Opala Assassino
16 de abril de 1992. A Chevrolet produziu, nesse dia, os últimos Opalas, o de uma série especial. Esse Opala, da linha "Opala Collectors", tinha chave banhada a ouro e era um modelo muito, muito especial, tanto em conforto quanto em exclusividade. O dono de um deles, um magnata de bancos, comprou o modelo que era preto, Super Luxo, o melhor carro que poderia ser comprado no Brasil.
Era o xodó de Fernando. Ia para cima e para baixo com ele - estava tão contente que até esquecia do resto. Ficou tão apaixonado e obcecado pelo sedã que começou a se distrair, saindo para dar voltas no meio do serviço. Certa vez, no meio da semana, Fernando, que também era pai de família, simplesmente pegou o carro e voltou apenas uma semana depois, tendo rodado três mil quilômetros. Isso gerou certa discussão na sua casa, quando retornou. A sua esposa, Mariana, reclamava:
-Como você pode fazer um negócio desses, Fernando? E as crianças? Nós devemos ser os únicos no país a termos celular e pagamos uma fortuna por isso, e para que? Para você simplesmente não atender?
Ele ouvia quieto, encostado no carro, sentindo o gostoso calor do motor ainda quente nas suas pernas e o cheiro de álcool queimado no ar.
-Fernando? Está me ouvindo, Fernando?
-Pai... o que tá acontecendo com você? - perguntou Juliana, a filha mais nova.
-Seu pai ama mais essa bosta de carro do que você, minha filha!
Alguns meses se passaram, e Fernando colocou sua cabeça no lugar. Percebeu que, de maneira estranha, o carro tinha tomado conta dele. Que acelerar aquela máquina lhe dava mais prazer do que sexo com sua esposa ou ver sua filha se desenvolvendo. Foi por isso que, ao final de 1992, ele resolveu vendê-lo.
Teve de ir dirigindo até a concessionária, e uma fúria tomava-lhe a alma. Não queria deixar o carro. Não queria. Ia cada vez mais rápido, cada vez mais, cada vez mais, o velocímetro havia chegado no seu limite e não girava mais, mas o veículo ganhava cada vez mais velocidade. Passou por um radar antes de bater em cheio em um muro, o que fez jogá-lo pelo para-brisa, mesmo estando com cinto de segurança. O corpo dele havia virado apenas uma massa desfigurada.
No dia do enterro, para total desgosto de Mariana, chegou a multa na casa do falecido. Ele havia alcançado os incríveis 318 km/h antes de atingir o obstáculo, sendo que o Opala tinha velocidade máxima de 170.
O carro, por incrível que pareça, não foi destruído. O muro era baixo, e apenas a frente foi danificada. O carro foi então vendido por um preço mais barato, foi revitalizado e parecia novo.
O outro dono, um vendedor de imóveis, gostava muito de dar voltas nele...