Tranque todas as janelas, se não…
Era uma noite como qualquer outra: escura e solitária. A lua não tinha nem se dado ao trabalho de aparecer, e as estrelas também estavam apagadas, ou talvez só estivessem com medo do temporal. Do lado de fora da pequena casa, parecia que tinha chegado os fins dos tempos, o vento uivava ao sacudir com força as pequenas arvores que se ladeavam com a violência, a chuva caia para lavar o mundo, e os trovões embalavam a noite. Sofia se encolhia embaixo das cobertas, não por medo, mas sim porque estava muito frio e estava com preguiça de levantar para buscar outra coberta. Assistia a um filme qualquer que estava passando na TV, sem muita vontade, só para driblar a insônia. Seus pais já estavam dormindo e a casa estava em silêncio, apenas um maldito cachorro latia em algum lugar na vizinhança. Talvez a causa da insônia de Sofia fosse a raiva, que tomava seu corpo como veneno. Olhou o relógio: 2 da madrugada. Imaginou o que suas amigas estariam fazendo, provavelmente rindo e falando alguma bobagem, se divertindo juntas, mas ela estava ali, em casa e sozinha. Gostaria de poder da um soco em alguém.
Não conseguia acreditar que não pode ir passar a noite na casa da Fernanda. Ela e as garotas tinham planejado aquela noite fazia semanas, já sabiam o filme que assistiriam, o que comeriam, acho que até do que conversariam. E só porque ela tinha se esquecido de buscar a peste da sua irmã na escolinha, estava de castigo. Ninguém imagina como Sofia gostaria de matar aquela piralha.
Suspirou. Aquela era uma oportunidade única, A chance perfeita para elas e as amigas fazerem uma festa do pijama sem ninguém por perto, já que os pais da Fernanda não estavam. Mas ela não pode ir porque estava de castigo.
“Merda” resmungou Sofia
Fazer o que? Só podia se consolar e conversar amanha com as amigas para descobrir o que tinham feito de bom.
Uma batida na porta.
-Maninha. – uma voz tremula chamou do outro lado da porta.
-O que é garota? – perguntei irritada.
-abre, por favor. – sua voz era chorosa.
Sofia se levantou de mau gosto, abriu a porta e fuzilou com os olhos a garotinha de pijama lilás parada na sua porta e abraçada em um urso de pelúcia.
-O que é que foi? – sua voz foi severa, de quem esta irritada.
-Tem alguma coisa caminhando em volta da casa e esta tentando entrar, quer me pegar – A pequena Isadora estava com olhos assustados e se abraçou nas pernas da irmã.
-Deixa de ser idiota não tem nada do rondando a casa. – disse tentando afastá-la.
-Tem sim. – soluçou ela.
Sofia suspirou cansada e pegou a criança no colo, com um pouco, só um pouco, de pena da irmã. A garota tinha a mania de ter medo de tudo.
-Vamos fazer assim, eu vou ver se todas as janelas e portas da casa estão trancas para ter certeza que ninguém vai entrar, ai depois disso você vai dormir. Tudo bem assim.
Isadora concordou com a cabeça e as duas saíram pela casa vendo se todas as janelas estavam bem trancadas. Quando chegaram à sala encontraram uma que estava destrancada, Sofia fechou-a e levou a irmã para cama.
-Agora vê se dorme. – disse indo embora do quarto.
-Ele ainda esta lá fora.
-Se tiver algo lá fora não pode entrar então esta todo mundo a salvo.
Pela manha ela foi para a escola apresada para encontrar as amigas, mas para sua decepção nenhuma delas apareceu. “dorminhocas” pensou Sofia magoada por não encontrar ninguém para conversar. Também não podia culpar as amigas aquele era um ótimo dia para dormir, estava horrível, cinzento e triste.
Depois da escola, foi até a casa de Fernanda, a casa estava em silencio total, e para sua sorte tinham esquecido a porta da frente destrancada. Entrou pé por pé para assustar as outras garotas que deviam ainda estar dormindo. Encontrou os quatros sacos de dormir espalhados pela sala e as garotas dentro deles.
O grito de Sofia estremeceu o lugar. Deu dois passos para trás sem acreditar no que via, tremia como vara verde.
“Não pode ser” pensou ela.
O tapete da sala estava banhado em sangue, as quatro garotas tinham o pescoço cortado e os olhos abertos e parados no tempo. Procurou com a mão tremula o celular no bolso, para ligar para policia. Ela tinha uma nova mensagem. Leu e soltou mais um grito, deixou o celular cair de suas mãos e saiu correndo dali, mal conseguindo pensar direito
No chão da sala o celular exibia a seguinte mensagem: quatro já foram, falta uma. Teve sorte ontem, mas um dia você vai esquecer a janela aberta, e dai...