Dona Morte - O castelo do sofrer (05)
Enfim, após uma longa jornada por um corredor entre paredes vermelhas cor de sangue, sob um calor insuportável que jamais havia sentido em vida, a Morte me soltou. Agora, talvez por me conhecer como sua para sempre, falasse algumas frases a mais. Mas, eu não quero entendê-la, pois as coisas que me diz são terríveis demais e doem a cabeça.
Um odor de podre sufocante me enjoou. A visão turva direcionada ao solo de nuvens negras em que pisava não via o que estava à frente. Eu fugia da verdade que viria tal qual fazia com as mensagens da Morte. Aqueles uivos de dor antes longínquos pelo corredor das trevas, agora estavam bem à frente, intensos em meus ouvidos, causando calafrios. Eu fitava o chão cerrando os olhos.
"Não quero olhar" - me sinto um covarde. Tão forte policial em Terra, agora tremo, balbucio e choramingo, babando como uma criança.
"Não quero olhar" - mas minha cabeça levantava aos poucos sozinha.
"Não, não quero olhar" - e os uivos me chamavam pelo nome, longos e desafinados.
"Não quero olhar" - e a Morte ria por detrás de mim.
"Não..." - a podridão, meu nome em gemidos de pranto, risos da Morte, o chão negro fumegante como nuvem, o espaço vermelho como sangue.
"NÃO QUERO OLHAR!" - minha cabeça ergueu contra minha vontade. Vi o portão do castelo do inferno, feito de rostos de parentes meus, subindo e descendo pelo portão de fogo, gemendo e chamando meu nome, suplicando socorro.
Chorei amargamente pela primeira vez desde minha morte e como nunca em vida.