Natal em Allanshire *
A Sra. Schummer terminara de preparar a decoração de Natal. Antes de sair para ir às compras, o Sr. Schummer é surpreendido pelo seu filho de sete anos, Peter: “Papai, esta é a carta que eu escrevi para o Papai Noel. É muito importante que você entregue para ele, está bem?”. O Sr. Schummer guarda cuidadosamente a carta natalina de Peter no bolso de seu paletó e sai. Está bastante frio em Allanshire.
À noite, no jantar, o casal Schummer, Roger e Kate, decidem por convidar alguns velhos amigos da comunidade para passarem a Ceia com eles. Kate se comprometera em assar um suculento peru e preparar um saboroso pudim de leite de sobremesa.
Na noite de Natal, Peter está ansioso para a chegada da hora de abrir os presentes. Para tanto, Roger põe o relógio do filho para despertar à meia-noite, ao som de London Bridge is Falling Down. E descansa o relógio na mesa de cabeceira do quarto do menino.
Pouco antes da ceia, chegam os convidados: a Sra. Baker, professora dominical, o Sr. Nelson, zelador da escola, o Dr. Diggs, médico familiar, e sua esposa Laura. Os convidados permanecem na sala-de-estar, enquanto Kate termina de dourar o peru.
O Sr. Nelson, por um momento, chega a cochilar, ronca, e acorda rapidamente, embaraçado. Diz que tivera de trabalhar dobrado para folgar no Natal. Os convidados compreendem. Roger educadamente pede ao Sr. Nelson que ele tenha a liberdade de cochilar por uns minutos no quarto de Peter, e que quando o jantar estivesse pronto, Kate o chamaria. O zelador pergunta se não há nenhum incômodo e todos fazem o Sr. Nelson se sentir à vontade para cochilar um pouco.
A Sra. Baker comenta como é difícil para certas pessoas deixar de trabalhar mesmo que seja no Natal. Peter lembra ao pai se ele entregara a sua carta ao Papai Noel. Os adultos riem para Peter e começam a contar histórias de quando eram crianças.
De repente, todos ficam em silêncio. O velho relógio da sala pára. Eram 20:47h. Algo mais curioso acontece, então: todos os demais relógios da casa tocam seus despertadores, todos ao mesmo tempo. Os comensais se assustam. Roger prontamente segue pela casa a desligar todos os agitados despertadores, quando se lembra de que falta apenas um. Falta o despertador que está no quarto de Peter. Ele também está despertando fora da hora.
A porta está entreaberta; as luzes, apagadas. O Sr. Nelson está deitado junto à mesa de cabeceira onde o relógio de Peter não pára de tocar London Bridge is Falling Down irritantemente. Roger cuidadosamente desliga o despertador e afaga os ombros do Sr. Nelson, se desculpando pelo incômodo. Mas o zelador não responde. O Dr. Diggs aproxima-se da cama. Examina-o. O Sr. Nelson está morto. Ele morrera surpreendentemente à hora exata do toque dos relógios.
Neste momento, Peter puxa o suéter do pai e zanga-se: “Você não entregou minha carta ao Papai Noel”.
Roger recorda-se da cartinha. Retira-se para o seu quarto, abre o guarda-roupa, e puxa do bolso do paletó a carta de Peter, e a lê: “Querido Papai Noel, por favor, não permita que o Sr. Nelson morra na minha cama na noite de Natal”.
(publicado em: "Noctâmbulos", Andross Editora, 2007)