Fome de Viver
Acordo, o corpo reclama, meus braços e pernas estão formigando, parece que estou dopado. Tento levantar e não consigo, estou na escuridão trancado em um lugar gélido.
Deitado, olho por entre os pés e vejo uma luz entrando por frestas formando um quadrado. Tento tatear o lugar.
Estou com muita fome, meus músculos estão retorcendo de espasmos musculares sem controle. Não consigo gritar apenas solto um gemido de dor.
Coloco as mãos sobre minha cabeça e empurro o que parecia ser uma parede, estou deslizando para fora.
Estava em uma gaveta.
Sento, parece um frigorifico. Minha visão está turva. A sala está cheia de gavetas, vejo a saída.
Como doe para levantar. Não consigo andar rápido.
Cada movimento dói ainda mais, continuo sem conseguir gritar apenas consigo soltar um gemido baixo e dolorido.
A porta esta trancada. Vou forçar um pouco, acabo entortando a porta que se abre. Arrasto o corpo para fora, e sigo andando lentamente.
Onde estou? Por que estou molhado? Sinto meu corpo morrendo.
A frente vejo uma placa, não consigo ver o que esta escrito. Vou chegar mais perto... NECROTÉRIO.
Não estou morto! Tenho que chegar a rua, tentar ir para minha casa, a dor não passa.
Continuo por esse corredor, vejo uma porta e uma silueta branca se movendo.
Continuo com fome e dor.
Chego perto da silueta, parece uma mulher.
- vem aqui não tenha medo. (saem gemidos ao invés da fala)
Ela encosta na porta, está muito assustada. Que cheiro maravilhoso vem dela ... ahhhh que fome....
Estou acordando novamente e estou no chão. Devo ter desmaiado de fome! Um pano branco molhado de vermelho em minhas mãos.
Onde esta a moça? Não importa. Parece que acordei na rua fora do necrotério. Vou procurar minha casa.
Os músculos voltaram a doer, a fome está voltando, quero ver minha esposa.
Reconheço este lugar, é o bairro onde moro. Minha casa e a quarta do lado direito.
- Cão maldito pare de latir (gemidos).
- Correu (gemidos).
Estou próximo de minha casa, só falta meio jardim... que dor (gemendo).
Droga, quebrei a maçaneta da porta.
- Aline esta em casa? (somente gemidos).
Vou ao quarto que fica em cima. Vou deixando pegadas de sangue enquanto subo.
Vejo meu quarto a frente, sinto aquele cheiro gostoso novamente... fome, fome....
Parece minha esposa de costas...
Acordo no chão novamente... minha está esposa caída ao meu lado ... Apoio na penteadeira, sou eu no espelho?
A imagem que vejo refletida no espelho é disforme! ossos expostos, pele e músculos rasgados um grande buraco no maxilar.
- Esposa querida (gemido com lagrimas).
Acabo de matar minha amada. Sou um cadáver, a fome corroeu meu juízo.
A janela pode ser uma morte rápida.
Abri a janela, abaixo esta a certa de ferro. Debruço na janela e caio... meu pescoço parte, separando a cabeça do corpo.
Acordo ao chão. Apenas consigo mexer os olhos, meu corpo jogado ao lado está inerte.
Quase não consigo ver, os olhos estão fechando. Minha última visão é uma silueta de mulher banhada de sangue na janela de onde me joguei.