O observador
Carlos chegou bêbado em casa. Sua mulher, Sandra, olhou a hora quando ele chegou. Passava das 3h. Apenas de chambre, se levantou para dar uma bronca.
-Mas quem você pensa que é, para chegar essa hora?
O casal estava na cozinha.
-Você é um vagabundo, sabia? UM VAGABUNDO? Eu venho levando essas suas saídas numa boa, e até a Renata. É... Pensa que eu não sei dela? Seu imprestável – ela cuspiu no marido. – VOCÊ NÃO VALE NADA!
-CALA A BOCA! – gritou meio grogue.
Pegou uma faca em cima da pia e esfaqueou o ombro da mulher.
-AHH! Olha o que você fez! – ela começou a chorar.
-EU TAMBEM TO CANSADO DE VOCÊ – falou, embromando as palavras.
Deu outra facada nela. Dessa vez, fez passou de raspão.
-Eu vou chamar a polícia.
Botando a mão no ombro ensanguentando, ela correu para o telefone. O marido deu outra facada. Dessa vez nas costas. Sandra caiu no chão; o telefone voou de suas mãos. Carlos deu outra, e mais outra...
-SUA IMPRESTAVEL!
Quando se deu conta, ele estava sujo de sangue. A mulher estava morta. Carlos se levantou do chão. Olhou para o lado e viu que a janela estava com a veneziana aberta. Olhou para o ultimo andar de um prédio. De lá, podia ver a silhueta de um velho, observando-o.
-Maldito. Ele me viu. – murmurou.
Três dias depois.
Carlos foi até o prédio onde o senhor morava. Estava carregando uma sacola, onde continha ferramentas em que ele podia usar como arma. Entrou no elevador discretamente; sabia que o velho morava no ultimo andar. Pelo o que ele viu, o apartamento dele parecia mais uma mansão. Saiu do elevador. Continha apenas uma porta no andar.
-Deve ser aqui.
Tocou a capainha. Segundos depois, uma senhora idosa, que aparentava ser uma empregada, atendeu.
-Buenos dias. – disse, com sotaque espanhol.
-Bom dia, eu estou procurando o dono da casa. Eu... – não sabia o que falar. – Eu sou vim checar se o telefone está funcionando direito. Como a senhora pode ver, trouxe minha sacola caso eu precise fazer algumas modificações.
-Entre – ela deu espaço para Carlos entrar – Senhor Beltrandez já vai atendê-lo.
A empregada saiu de vista. Será que terei que matar a empregada também? Pensou Carlos. Pelos menos, são dois velhos.
Analisou o apartamento. A sala era, incrivelmente, grande. Tinha uma enorme mesa de janta e do lado dois sofás. Viu que do outro lado tinha uma mesa de pôquer. Carlos teve que rir. Imagina um velho jogando pôquer? No corredor, dava para ver que tinha mais aposentos e uma escada. A empregada apareceu.
-Ele já vai atende-lo.
Do corredor, viu que vinha um senhor. Ele estava usando cadeira de rodas.
-Bom dia. Estava esperando o senhor.
Quer dizer que ele devia ter mesmo um problema com o telefone.
-Vamos para a sala de estar?
Indicou o fundo do corredor. Segundos depois, Beltrandez, apertou um botão e sua cadeira começou a andar. A sala era enorme, com uma lareira, dois sofás e uma mesa de trabalho no fundo. Pendurado na parede, ficava um brasão com um desenho de vários tigres e uma mulher no meio, semi-nua com uma jarra, bebendo sangue. Carlos levou um choque quando viu aquilo. Beltrandez fechou a porta do escritório.
-Estava esperando por você, Carlos!
Ele se virou em um choque.
-O que você fez foi muito errado.
-Como você sabe meu nome? – ele estava com medo.
-Eu sei muitos nomes. Sei também que você veio aqui para me matar.
COMO ELE SABIA DISSO?!
-Então? O que está esperando? Me mate.
Carlos, tremendo, tirou da sacola, uma chave de fenda e correu e fincou em seu peito. O sangue começou a jorrar.
O homem recuou, e ficou vendo o homem, que nem demonstrava sinal de dor. Beltrandez, devagar, se levantou da cadeira de rodas. Ficou ereto e tirou a ferramenta de seu peito.
-Nossa, essa doeu.
-MAS COMO? VOCÊ DEVIA...
Não terminou de falar. Viu o machucado cicatrizar. Carlos botou a mão na boca. Estava em choque.
-Senhor Carlos, já ouviu falar em pactos com o diabo?
-Já, mas... – estava gaguejando – Eu não mexo com essas coisas.
-Quando eu era mais novo, sofri um acidente de carro. Fiquei paralítico. Meses depois vi em um programa de tv um documentário sobre seitas satânicas e etc. E ai, como estava muito deprimido, resolvi entrar em uma. Fiz um pacto com o diabo. Ele me devolveria minha locomoção novamente e em troca eu daria para ele pessoas que merecem ir para o inferno, pecadores, melhor assim dizendo.
-Como você faz isso? – ele perguntou em choque.
-Sacrifico-os.
O homem ia falar, mas Beltrandez continuou falando.
-Vinte anos se passou, e ai eu tive um encontro com ele.
-Com o diabo?
-Isso. Como eu andava fazendo tudo direitinho, resolveu me nomear como seu seguidor...
-ISSO É LOUCURA! – gritou.
-...Assim eu adquiri poderes surreais.
-EU VOU EMBORA DAQUI!
Carlos ia para a porta, mas Beltranez se pos na frente dele. Seus olhos estavam vermelhos. Piscavam que nem luzes de natal. Carlos recuou.
-O QUE VOCÊ QUER DE MIM? Quer me sacrificar? – estava chorando.
-Não. Se bem que o senhor é pecador. Quero que você assista um sacrifício.
-EU NÃO QUERO.
-Você conhece a moça.
Carlos fitou Beltrandez.
-A Renata vai adorar revê-lo pela ultima vez.
-ONDE ELA TÁ? – berrou Carlos.
-Lá em cima.
O homem escancarou a porta, e correu para as escadas. No outro andar, as piso era de madeira, o corredor estava todo empoeirado. Tinha varias portas para entrar. Na quinta, encontrou Renata. Estava amarrada pelos pés e pelas mãos. Estava de robe branco.
-Renata! Meu amor. – ele foi para ela.
-Me tira daqui. – ela chorava – Onde estou? O que é isso?
-Vamos sair daqui, já!
Ele começou a desatar o nó.
-NEM PENSE EM FAZER ISSO!
Carlos se virou. Beltrandez estava no vão da porta. Se virou para Renata e desamarrou o primeiro nó. Uma força invisível o puxou e o prensou contra a parede, e começou a estrangulá-lo.
-Não se esqueça que eu tenho poderes, Carlos.
O homem voou para outro canto da parede e caiu. Beltrandez o fitou.
-Trate de se comportar direito.
Um vulto passou pelos dois. Renata se desamarrou e começou a correr.
-CHAME A POLÍCIA! – gritou Carlos, tentando recuperar o fôlego.
-Duvido que ela consiga.
Renata chegou na sala. A empregada estava tirando o pó.
-Onde tem telefone? – ela perguntou.
A idosa deu um tapa no rosto dela; que caiu no chão. A empregada a pegou pelos cabelos.
-ME SOLTA! SOCORRO!
-Volte para o ritual!
A empregada bateu com o rosto dela na parede; que desmaiou.
A força invisível não parava de fazer Carlos bater nas paredes.
-Está gostando? – perguntou Beltrandez com sarcasmo.
Carlos caiu, seu rosto já estava sangrando.
A idosa chegou no quarto com a moça.
-Ela tentou fugir, mas já esta aqui.
-Ótimo! Amarre-a na cama.
Renata, desacordada, estava com a testa sangrando e um arranhão na bochecha.
-Nos deixe sair daqui – falava Carlos – Por favor!
-Mercedez, pegue uma cadeira e outra corda. Amarre-o.
Beltrandez foi até Carlos; que continuava agachado no chão. Tirou uma seringa do bolso.
-Hora de nanar um pouco.
Injetou o liquido em sua nuca.
Uma hora depois.
Carlos acordou, estava tonto, viu que estava sentando em uma cadeira e amarrado. Renata estava deitada na cama.
-Renata? Acorde.
Ela não respondia.
-RENATA! – ele tentava gritar, mas estava muito cansado.
De repente ouviu passou no corredor. Beltrandez apareceu. Olhou para Carlos e sorriu. Estava com uma faca brilhosa, tinha um cristal vermelho na lamina. Parecia um tipo de punhal. Foi até a moça. Fez um carinho em seu rosto.
-NÃO TOQUE NELA!
Beltrendez não deu bola para Carlos.
-Hora de acordar, minha princesa.
Em um súbito impacto, Renata acordou. Viu aquela faca brilhando. Começou a gritar novamente.
-O QUE VOCÊ VAI FAZER? –grunhiu ela.
-Não se preocupe. Você vai para um lugar especial.
Beltrandez se levantou, ergueu o punhal e espetou bem na barriga de Renata.
-AHHH!
-RENATA!!
Fincou umas cinco vezes e parou. A cama estava encharcada de sangue. Beltrandez também.
-SEU DESGRAÇADO! – ele chorava.
O idoso foi até ele.
-Viu só o que acontece com as más pessoas? Agora vá para a casa, pois tem uma visita te esperando.
Beltrandez desamarrou Carlos. Ele se levantou e correu. Desceu as escadas e passou pela sala. Mercedez deu um tchau para ele; que nem ouviu.
Carlos, em choque, foi para o seu apartamento. Quando entrou, viu que tinha varias pessoas ali dentro. Um homem se aproximou dele.
-Você está preso por assassinar sua mulher.
Ele avisou sobre Beltrandez, mas eles não deram bola. Dias depois, quando Carlos, já estava preso, os policias resolveram investigar o apartamento do velho. Mas o sindico disse que não havia ninguém no prédio com o sobrenome Beltrandez. No apartamento do suposto idoso, nada continha.