Lua Vermelha - Cap. 2: A Visão do Lobo
Quando a noite caiu e a lua brilhou radiante no céu negro, clareando toda a relva do campo e as florestas com sua luz, Zaek caminhava de uma lado para outro em seu pequeno rancho, distante à uns 3 km da aldeia mais próxima. A cada passo que dava, o suor molhava sua camisa, aumentando o ritmo na medida em que esperava a hora maldita.
- Droga! Odeio estas noites de lua cheia, não consigo dormir direito, além disso cada segundo parece uma hora. Não posso ficar mais tempo aqui. É perigoso.
Toda vez que chegava no canto do velho casebre, onde tinha uma janela, olhava fixamente para o lado de for a a fim de ver qualquer coisa viva que se movesse. Sua ânsia para sair dali era tão grande que, várias vezes, mexia na maçaneta da porta para sair, desistindo de sua intensão logo em seguida. A cada minuto ele olhava para o relógio à corda na parede. Após alguns minutos de nervosismo e caminhando intensamente, saiu para fora e correu em direção a floresta. Ali ele sentia-se mais aliviado. Sentou-se ao pé de um eucalipto e puxou um fumo do bolso. Acendeu-o e tragueou o mais forte que pode, para aliviar o nervosismo. Lá em baixo, aos arredores da colina, ele viu 2 vultos vindo em sua direção e, embora estivessem longe, pode ver que constatava-se de dois caçadores. Ele deu um pulo, jogou for a o fumo e correu para se esconder.
- Malditos habitantes da aldeia! Que fazem caçando a uma hora dessas? Não... Alguma coisa começava a contorcer-se dentro de seu corpo...
- Droga! Tenho que... sair... da....
Ele começou a gemer, mas ainda continuava fugindo para um lugar que não pudessem avistá-lo, não poderia cair nas mão daqueles caçadores ou seu destino estava selado.
- Não posso deixar eles verem minha transfor... Ele sair de... dentro de mim. Já não... posso segurá-lo mais... Hug!
Zaek atirou-se dentro de uma pequena erosão no meio da floresta e rolou durante alguns minutos na grama umedecida. A dor era terrível, sentia uma coisa tentando sair de dentro dele. Começou a fazer arcada e babar intensamente, até que sua boca rasgou de ponta a ponta da orelha e um focinho preto de lobo saiu dali, arrancando com força alguns dentes. Suas mão começaram a desmanchar-se e a carne parecia derreter, porém, no lugar em que deveria aparecer os ossos, uma couraça negra e peluda com garras enormes indicavam a estágio final da transformação. O maldito lobo interno estava livre. Não era mais Zaek quem estava ali, mas um lobo infernal que vaga pela noite em busca de alimentos. Sem dúvida, um animal voraz, consciente de seus crimes, pois trata-se na verdade de um demônio, uma parte do ego explosiva que tomou forma dentro do corpo de Zaek, alimentando-se do ódio e repúdio da vida na aldeia, raiva da convivência com aqueles habitantes. Vingança que ele foi buscar nas artes arcanas para destruir todo ser vivo que por ali perambulava. O lobo, ao olhar pela primeira vez naquela noite o luar inchado, como um coração exposto, soltou um uivo terrivelmente macabro que fez gelar as almas dos caçadores que estavam não muito longe dali. Isso fez com que aqueles pobres homens desistissem de sua caçada noturna com medo de um ataque fatal. O Lobo podia sentir em sua pele o corpo dos caçadores tremerem apavorados, mas decidiu esperar até o momento certo em que estariam tão horrorizados, que começariam a correr em direção a aldeia e isso proporcionaria uma bela caça, onde os próprios caçadores estariam sendo caçados. O Lobo sentia o sangue dos 2 homens correr quente pelas artérias e veias, irrigando cada parte do corpo. Imaginava as partes em que deveria morder primeiro para obter uma maior quantidade de sangue fresco. Mas ele ali permaneceu, parado, olhando os pobres homens que recuavam vagarosamente pela floresta em direção a aldeia. Ele não podia permitir que suas vítimas voltassem para a segurança do vilarejo. Olhou em direção a sua própria “casca humana”, deixada para apodrecer na terra, e decidiu abocanha-la a fim de fazer a volta pela encosta e coloca-la no caminho dos caçadores, para que vissem aquela horrível carcaça e ficassem inteiramente mergulhados num pavor mortal. Depois que a armadilha estava pronta, ele pôs-se a esperar os 2 caçadores para o ataque fatal. Como imaginou, os homens teriam que passar pelo pequeno vale em que a floresta tornava-se menos densa, mesmo que tivessem que percorrer uma distância um pouco maior para chegar a aldeia, porém, no pequeno vale, eles caminhariam com maior rapidez.
Quando os caçadores viram aquela carcaça, ficaram perplexos, como já era esperado. Ficaram ali divagando sobre os restos e um deles acendeu uma lanterna e, logo após, pôs-se a espalhar um pouco de sal. O Lobo imaginou que, se pudesse rir na forma que estava, certamente teria gargalhado daquela situação ridícula. O que pode afetar um pouco de sal?
Quando os pobres homens começaram a correr, o demônio saltou na frente, interrompendo o caminho que ele seguiam para chegar a aldeia. Um deles começou a gritar para o outro, mas esse não lhe atendia. O que gritava atirou, mas o Lobo esquivou-se recuando para trás e depois voltando a caminhar na direção de seu agressor. Esse por sua vez, continuava gritando, até que pegou a rama do outro e disparou, de perto, e o lobo caiu ao chão grunhindo e lambendo o ferimento, mas antes de receber o tiro, arranhou o peito do homem que ficara paralisado com sua presença. O demônio lobo ficou ali por algumas horas e quando pode levantar-se novamente, viu que os caçadores já deviam estar na aldeia e que, a essa hora já poderiam ter agrupado vários homens para procurá-lo. Tinha que sair dali, mas agora ele sabia que tinha passado o fardo para outro homem e que na próxima lua cheia, quando ela ficar vermelha, mais um de sua ordem andará pelos campos a procura de caça. Um alívio tomou seu ser quando voltava para sua cabana, enquanto novamente tornava-se humano.