Loira Sanguinária

Em um restaurante da zona sul de São Paulo, Ricardo, advogado, cerca de 47 anos, muito sedutor, tomava sozinho um dos finos vinhos que tinha à disposição. Um pouco calvo e grisalho, dava uma boa olhada nas mulheres presentes. Uma morena alta tinha mexido com ele, mas saiu de mãos dadas com um garoto, ou seja, já era. Então, ele começou a ficar de olho, pois aquela noite ele queria transar. Desde que a mulher o traíra ele não havia se envolvido com mais ninguém, e estava na hora de tocar a própria vida.

Achou que estava prestes a ir embora sozinho quando, na saída, viu uma lindíssima loira, fumando e baforando para cima, o que demonstra confiança. Ele mirou nela naquele exato momento e sabia que seria um desafio.

-Tem um cigarro? - sem nem olhar na cara dele, tirou o maço do bolso, abriu e deixou-o pegar.

-Estou sem fogo.

Ela abriu a bolsa e deu um isqueiro na mão dele, sem estabelecer contato visual. Ele acendeu, agradeceu e começou a fumar junto. Percebeu que ela não disse mais nada, então tentaria puxar papo novamente.

-Bom esse restaurante, não é? Venho sempre aqui.

-Que bom para você. - neste momento, ficou atônito. Tudo bem se ela não estivesse a fim, mas não precisava tratar com desdém.

-Bem, tenha uma boa noite então - e deu alguns passos, quando sentiu uma mão no ombro esquerdo. Era ela.

-Escute, me desculpe, mas eu estava um pouco nervosa, estou com alguns problemas. Eu posso te convidar para uma bebida?

-Claro - era exatamente isso o que ele queira. Depois de duas doses de martíni, os dois estavam bem quentes, e decidiram ir para casa. Entraram no Civic de Ricardo, que dirigiu rápido ao som da Antena 1.

Ao chegarem, Bárbara, como se apresentou, já começou a beijá-lo.

-Você tem camisinha com você, né?

-Não... puxa, que merda!

-Não se preocupe, eu tenho comigo.

Os dois começaram a tirar a roupa, e após estarem nus, ela disse que queria beber mais.

-Eu pego a bebida, onde fica a cozinha?

-Desça as escadas, é bem à esquerda.

Após um curto tempo, ela voltou com as duas bebidas. Os dois tomaram e transaram. Depois do fim, Ricardo pediu que ela fosse embora e ofereceu-se para levá-la.

-Não se preocupe, não será preciso.

Ricardo estava com sono. Ele deitou, na cama, enquanto ela se vestia. Seus olhos começaram a ficar pesados, vendo a linda figura de Bárbara, e acabou por adormecer.

Despertou assustado, deitado em uma tábua gelada de metal, com os braços amarrados.

-Que bom que acordou!

Ele estava com o tórax aberto, e Bárbara retirava seus órgãos usando apenas luvas de látex. Ele começou a gritar, quando realizou que aquilo não era um sonho.

-Por que você está gritando, Ricardo? Você não está sentindo dor alguma, eu me certifiquei disso...

Ele se debatia com força, mas tudo para baixo de seu pescoço estava imóvel. Viu 6 caixas plásticas, sendo que quatro delas estavam com algum órgão dentro.

-Fique calmo, faltam apenas dois, então tudo terminará.

Ele não falou uma palavra, apenas gritava, mas era inútil. Estava sendo operado em um local estranho, e não tinha nem ideia de quanto tempo tinha dormido.

-Falta agora apenas o principal... Seu coração!

-Não, para, para agora, vadia, filha da puta!

Lentamente, a médica retirava o órgão vital do peito do advogado. Quando este havia sido completamente removido, ele começou a sentir algo estranho, mas não era dor, e sim um vazio, como se o organismo estivesse simplesmente desligando.

-Seis pessoas da fila para receber um transplante ficarão muito gratas. Obrigada! Você é um anjo.

Em pouco tempo, o bem-sucedido homem era apenas um corpo sem vida.