NÃO ACORDE JOSÉ

Cinco horas da manhã, é o que tentam dizer os raios do grande astro ao espremer-se por entre as frechas da porta do cubículo onde encontra-se o personagem desta breve narrativa. Seu nome é José, como muitos, mas igual a poucos. Falta exatamente uma hora para José acordar e da início a sua rotina,e fazem exatamente duas horas que José deitou no seu leito duro e podre , a última hora passa rápido, impressionantemente mais rápido que as anteriores e o previsível acontece.

José acorda de seu sono como que fugindo de um pesadelo, tomado de medo, sono ,cansaço e confusão,sem pensar segue em direção a porta na intenção de dar início a sua monótona rotina,com a mesma roupa que dormia, com os cabelos espalhados desordenadamente pela sua cabeça,cara inchada e exalando um mal humor medonho,mas ele iria cumprir seu papel medíocre, pelo menos é o que ele pensava que ia fazer, não iria...não... ele não iria sair daquele ambiente escuro,não por causa de uma noite mal dormida e sim por causa de algo maior,algo até misterioso e porque não divino, José não poderia seguir sua vida simplesmente porque José não tinha mais vida , pelo menos não uma a ser vivida fora daquele cubículo escuro, fedorento e úmido.

No exato momento que José tocava a porta para sair , o tempo , espaço e lógica embaralhavam-se numa valsa macabra e tortuosa, ao invés de sair, ele voltava a dormir aquele sono mal dormido, o mesmo sono do qual despertaria mais tarde com muito mais cansaço, muito mais medo e muito mais dúvidas,e isso iria se repetir a cada dia, tudo ficaria mais doloroso, uma dor atenuada pela dúvida e o medo.

José não sabia, mas ele estava morto,a sua cama na verdade era um caixão barato de madeira vagabunda, o que ele achava que era o quarto era um mausoléu da família que havia sido construído a mais de 70 anos , e era ali onde ele estava preso, dentro de um mausoléu no cemitério municipal, tendo como companhia ratos e seu próprio cadáver em decomposição, com quem dava de cara toda vês que acordava pra se perder de novo neste ciclo penoso

Evalldo
Enviado por Evalldo em 16/08/2011
Código do texto: T3164337
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