Asas negras das trevas
 
Ela olhou surpresa o rosto que dizia coisas incompreensíveis.
Respirou tentando sorver o ar que supostamente traria novamente a vida.
A dor veio lancinante.
Cortava feito bisturi o tapete etéreo tecido com os fios puros que eram declarados todos os dias.
Ela se perdeu nas próprias falas.
A persistência no equívoco se desdobrava em palavras que feriam mais do que facas afiadas.
Ela engolia o veneno que ouvia mas que também destilava.
Olhou atônita o rosto mais belo que jamais vira. Não o reconhecia. Não era ele. Não dele.
Na certeza suspensa por um fio de sanidade, viu o desfecho maléfico das falas vazias.
Era a morte.
Em vida.
Sem motivo.
Sem explicação.
O universo se rompeu inversamente.
As cores se tornaram negras.
Suspensa nos fonemas terríveis que anunciavam o desfecho, se contorceu em dor e tombou nas lágrimas que transbordaram a emoção.
A dor chegava ao corpo e era velha conhecida.
Ela viu memórias de outrora e ausência de vida no futuro.
Ponderou que a batalha travada entre os egos exaltados afetariam outras vidas que apenas começavam e que acreditavam naqueles que agora guerreavam.
Ela se viu muito pequena.
Ela se percebeu muito frágil.
E então as trevas vieram.
E a cobriram com asas negras da roupa mortuária.
E a envolveram com hálito gelado que extraía a vida.
E no meio do terror que crescia em terreno já fragilizado, teve o coração esmagado pelas mãos funestas que se regozijavam.
O pedido de socorro veio em meio ao desfalecimento.
Na linha divisória que aparta dois mundos
Ouviu a voz que anunciava o fim da tormenta com tempo definido.
As asas negras se dissiparam, o mal quis deixar o seu rastro.
Não conseguiu.



 
Edeni Mendes da Rocha
Enviado por Edeni Mendes da Rocha em 20/11/2012
Reeditado em 20/02/2014
Código do texto: T3995865
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