Fogo fátuo

São Luís do Maranhão, 1954. Em uma sexta-feira, um grupo de jovens pervertidos se preparava para um ato de horror e barbárie. Estudantes de uma das universidades particulares mais caras da cidade, tinham um fescenino amor a cadáveres, morte, putrefação, como Álvares de Azevedo. A propósito, escritores ultrarromânticos com tendências Byronianas eram seus prediletos. Gostavam, como de costume, passar finais de semana nos cemitérios, admirando o poder da morte e a iminência da ausência da vida.

Todos, pseudopoetas, faziam escritos quando próximos à lápides e dentro de mausoléus, compondo obras completamente atormentadas por um ideal maldito de inferno e de sofrimento sádico.

No entanto, o máximo da loucura desses indivíduos chegou quando decidiram violar um túmulo de uma mulher que tinha sido enterrada naquela mesma sexta-feira.

-João, eu andei pensando numa coisa...

-Que é, Marcos?

-Sei lá, gosto mesmo desse papo de morte, mas ultimamente tenho tido umas ideias meio macabras...

-Ah, é? (rindo-se) Tipo o que?

-Tipo sexo com mortos.

João, nesse momento, viu-se no camarada. Aquele, que também sabia da fascinação de Roberto por mulheres mortas, viu a oportunidade de realizar seu bizarro fetiche. Ficaram de olho os três na seção de obituários, esperando por uma mulher que fosse

-Morta recentemente, um cadáver fresco e saudável, e virgem.

-Como saberemos da virgindade?

-Tendo menos de 16, tá bom.

Viram a notificação na quinta-feira de uma menina que havia morrido de leucemia, no dia anterior, e que o sepultamento seria sexta às 16h. 14 anos.

-É essa mesmo – pensou João quando leu a notificação.

Como de costume, subornaram o coveiro, que deixou a chave do cadeado dos portões do cemitério com eles.

-Só façam o combinado hein meninos, não roubem nada e fechem o cemitério quando sair...

-Pode deixar, seu Jairo.

-O que será que esses loucos fazem aí dentro? – pensou – Desde que paguem e não me fodam com a vida, tá tudo certo...

Meia-noite. Chegaram ao local, destrancaram o velho cadeado e adentraram, trancando os portões novamente para terem a “privacidade” desejada.

-Onde tá o túmulo, Beto? Você que veio aqui no enterro ver, acha logo!

-Calma, caralho, tô procurando! Ah, está ali, é aquele do lado do mausoléu com adornos de ouro.

Lá estava o túmulo róseo da virgem que nunca havia nem beijado alguém em toda vida. Maria Catarina, a “Catarininha”, tinha sido diagnosticada com leucemia há cerca de um ano, e só vinha apresentando piora. Não pode receber terapia, então morreu agonizando profundamente.

Dotados de uma marreta, quebraram o túmulo, que era no concreto, e retiraram o caixão. Ao abrirem, lá estava aquele corpo fresco, branco, brilhando sob a luz do luar, com cabelos negros e envolventes como o sentimento podre da destruição, mãos tão macias e pequenas que pareciam de porcelana, lábios finos e roxos a serem beijados para sempre, a virgem eternamente desejada por todos os que tinham fascínio pela morte; uma virgem que valeria a pena morrer apenas para fazerem juntos o defunto sexo.

-Ela é linda... – falou Marcos, que estava um pouco apreensivo. Apenas assistia ainda assustado, apesar de também estar sentindo atração por aquela cena.

-Roberto, me ajuda aí a rasgar as roupas! – com muita força, arrancaram as roupinhas confeccionadas pela avó da morta, que serviriam para a humilde festa de debutante que ela tanto queria e nunca pôde ter.

Num átimo, João começou a beijá-la na boca, após estar nua, sem nenhum pudor. Roberto, atrás, abaixou-se na altura da virilha e começou a se lambuzar na parte genital da moça desprovida de força vital.

-Não vai participar não, seu trouxa? – perguntou um deles.

-Não sei, não estou gostando...

-Seu fresco!

-Meu sentimento é outro...

Os que violavam a morta tiraram então as calças, e com os pênis já eretos, levantaram o cadáver. Um deles ficou por cima e começou a penetrar, e o outro, por baixo, também. Marcos, vendo a horrenda cena, teve um acesso de loucura, abriu as calças e começou a se masturbar vendo a cena.

Após vários minutos de prazer insano, uma luz azulada foi vista ao lado do túmulo. Marcos, que já havia chegado ao orgasmo duas vezes e continuava, começou a entrar em pânico, achando que se tratava de um incêndio.

-Ei, pessoal, olha aquele fogo ali...

Sem parar com os movimentos, os dois olharam e afirmaram apenas ser o fogo fátuo.

-Foda-se, eu não tenho medo disso aí, o professor lá de química já explicou pra gente, e mesmo que fosse assombração poderia me levar, porque o sexo com cadáver é melhor do que com qualquer mulher!

A partir desse momento, então, o fogo de súbito alargou-se e cresceu, evoluindo para uma enorme chama que saía do chão, com três metros de altura. Qualquer um que passasse do lado de fora do cemitério comtemplaria o tamanho daquilo.

Os três pararam, então, perdendo completamente o desejo sexual, com o medo tomando conta de seus espíritos. A chama, então, assumiu um rosto que sorria para eles.

-O que vocês estão fazendo, rapazes?

-Não, não era nada – começou a gaguejar Roberto – nós só estávamos vendo, e...

-Vendo com o pinto? – deu uma risada diabólica e medonha, de provocar medo até no homem dotado de maior coragem.

-Não notam nenhuma semelhança? É o meu espírito, tolos!

-Temos admiração por você, Maria Catarina! Te amamos, e é por isso que estamos fazendo isso!

-Eu não sou idiota, tolos... Com seu tosco desejo necrófilo, vocês deram um pouco de energia à minha alma, que se esvaiu antecipadamente dessa casca morta, e agora está aqui para levá-los comigo!

-Espera, não faça isso...

-Não são vocês que tem amor pela morte? Então sintam-na!

A labareda azul em forma de cabeça, então, atravessou os dois, imediatamente carbonizando os insanos e o corpo. O espírito de Catarina, então, ficou diante de Marcos, que havia mijado-se, literalmente.

- Eu vou te poupar porquê você não me profanou. Mas você vai pagar por ter os ajudado!

Então, com um sopro, a assombração queimou todo o rosto do jovem, que caiu desfalecido. Rindo-se, a labareda entrou para dentro da terra, levando o seu corpo queimado junto, e deixando ali os cadáveres. Alguns minutos depois acordou Marcos, completamente horrorizado e em dor total. Ao chegar em casa, ficou tão desesperado ao ver a própria face, que suicidou-se.

Alberto Fitzgerald
Enviado por Alberto Fitzgerald em 13/05/2013
Código do texto: T4288699
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