Terra dos Sonhos: Martha Parte I: Com o que sonham os mortos?
Interlúdio I:
A cabeça de um contador de histórias, é um terreno fértil.
Na minha cabeça, sonhos, contos e histórias seguem o seu curso.
Os mundos, pessoas e personagens que crio, são reais e pensam que nós é que somos o sonho.
Na minha mente agora, a história da pequena Martha espera para ser contada.
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Terra dos Sonhos: Martha Parte I: Com o que sonham os mortos?
Martha é um pequeno fantasma, presa numa imensa biblioteca.
Como todos os fantasmas que habitam por muito tempo um local depois de sua ida, Martha tem uma pendência, um assunto mal resolvido que a prende ao mundo dos vivos.
Ela vaga pelos corredores empoeirados à noite, quando todos já foram embora.
Ela desliza pelo piso frio que ela não mais consegue sentir.
Entre as estantes que se erguem até o teto, com o cheiro de mofo dos livros mais antigos que ela não é mais capaz de perceber, ela procura.
Martha morreu à muito tempo... à quanto, ela não sabe. Ela não se lembra mais de muita coisa de quando ela era viva ou de como morreu.
Mas de uma coisa, ela sabe: ela tem que achar o livro. Quando ela encontrar o livro certo, tudo vai ficar bem.
Martha não tem a mínima idéia de como seja o livro ou da sua localização. E ela já está vagando à tanto tempo pela biblioteca e mesmo assim, ainda não conseguiu encontrar o que procura.
Às vezes, Martha tem medo de encontrar o livro. Ela não sabe o que vai acontecer com ela.
Ninguém explicou nada para ela ou disse como fazer para cumprir sua triste sina.
Ela estava sozinha na biblioteca. Ela e sua busca.
Durante o dia, Martha se esconde nas catacumbas da biblioteca, um local abandonado e esquecido por todos. Lá, em meio à sua aflição, por mais impossível que seja na sua condição, Martha dorme.
Os vivos, geralmente sonham com o que desejam, fantasias e coisas impossíveis.
O sono de Martha é conturbado... mas mesmo estando morta, ela ainda sonha.
E com o que sonham os mortos?
Os mortos, sonham com coisas que podiam fazer quando ainda eram vivos.
Na escuridão protetora das catacumbas, Martha, a pequena fantasma sonha:
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Ela percorre mais uma vez os corredores tortuosos da biblioteca... mas desta vez, tudo está diferente.
Ela pode sentir o chão frio sob os seus pés.
Ela saboreia o cheiro do mofo e a poeira suspensa no ar da biblioteca.
Ela sente a sensação solene da sabedoria contida em cada livro, estante e tijolo desta antiga construção.
Luz forte entra pelas janelas, iluminando todos os recintos da biblioteca, enchendo o lugar de vida.
Só uma coisa não mudou: Martha continua procurando o livro.
Mesmo nos seus sonhos, a busca sem-fim jamais encontra trégua. Ela sente que está muito próxima de encontrar o que procura. Ela sabe com a lógica que só os sonhos são capazes de ter, que quando ela achar o livro, tudo vai se resolver.
Mas então, quando ela chega à entrada de um corredor que ela jurava que ainda não tinha visto, a escuridão toma conta da biblioteca.
A escuridão avança na direção de Martha e por mais que ela corra, nunca consegue escapar.
E as trevas tomam conta de tudo.
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É assim que Martha desperta: no escuro das catacumbas... sozinha.
Seu pesadelo, está longe de terminar.
Lágrimas etéreas correm pelo seu rosto, mas ela não pode sentir... ela não sente mais nada.
E mais uma vez, ela flutua no ar, atravessando rochas, concreto e paredes e emergindo na biblioteca vazia.
Ela retoma à sua triste rotina e desaparece no corredor próximo, atrás de um livro que ela sequer sabe se existe.
Fim da Parte I
Denis Correia Ferreira,
O Poeta das horas vagas
15,23/10/2007~23:09
Copyright © 2007,2008,2009,2010 by Denis Correia Ferreira “Dreamaker”.
Copyright desta edição © 2007 by Denis Correia Ferreira “Dreamaker”.
N.D.A.: Na época em que eu escrevi a 1ª parte deste conto, eu usava o pseudônimo "O Poeta das horas vagas", uma alusão à eu ser um Poeta amador.
Tenho deixado para postar contos no meu blog, mas me deu vontade de postar este aqui. É um conto muito especial para mim... uma história que demorou quase três anos para ser concluído. Espero que gostem.
Esta história está dividida em três partes. Em breve, postarei a segunda.
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