O Coveiro de Satã

Augustine observava satisfeita, tomando seu vinho tinto, a beira da cama, a agonia terrível de sua madrasta suplicando clemência. A doente tinha a aparência cadavérica. O rosto chupado com as salientes olheiras destacando-se na horrenda face. Os cabelos negros caíam pelo rosto e misturavam-se com a oleosidade da sua pele, tornando-os uma pasta sebosa que dava nausêas. A camisola dançava em seu corpo esquelético com feridas pustulentas. Antonella, a sua madrasta, adoeceu devido aos mal tratos e as poções de veneno que Augustine dava de tomar a ela. Nutria um ódio muito forte, queria matá-la a todo custo. Ela tinha 20 anos, quando seu pai e Antonella casaram-se e depois de 6 meses, seu amado pai, havia morrido em circunstâncias misteriosas. E ela, sabia, que foi Antonella. O matou para gozar da fortuna dele. O cadáver do seu falecido pai nem tinha esfriado no caixão e ela já estava recebendo seus inúmeros amantes em sua casa, na casa que era dela, de Augustine.

Antonella, era belíssima e não foi ao acaso que Fernand apaixonou-se e deu tudo a ela. Tinha uma vida de rainha. Só que desde que Augustine a conheceu, sentiu asco e sua intuição dizia que ela era má. Antonella humilhava Augustine por ela ser doce, meiga e ter uma aparência angelical; loura de cabelos cacheados até a cintura, olhos cinzentos e a pele muito clara. Antonella, tinha um temperamento agressivo, a energia sexual forte e cabelos e olhos muito negros que realçavam sua pele pálida. O ódio que as duas sentiam era recíproco. Passou dois anos da morte de seu pai e Augustine decidiu que mataria Antonella. Descobriu toda a arte da bruxaria escondida no porão de sua casa. Augustine lia todos os manuais, livros, rituais, receitas e foi esperta o suficiente para fazer Antonella adoecer com os próprios venenos, o mesmo que tinha matado seu pai Fernand.

Augustine não permitia que nenhum criado cuidasse de Antonella, o que dava a impressão de que era uma boa moça, dedicada e generosa. Mas longe disso, ela ficava sozinha com a madrasta para torturá-la e aplicar mais das poções venenosas.

Augustine, recém tinha chegado do cemitério e resolveu preparar a sopa para levá-la a Antonella. Subia as escadas com um largo sorriso nos lábios. Puxou a cadeira e sentou-se ao lado dela. Antonella estremeceu, não queria mais tomar sopas envenenadas mas era obrigada, pois Augustine batia nela até fazê-la gritar de dor e chorar.

-Bom dia, bruxa!

-Você me envenena e diz ainda que sou bruxa?

-E o que você merece, maldita!

-Você um dia entenderá..

-Ora, você tem que concordar comigo que sou mais inteligente que você, demônio!

-Augustine, você irá se arrepender!

-Sabe da onde eu estou voltando hoje? do cemitério! fui até ver a sua cova. Será enterrada bem longe dos meus pais. É a cova mais pavorosa daquele lugar. Dizem que quem for enterrado lá, não descansa. A alma vagueia no inferno e é para onde você vai, bruxa!(risos estridentes).

-Não comemore sua vitória por antecipação, Augustine.

-Chega de conversa, toma essa sopa, maldita!

Augustine socava a colher na boca de Antonella, que babava, o líquido esverdeado da sopa escorria de sua boca e manchava sua camisola. Engasgava-se, tossindo e vomitava no chão, ao fazer isso Augustine a esbofeteava e gritava com ela -Coma, sua imunda! -demônio dos infernos!

Ela gritava -Pará Augustine, tenha piedade! -compaixão!

Augustine virava o prato e saía batendo a porta com força, deixando Antonella aos prantos suja e aos berros.

Augustine depois de mais um dia resolveu voltar ao cemitério para conversar com o responsável, o coveiro. Da outra vez, não conseguiu falar com ele. Só tinha visto a futura cova de sua madastra e ela sabia que era aquela.Todos na cidade tinham pavor da cova. Diziam que Lúcifer repousava quando era do seu agrado naquele exato lugar. E quando ele subia do inferno, a terra revolvia-se e as árvores balançavam tanto que pareciam estar sendo arrancadas. E chovia água fétida somente no cemitério. Se era lenda ou não, isso não importava, só queria ter o prazer de enterrar Antonella ali, no sono de Lúcifer. Augustine riu parada frente a cova medonha, quando sentiu uma mão em suas costas.

-O que procuras, jovem?

-Quero ser proprietária desse terreno, pois minha madrasta está a beira da morte e quero antecipar os papéis para quando ela morrer.

-Entendo, jovem Augustine,

-Como sabe o meu nome? nunca te falei e você nem me conhece!

-Ora, jovem, você não conhece muitas coisas..

-E qual é seu nome, coveiro?

-O meu nome não é importante Augustine, mas o seu, sim.

-Não entendo.

-Vamos cuidar da parte burocrática então. Siga-me para o escritório.

-Tudo bem.

Seguiram-se, andando entre as tumbas do sinistro cemitério. Augustine estava com má impressão daquilo, embora a beleza do coveiro a seduzisse e a conforta-se. Chegaram na sala do escritório. Havia uma grande mesa de madeira nobre e uma estante que fazia um L. Para quê um cemitério precisava de tantos arquivos? o lugar era limpo, arrumado, só que não era agradável. Dava medo. O coveiro percebeu que Augustine estava perturbada e pousou a mão no ombro dela

- Calma, doce Augustine, terminaremos logo. Eu prometo!

-Desculpe-me.

O coveiro colocou os papéis em cima da mesa e explicou os procedimentos da transação. A voz dele, fazia Augustine tremer e sonhar. Parecia que a cada som que ele emitia, a embriagava de lhe causar tonturas. Não suportando mais aquele estado patético, ela resolveu que sairia dali. O coveiro retirou seu capuz, e ela notou o rosto dele, era perfeito com grandes e brilhantes olhos azuis e nunca tinha visto um homem tão belo. O cabelo era lindamente curto em um tom castanho claro e a boca, era convidativa para os beijos. Ela sentiu que ia desmaiar, quando o coveiro a segurou pela cintura.

-Calma, Augustine. Estamos iniciando apenas.

-Por favor, deixe-me ir. (Sua voz era apenas um susurro.)

O coveiro a abraçava forte e ela sentiu arrepios que deixou suas pernas tremerem, estava desejando o coveiro, teve um pensamento rápido "Desejo que ele me ame" e ao pensar nisso, corrigiu-se e o coveiro sorriu para ela e a beijou delicadamente nos lábios. Quando Augustine percebeu o que acontecia, ela já estava sendo possuída pelo belo e forte coveiro no chão do escritório do cemitério. Ela puxava os cabelos meio dourados do coveiro e o trazia para sí, até gozar exausta por debaixo dele. Ele a fitou e riu maliciosamente e sussurou nos ouvidos dela "minha doce feitiçeira Augustine". Ela ficou sem entender e cansada demais adormeceu nos braços dele.

Quando Augustine acordou, estava deitada nua em sua cama. Ao lembrar de tudo, teve um súbito e amargo arrependimento. Como se não bastasse ter feito sexo com o coveiro no cemitério, ainda tinha permitido que ele entrasse em sua casa e a possuísse em sua cama. "Aonde eu estava com a cabeça? que espécie de homem era aquele? estou com o meu corpo todo dolorido. Santo Deus e se eu gerar um filho daquele coveiro? eu não sei nada sobre ele, nem o seu nome." Levantou-se e foi tomar um banho pois sentia-se imunda. Ao vestir-se, resolveu ir até o quarto que ela aprisionava a madrasta e ela estava com a cabeça caída por um lado da cama. Foi até lá e colocou as mãos no rosto dela, muito gelada. Finalmente a maldita tinha morrido! ficou tão feliz que avisou a funerária para levar o corpo direto ao cemitério. Não houve velório e ninguém foi comunicado da morte de Antonella. Augustine foi depois para o cemitério, quando sua madrasta jazia na cova amaldiçoada. Ela chegou ao cemitério e dirigiu-se até a sepultura da sua falecida madrasta com alegria; parou em frente e teve um acesso de risos. Ela sentiu que alguém estava atrás dela e virou-se, era o coveiro.

-Doce, Augustine. Acho que agora você está feliz!

-Sim, estou. Como sabes?

-Eu sei de tudo!

Ela tremeu de medo.

-Te direi meu nome -Adramelech. Sou presidente do Alto Conselho de Satanás, grande chanceler do Inferno e vigia desta tumba!

Ela quase desmaiou.

-Não tenha medo, doce Augustine. Você não precisará mais se encomodar com a sua madrasta e nem pagar as despesas de nada, pois já foi pago. Inclusive o repouso da alma dela no inferno é uma cortesia do meu mestre.

-Como assim? já foi pago? Eu não paguei nada. Que mestre?

-Sua mãe pagou quando você nasceu. E o mestre é o próprio Satanás.

-Como assim?

-Na verdade Augustine, sua mãe, Bella era bruxa e não a sua madrasta. Sua mãe queria o Amor de Fernand e prometeu você ao mestre, quando nascesse. Bella tem uma marca nas costas e você também tem. É a marca das nossas feitiçeiras. Bella que era má e foi ela que roubou Fernand de Antonella quando mais nova, e depois que morreu, Antonella e Fernand casaram-se. E todos aqueles livros de bruxaria são de Bella e não de Antonella.

Augustine lembrou-se das palavras de sua madrasta -Vai se arrepender!

-Onde eu entro na história, demônio?

-Simples, doce Augustine! você tornou-se uma feitiçeira mais poderosa que Bella e através de você, eu, Adramelech posso cuidar de meus assuntos na terra.

-Como assim?

-Você e sua geração fizeram um elo comigo!

-Você está louco?

-Doce Augustine, não se lembra de como você gostou de fazer amor comigo?

-O quê?

-Você espera uma criança, minha! uma menina! para que através dela seja dado continuação aos meus interesses.

Augustine quase caiu, quando o demônio a segurou e disse nos ouvidos dela:-Cuide do meu bebê. E o nome dela será Pandora.

Ao dizer isso, o coveiro do satã desapareceu do cemitério e Augustine foi embora para casa desconsolada. Gerou um filho do demônio.

Nove meses depois Augustine estava aos berros em seu quarto com a parteira. Estava exausta e enxarcada de suor. Sofria há 9 horas e o bebê não vinha. A parteira dizia -Reze, Augustine.

Ela chorava de dor. Quando estava entregando-se a morte, o coveiro entrou no quarto para espanto da parteira -Saía daí, inútil, eu farei o parto. Ele jogou água no rosto de Augustine -Doce, Augustine, força querida! força!. Augustine voltou a sí e fez toda a força quanto pôde e ouviu-se um chorinho de bebê. Nasceu Pandora. A parteira olhava chocada o belo homem vestido de preto embalando em um pano branco a bonita menina que tinha nascido. Ele mostrou a bebê para a mãe e ela chorou tomando a criança -Minha bebê. O coveiro pegou a menininha do colo de Augustine e disse a ela -Nossa Pandora. Augustine adormeceu exausta, enquanto a parteira assistia atônita a cena. O enigmático e lindo homem disse a ela -Essa criança é especial. Olhou para a bebê e depois para a parteira e riu sarcasticamente para ela, que assustada saiu da casa de Augustine correndo e muda.

O coveiro embalava a bebê que ria docemente para ele -Minha Pandora!

Anna Azevedo
Enviado por Anna Azevedo em 06/06/2011
Reeditado em 06/06/2011
Código do texto: T3017785
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