu nome é Danielle, para manter as aparências. Fiquei amiga de vários e já estava marcando alguns para fazer uma visita mais tarde. Acabei ficando mais amiga de um deles, um que curtia fumar demais. Era magro e um pouco velho, mas era o que melhor conversava. Seu nome era Abílio.
-Na verdade sim, eu faço parte dos Cães Mortos [um motoclube] e sou o segundo antes do Jonathan.
-Jonathan?
- Ele é o líder do nosso motoclube, é o mais influente aqui dentro. Ter a amizade dele é ter tudo.
-Sabe, eu tenho uma Harley em casa, e estive pensando em entrar para um clube, mas não sabia qual. O seu parece ser legal. Você pode me apresentar a ele?
-Ele está sentado ali – apontou para um velho, de barba branca e muito longa, magrinho. Estava um pouco na escuridão, jogando sinuca.
-Bem, então vamos até ele!
-Não adianta. Ele só conversa com gente que gosta das coisas que ele gosta. Diga que quer jogar sinuca, e tente não perder de lavada. Mas não ganhe, ele não gosta de perder!
Fui até o senhorzinho, que jogava com outros três. Eu perguntei se poderia jogar, e ele logo mandou que alguém da outra equipe desse o taco para mim. Um novo jogo foi começado, e ele falou com sua voz rouca:
-Faz 20 anos que eu não enfrento uma mulher neste jogo.
O jogo fluiu bem, o velho era bom. Eu fui segurando o máximo que pude, mas não consegui ganhar. Eu dei trabalho para ele. Entretanto, a última bola era a 8, e as duas equipes disputavam pela vitória, a tacada não era minha e sim do meu parceiro. Se ele acertasse, nós venceríamos e eu ficaria feia na fita em relação ao vovozinho. Um pouco antes de ele dar a tacada, eu deixei meu taco escorregar e cair.
-Opa! – Ele olhou na minha direção, com tudo pronto para acertar a bola. Eu abaixei, e estava com um sutiã largo. Meus peitos, virados para baixo, chamaram sua atenção enquanto eu lentamente descia para pegar o objeto de madeira. Ele deu uma tacada tão torta que nem a bola acertou.
-Haha, eu sabia que você não era tão boa assim, minha jovem! – com uma só tacada, ele venceu. Ficou contente, pois achou uma pessoa do seu nível e mesmo assim conseguiu ganhar, ainda perguntou se eu queria revanche. Eu neguei, é óbvio, e ele me chamou para sentar com ele. Obviamente eu fui e me sentei ao seu lado em uma enorme poltrona de couro, estilo anos 1930.
-O que você quer tomar?
-O que você quiser está bom.
-Ei, tragam dois conhaques! Então, moça, qual é o seu nome?
-É Danielle.
-O que te traz a essa espelunca?
-Só vim passar o tempo.
-Muito bem, eu gostei de você. Você tem habilidade, seria bem vinda ao clube.
-Escute, Jonathan, certo? Eu também gostaria de entrar ao seu clube, mas eu não posso, agradeço pelo convite. Eu estou aqui procurando pelo Tigre.
Nesse momento, ele quase engasgou com a bebida.
-O que uma princesinha com você quer com o Tigre?
-Eu gostaria de entrar para a quadrilha dele.
-Você não pode, moça! A quadrilha do Tigre é fechada! Para alguém entrar, é preciso que alguém saia!
-Você não ficou sabendo que um deles “saiu”?
Neste momento o velho começou a ficar irritado.
-Então foi você que matou o Coelho, não? Bem, vejo que você não é qualquer uma. Você não consegue falar diretamente com o Tigre, ninguém consegue, apenas por telefone. Mas tem vezes que os subalternos dele fazem reuniões aqui. Apenas não sei os dias certos!
-Escute, pegue o meu telefone. Você pode me avisar quando vi-los?
-É claro. Eu gostei de você, também. Se o negócio aí do Tigre não der certo, você não fica sem fraternidade. Os Cães Mortos irão te receber com todo o prazer! Nós só não matamos pessoas, e quando matamos, é gente tão fudida quanto nós que se opõe ao clube.
-Bandido que mata bandido é meu amigo.
Fui embora do clube, e agora tinha um aliado. Na verdade, eu passei o número de um telefone público que fica próximo a minha casa. Eu sabia que eles não se reuniriam durante o dia e, de noite, eu ouviria o telefone tocar. Paguei minha conta e fui-me do clube.
-Obrigada, Abílio. Você é um anjo – dei um beijo na sua bochecha. Fiz o dia dele. Entrei no Opalão, liguei o motor, liguei um bom Metallica e saí. Só que meu destino não era o apartamento, e sim uma casa de viciados na zona leste. Um deles havia assaltado e matado um pobre demônio que voltava do trabalho, e eu estava indo até lá fazer uma limpeza geral. Ele não era o único – muitos de lá já haviam cometido delitos graves em troca de grana para a droga, ou seja, sem inocentes para serem pegos no fogo cruzado, ou melhor, fogo unilateral.
Estacionei longe, bem longe, para que não pegassem o meu carro. Fui armada até os dentes, mas com silenciador. Eu não poderia fazer barulho, afinal das contas, apesar da casa onde moravam os malucos, a rua era movimentada e não eram nem 21h ainda. Mas a escuridão já havia caído, e ela me cobre. Estava com duas Uzi e muitos cartuchos no cinto. Cheguei até o lugar, parei em frente, tinha alguns drogados na porta, mas estavam loucos demais para me prejudicar. Para não pegar ninguém errado, eu sou atiraria lá dentro e em quem se opusesse à mim, pois o alvo principal tinha nome e rosto.
A porta estava aberta. Era, na verdade, uma antiga mansão abandonada. Não havia iluminação alguma, mas como eu sempre ando de lanterna, fiquei apenas com uma arma, para segurar a luz. Iluminava relativamente bem. De repente, vi um no canto, começou a me mandar ir embora. Fui até ele e lhe dei uma coronhada na cabeça para ficar quieto. Andei mais um pouco, vi uma escadaria. Na minha frente, surgiu uma mulher com uma faca, eu me esquivei para trás e abri fogo contra ela. Caiu morta no chão. Subi a escada e percebi que tinham dois lá em cima.
-Saiam da frente!
-Ninguém passa aqui! - Meti bala nos dois. Será que ninguém naquele lugar percebeu que eu estava armada?
O andar de cima era onde efetivamente as coisas aconteciam. Era iluminado e tinha muita gente usando drogas ali. Eu não sabia em quem atirar, e virar as costas contra qualquer um seria fatal. Então, tirei o silenciador e atirei para cima, causando alarde. Os que ficaram quietos não representavam ameaça, mas os que se levantaram...
-Pega ela, deve ser tira!
Troquei o cartucho e peguei a outra Uzi. Atirei em todos que vieram na minha direção, e percebi que um deles era o assassino. Nele eu só atirei na perna, mas eliminei todos que estavam por ali. Caído no chão, gritando alto, me amaldiçoava. Fui até ele, puxei-o até a escada, fi-lo ficar de pé e o empurrei com o pé. Ele caiu rolando e batendo a cabeça, chegou ao chão já sem respirar. Guardei as armas e simplesmente fui embora. Na rua, ainda perguntaram se eu não queria “um baseado”.
Cheguei a casa, tomei um bom banho e telefonei para Carla, era cedo ainda, cerca de 22h30. Fui dormir.
Continua.