O BICHO DA MEIA NOITE
ERA NOITE. MUITO TARDE DA NOITE...
A CIDADE PEQUENA TINHA HORÁRIO PARA DORMIR. LÁ, AS DEZ DA NOITE, JÁ SE ÍA DEITAR-SE. PORQUE TODA A CIDADE FICAVA ÀS ESCURAS COM O APAGAR DAS LUZES, COM O DESLIGAR DA ELETRICIDADE.
TUDO VIRAVA SILÊNCIO... NA MADRUGADA, SEM LUZ...MAS, BEBÊS E MÃES, NÃO PODEM FICAR A MERCÊ DESSE SALUTAR DEITAR E DORMIR. BEBÊS TÊM FOME À NOITE E MAMÃES TEM QUE SUPRIR ESSAS NECESSIDADES.
FOI NUMA NOITE ASSIM, ESCURA E VAZIA QUE O NENÊ PEDIU O AMAMENTAR...
DONA GROJA, ESSE É SEU APELIDO DE INFÃNCIA, TATEOU NA ESCURIDÃO ATÉ LOCALIZAR SEU BEBÊ QUE CHORAVA AO BERÇO.
COM A CRIANÇA AO COLO, AINDA NO PLENO ESCURO, SE LOCALIZA NA COZINHA E PERDIDA NA ESCURIDÃO, TENTA CONSEGUIR APANHAR A CAIXA DE FÓSFOROS. PROCURA E PROCURA. NADA ACHA. COMO PRECISA DO FÓSFORO PARA ACENDER O FOGO E FAZER A MAMADEIRA DA CRIANÇA, NÃO SE INTIMIDA E ABRE A PORTA DA COZINHA E SAI LÁ FORA, NA NOITE VAZIA E ESCURA. TALVEZ O TEMOR, TALVEZ A AGRURA, TALVEZ O CANSAÇO, ELA SAI PELA BEIRADA DA CASA SOLTANDO UMA FRASE INOPORTUNA:
- "SERÁ QUE O DEMONIO CARREGOU?".
ALI, PERTO DA CERCA, ÍA CHAMAR SUA IRMÃ, QUE MORA NA CASA AO LADO, PARA QUE ESTA LHE ARRANJASSE O FÓSFORO. NO ENTANTO, COMO UMA MÚSICA, AO LONGE ELA ESCUTOU AQUELE CONHECIDO SOM QUE SE FAZ AO TAMBORILAR NA CAIXA DE FÓSFORO, COMO OS SAMBISTAS, PAGODEIROS O FAZEM ATÉ HOJE.
ELA APRUMOU-SE TODA E COLOCOU-SE A OUVIR.
O SOM FICOU MAIS NÍTIDO. PARECEU-LHE QUE VINHA DALI MESMO. PENSOU SER O ESPOSO A BRINCAR COM ELA. MAS NÃO O VIU.
A MÚSICA CONTINUAVA. E ELA REPAROU QUE VINHA DE CIMA DO TELHADO. ISSO A DEIXOU ARREPIADA DE MEDO AO MESMO TEMPO QUE VIA A LUZ DA LUA FICAR MAIS FORTE. ILUMINAVA TUDO. E VIU NO CHÃO DE TERRA BATIDA UM VULTO QUE SE FORMAVA ANTE A LUMINOSIDADE DO RAIO DE LUAR.
O VULTO PARECIA CRESCER EM TAMANHO E DE REPENTE, PULOU LÁ DO ALTO DO TELHADO À FRENTE DELA. PARECIA-LHE UM GORILA GRANDE, IMENSO. A MÚSICA CONTINUAVA A SER TOCADA NA CAIXA DE FÓSFORO. O SOM VINHA LÁ DO ALTO DO TELHADO.
AQUELE BICHO EM MOVIMENTO LENTO E SILENCIOSO POSTOU AS GARRAS PARA A FRENTE E TENTOU TIRAR-LHE A CRIANÇA QUE ORA SE ANINHAVA DE ENCONTRO AO PEITO DA MÃE.
ELA, SE AFASTAVA ANTE ESSE MOVIMENTO.
PARECIA-LHE TUDO MUITO LENTO. SUA COORDENAÇÃO MOTORA PARECIA NÃO CONDIZER COM QUE ELA QUERIA. ELA QUERIA CORRER PARA DENTRO DE CASA, SE ESCONDER, FUGIR DALI. MAS SEUS PÉS PARECIAM NÃO LHE ATENDER.
USANDO DE TODAS AS SUAS FORÇAS RESTANTES, EM MARCHA RÉ, FOI ADENTRANDO A COZINHA ATÉ QUE CONSEGUIU PUXAR O TRINCO DA PORTA E FECHÁ-LA COM UM ESFORÇO ENORME, QUE FEZ COM QUE A PORTA SE FECHASSE COM UM GRANDE ESTRONDO.
AINDA TEVE QUE FICAR EMPURRANDO A PORTA CONTRA O BATENTE PORQUE VIA A GARRA DAQUELE BICHO ALI, PRESA. ELA A VIA TÃO NITIDAMENTE COMO SE O RAIO DE LUAR FIZESSE UM FOCO NAQUELE LUGAR MOSTRANDO-LHE A TERRÍVEL GARRA.
COM SUA CORAGEM, FEZ COM QUE A PORTA POR COMPLETO CERRASSE.
A LUZ SUMIU E A GARRA TAMBÉM.
O BARULHO DA CAIXA DE FÓSFORO TAMBÉM CEDEU.
A CRIANÇA DORMIU. E ELA, AINDA ATÔNITA SE DIRIGIU AO QUARTO ONDE O MARIDO LHE AGUARDAVA UM TANTO ASSUSTADO POR TER ESCUTADO O BARULHO DA PORTA A SE FECHAR.
ESTE LHE PERGUNTOU O QUE HOUVERA E ELA SIMPLESMENTE DISSE:
- NADA, DORME!
DAQUELE DIA EM DIANTE ELA NÃO MAIS TEVE CORAGEM DE EXPRESSAR ALGO COMO AQUELA FRASE QUE DISSE NAQUELA NOITE. NEM CITAR MAIS ESSE NOME QUE AGORA TANTO TEME EM DIZER.
BASTOU-LHE UMA NOITE ESCURA E VAZIA PARA SABER O PREÇO DO SILÊNCIO!
(milena medeiros- histórias de minha mãe e eu- 09/10/2011-02:26h)
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