Zona do pesadelo - Final
Agradeço a todos que acompanham os meus contos.
Desculpem a demora. Eis o final.
5º dia
A casa era simples, porém espaçosa. Nela moravam o pai Fernando, a irmã Vanessa e a tia solteira Vera que tinha 2 meninos gêmeos de 3 anos, Lucas e Mateus. Até o ano passado Daniel residia na casa, mas os constantes conflitos com o pai, o fizeram resolver-se em morar sozinho pelo bem da amizade deles e também já achava que era hora, pois estava com 24 anos.
Ao chegar ao local foi recebido com muita euforia pelos primos.
- Nossa! Meninos como vocês estão grandes! – havia quase um ano que não os via desde que leu o pergaminho.
- Tio trouxe presente pra gente?- (Os meninos o chamavam de tio) perguntou Lucas tentando revistar a mochila de Daniel.
- Que modos são esses Lucas? – repreendeu Vera que tinha assistido a tudo.
- Desculpe a falta de educação desses meninos, mas não sou eu a culpada – disse rindo, abraçando o sobrinho e lhe dando um estalado beijo no rosto.
- Que isso tia, é coisa de criança – disse para tia retribuindo o beijo e se voltando para os meninos disse: - É claro que tem presente para vocês – as crianças quase se explodiram de felicidade.
- E pra mim tem presente também? – quis saber Vanessa que chegava do cursinho. Daniel parou e a fitou com uma expressão triste.
- O que foi maninho algum problema – perguntou Vanessa indo para mais perto do irmão e lhe dando um abraço. Daniel a abraçou.
- Não é nada querida é que você está linda – disse com emoção.
- Ah! Por favor, já basta o papai – disse se desvencilhando dos braços do irmão.
- Falando dele, onde ele está?
- Está descansando. Assim que soube que você viria ele se emocionou e acabou passando mal. A pressão – explicou Vera – Então, vamos entrando? A propósito, você não disse que chegaria pela manhã? – Perguntou Vera.
- É, eu disse só que surgiu uns contra tempo – respondeu, e para mudar de assunto perguntou – E o que tem para o almoço to morrendo de fome?
Daniel havia chegado a cidade pela manhã, porém decidiu dar umas voltas antes de ir para casa.
Após matar as saudades do pai e conversarem depois do almoço, Daniel retirou-se para o seu antigo quarto, alegando cansaço, ninguém contestou, pois sua cara estava péssima. Trancou a porta e tirou a camisa. Desenrolou as ataduras que cobriam o ferimento. Fez uma careta ao sentir o odor fétido. Foi até sua mochila e tirou um vidrinho, muito parecido com uma ampola. Abriu o vidro e o levou à ferida que já escorria o liquido negro, coletou uns 10 ml, depois de coletado pegou o liquido e o pingou dentro do copo com água que havia trago da cozinha. Viu a gota escura penetrar na água límpida e segundos depois se dissolver. Cheirou a água. Sem cheiro. Jogou água dentro da pia do banheiro que ficava no corredor. Voltou para o quarto e esperou a hora de por o plano em pratica. Sentia muito pela família, mas não queria viver em tormentos pelo resto da vida.
Vera bateu na porta do quarto levemente chamando por Daniel que respondeu prontamente. Vera informou sobre o jantar. Durante o mesmo Daniel dissimulou muito bem.
- Queridos vou buscar a sobremesa – anunciou Vera.
- Tia fica sentada, eu pego – se ofereceu Daniel se levantando da cadeira.
Na cozinha, rapidamente ele pegou o liquido e pingou em cima do mousse de maracujá que a tia havia preparado, sentiu não poder comer aquela sobremesa que ele tanto adorava, com esse pensamento surgiu a culpa por estar pensando numa maldita sobremesa em vez da família. E os primos ficariam com quem? Provavelmente o juiz o chamaria para tutela isso se não o ligassem aos assassinatos. Resolveu fazer o serviço completo, não seria justo deixar os meninos sem mãe. Ouviu a irmã o chamando da sala.
- Já vou – respondeu. Mas antes de ir para sala com a sobremesa, tirou um pouco do mousse e o jogou na pia abriu a torneira e deixou a água cair até não sobrar vestígio.
- Pronto. Gente desculpe a demora é que eu não resisti e comi um pedaço – se desculpou vingidamente.
- Um pedaço! Foi quase a metade do mousse! – reclamou Vanessa – Não vai mais comer – completou. Daniel deu de ombros e ficou a observar a família degustando a deliciosa sobremesa. Fez menção de se levantar, porém mudou de idéia. Pensou na conversa que teve mais cedo quando conseguiu dormir um pouco.
“Você de novo? Sei o que quer saber” disse lendo os pensamentos de Daniel.
- Então responda – pediu monótono.
“Não entendeu não é? Desde o momento em que entrastes em minha casa, tua alma foi por mim aprisionada, ela me pertence. Se te matares virá para mim. Estou te dando uma chance, onde eu me beneficiarei e você também”
- QUEM É VOCÊ? – gritou Daniel, porém teve uma risada cínica em reposta e mais uma vez se sentiu sendo empurrado para fora do sonho.
Não adiantaria me matar, pensou.
- Família - Daniel pediu atenção fazendo com que todos se voltassem para ele.
- Eu gostaria de pedir desculpas pelo tempo que passei longe de vocês e dizer que os amo muito – disse emocionado.
- Bom eu... Vou voltar para o quarto, ainda me sinto cansado. Ficou no quarto a noite toda. De tempo em tempo cochilava. Queria saber o que estava acontecendo com seus parentes, mas não tinha coragem de descer. Às 04:00h pegou sua mochila e antes de pular a janela pensou que seria muita covardia se ele fosse embora assim. Desceu as escadas. Na sala encontrou Vanessa e o pai, sentados no sofá. A TV e o vídeo estavam ligados, porém sem imagem. Se aproximou do pai. Gelado. Sem respiração. Constatou o mesmo na irmã. A tia estava sentada no outro sofá junto com os sobrinhos um de cada lado da mulher. Estavam todos mortos. Sentiu que ia sufocar. Abriu a porta da sala e saiu tendo o cuidado antes de fechar todas as janelas e trancar a porta. Só faltava mais um último trabalho para se ver livre.
6º Dia
Daniel chegou em casa por volta das 10:00h da manhã. Sentiasse exausto fisicamente e emocionalmente. Fazia um enorme esforço para não se lembrar do que fizera, tanto que comprou uma garrafa de wysk e tomou até a metade. Adormeceu. Sonhou. A principio era um sonho normal até que agradável do qual não tinha há muito tempo, porém o final foi alarmante e assustador.
Daniel estava em uma praia observando o horizonte. Uma brisa gostosa passava pelo seu rosto. Daniel deitou na areia e se pôs a fitar o céu. “Daniel” chamava uma familiar voz feminina. Daniel abriu os olhos e se levantou tentando captar de onde vinha a voz. Já não estava mais em uma praia, era sua antiga casa. A voz vinha de dentro dela. Um vento frio fez Daniel estremecer. Olhou ao redor notando que o céu que outrora estava de um azul celeste dera lugar a um tom violáceo. Se voltou para a porta principal quando de relance percebeu que se abria. Não havia luz no interior da casa. Daniel não queria entrar ali, porém algo o impeliu. Assim que o jovem passou pela porta esta se fechou e no mesmo instante as luzes foram acessas revelando um cenário que fez Daniel se voltar desesperado tentando abrir a porta. Os cadáveres de sua família estavam de pé com suas bocas escancaradas deixando amostra um buraco negro de onde se via suas almas em suplicio, seus olhos eram de um branco azulado contrastando com o tom queimado da pele em carne viva. Ele parou quando sentiu um bafo quente em cima de si. Se voltou lentamente e se viu diante de uma criatura em chamas que notou ser parecido com seu pai. Acordou suando frio. Tentou levantar, porém ficou tonto e foi ao chão não agüentou e vomitou tudo o que havia comido e bebido. E em meio ao vomito se pôs a chorar. Um barulho de objetos caindo na cozinha chamaram sua atenção. Pegou o ferro de passar e devagar andou até o local. Mesmo escuro pode ver um vulto de costas. Daniel acendeu a luz e por alguns segundos Daniel viu o vulto se virar, era uma mulher. Um dos olhos saltava das órbitas sendo sustentado apenas por uma membrana, estava devorando um rato se via as tripas do bichinho em sua boca. Daniel viu quando ela engoliu o rato e depois pegou o olho que estava pendurado e comeu. Daniel deu um grito o que chamou a atenção da mulher que ao perceber correu em sua direção com a boca escancarada. As luzes se apagaram voltando no segundo seguinte. Não havia mais nada. Tudo estava normal. Daniel sabia o que estava acontecendo, olhou o relógio que marcava 19:32h. Em 20 minutos já se encontrava dentro do carro dando partida. Tinha que ser rápido. “Maldição. Não devia ter bebido tanto” pensou desesperado. Ele mesmo demorou meses para ler o pergaminho. No caminho teve uma idéia genial. Passou no caixa eletrônico sacou 5 mil reais e foi para um bar. Estacionou o carro. E antes de entrar deu uma ageitada na aparência. Por ainda ser cedo o bar estava meio vazio. Viu um jovem aparentando ter uns 19anos sentado.
- Boa noite – cumprimentou Daniel já sabendo o que falar. O garoto o olhou de cima em baixo e virou a cara.
- Cai fora – disse num tom nada amistoso. Isso deu forças para Daniel ir em frente.
- Meu nome é Daniel e eu queria te fazer uma proposta – o garoto o olhou e se levantou pronto para uma briga, Daniel foi rápido na explicação.
- Calma amigo não é nada disso que está pensando – o rapaz parou e esperou.
Daniel tirou do bolso um envelope revelando o seu interior o que deixou o rapaz interessado.
- Meu nome é Rodrigo – se apresentou – E qual é o negocio?
- Muito simples eu só quero que você leia em voz alta o que está escrito neste papel – disse Daniel mostrando o pergaminho.
- Que parada é essa? É macumba? – perguntou Rodrigo com gozação.
- Olha se você não quiser eu escolho outra pessoa. Isso é só uma promessa que estou pagando – mentiu. Rodrigo que estava naquele bar desde cedo pensando em um jeito de ganha uma boa grana, deu de ombros, pegou o pergaminho e leu as escritas, ao final Daniel o entregou o envelope. Agradeceu e foi para casa aliviado. Chegou em casa por volta das 22:00h da noite. Tomou um banho prolongado e assim que deitou na cama ouviu a campanhia tocar. Desceu ressabiado, quem seria àquela hora da noite. Abriu a porta. E foi recepcionado por dois homens.
- Boa noite. O senhor é Daniel Franquini Paiva? – perguntou o homem mais baixo.
- Sou sim por quê? – em resposta Daniel viu quando o homem mais alto tirou de dentro da jaqueta uma arma com um silenciador e o apontou para sua cabeça apertando o gatilho.
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- E aí gata qual é a boa? - Perguntou Rodrigo que havia chegado a casa da namorada e a encontrara vidrada olhando para tv.
- Parece que foi um assassinato. O nome do cara é Daniel. Morreu na madrugada de ontem. Disseram que a família dele também foi assassinada com um tipo de veneno. Dizem que ele começou a ganhar dinheiro muito rápido o que o fez ganhar alguns desafetos – disse. Rodrigo foi até a cozinha pegar algo para comer voltou no momento exato que aparecia uma foto de Daniel.
- Caramba!
- O que foi Rodrigo? – se preocupou Janaina.
- Esse é o cara que me deu o dinheiro - disse Rodrigo espantado.
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- AAAAHHHH... EU FIZ TUDO O QUE DISSE PARA FAZER... POR QUE ESTOU AQUIIIIIII?– gritou Daniel num misto de dor e agonia.
Daniel estava numa cama amarrado sendo devorado por aqueles que um dia foram sua família. Daniel sentia cada dentada, cada órgão sendo arrancado de seu corpo.
- QUANDO ISSO VAI ACABARRRRR? – Daniel ouviu a conhecida risada, porém não vinha mais de sua mente. Viu um ser encapuzado a sua frente que fez um sinal para que os zombis deixassem o corpo.
- Daniel, Daniel. Eu te disse que se morresse sua alma seria minha.
- Não, você disse que se eu fizesse o que disse eu não viria para cá – disse um Daniel angustiado.
- Sim eu disse, mas também disse que no momento em que colocou os pés aqui sua alma me pertencia. Você adquiriu inimigos no tempo em que ganhava dinheiro ilicitamente. Você morreu Daniel, era questão de tempo você estar aqui comigo. Não se preocupe – disse o ser se afastando – Eu não sou tão mal assim. Você terá um descanso de meia hora todos os dias – finalizou soltando uma prazerosa gargalhada. Assim que se viu sozinho Daniel sentiu novamente a dor que lhe seria fiel todos os dias de sua morte.
FiM