Anjo impuro!
A noite cai...
_ Seja franco comigo. Por favor! - acabo pedindo, ou melhor, implorando.
_ Eu simplesmente entreguei-me à isso. - ouço você murmurar melancólico.
O céu chora...
_ Não agüento mais isso! - sinto pena de você.
_ Eu te vejo cair, amor. - forço um sorriso, porém não é mais o bastante.
_ Nem o teu amor foi o bastante para me segurar! - tristes são tuas palavras.
O sangue substituiu tuas lágrimas...
_ Nossa, em pensar que tua infância foi perfeita! - digo fitando sua face...
_ Nada nunca foi perfeito para mim e sabes muito bem disso!!! - sinto a ira tomar conta de teu corpo.
_ Por que, têm que ser assim?! - indago triste.
_ Não sei... - parece-me verdadeiro.
_ A criança sorri, mas continuas triste. - um sussurro escapa por entre meus lábios.
_ Meu sorriso hoje é puro escárnio!
O mundo muda...
_ Sempre pensei em como seria. - ouço teu fio de voz.
_ Satisfeito? - meu sarcasmo machuca somente à mim.
_ Satisfação eu nunca terei, mas quem sabe aceitação? - diz isso com um sorriso de canto.
_ Como podes pensar em aceitar tal coisa?! - indago incrédula.
_ És minha condição de vida agora! - tuas palavras são carregadas de furia.
_ Tuas mudanças não definem mais você!
A vida passa...
_ Você um dia foi feliz? - pergunto curiosa.
Mas sinto medo da resposta...
_ Felicidade? Não sei, o que isso significa... - ficas pensativo por um tempo.
_ Não foi feliz comigo? - uma lágrima risca minha face, enquanto a tua continua impassivel como sempre.
_ Uma resposta sincera pode machucar-te.
_ Então... Não diga mais nada.
_ Eu avisei!
_ A tua vida passou rápido demais...
_ Vida? Não quer dizer morte? - sua ironia é mortal.
O coração se parte...
_ Onde a vida nos levou? - indago sem perceber.
_ Onde nos deixamos ser levados... - sua voz não tem emoção.
_ Teu coração há muito já partiu-se!
_ Já tive um coração?
_ Claro!
_ Não há nada que possa provar isto!
_ Sem argumentos...
_ Foi o que pensei!
Minha vida e minha morte?
Meu azar ou minha sorte?
Meu anjo e meu demônio?
O quê, és tu, meu amor?!
A lua brilha...
_ A quanto tempo não mais vejo o brilhar do teu olhar? - pergunto cabisbaixa.
_ Me fazes cada pegunta...
_ Apenas preciso de algumas respostas!
_ Teu sangue tem um gosto bom...
_ Isso não me interessa!!!
Banhe-me no teu sangue...
_ O luar cobre teu corpo calejado...
_ Sim, mas de nada adianta!
_ Sinto muito!
_ Não sinta, pois nem eu sinto!!!
Seu coração foi arrancado...
Minhas unhas rasgam você!
_ Eu não te amo... - é uma verdade que dói.
_ Não tenho mais o que dizer...
Fim...?