Boneca Inflável Assassina (Terror Trash)
Daniel pedala sua bicicleta ansioso por chegar em casa. Ao chegar lá, corre para o quarto e fecha a porta. Abre a mochila que levava às costas e retira um pacote que rasga violentamente a embalagem que continha a inscrição: “Priscila”.
Quero ver quem vai zoar comigo por não ter ninguém – pensa.
Pele clara, cabelos castanhos, olhos e boca grandes; Priscila era seu sonho realizado.
Tratou então de sair novamente, prometendo a si mesmo, comprar a mais bela roupa para a sua amada.
Míni saia jeans, blusinha azul claro, uma sandália rasteirinha, colares e pulseiras, Priscila ficará linda, pensa Daniel.
Caminhando pela rua, em devaneios de como ficará linda a sua eleita, encontra Rodrigo, um dos garotos mais populares da turma da pracinha do bairro e que costuma andar sempre acompanhado de meninas bonitas, gostosas e digamos assim, de nível intelectual... duvidoso. Mas eram gostosas. Ah! Como eram boas. E Daniel ficava louco de raiva e inveja com isso.
Rodrigo se aproxima, com aquela ginga de mano, balançando os braços, cruzando-os atrás da linha da cintura e observando o nervosismo de Daniel, já começa a atacá-lo:
- Daniel, você é o cara mais imbecil e ridículo que conheço. Seu bolo fofo, se eu fosse você, me matava. Viu que eu fiquei com três meninas ontem? Você não conseguiria ficar nem com uma cadela.
Nervoso, Daniel tropeça e cai, ralando os joelhos e a palma da mão esquerda.
Rodrigo se aproxima e ainda dá um chute na bunda de Daniel que, bufa de raiva e jura que um dia terá sua vingança.
Começa então, a refletir seu passado.
A morte da mãe e a sumiço do pai, quando ainda era pequeno sempre foi um trauma para ele. Por isso, quando comia, atacava com toda a raiva a comida, como se ela fosse à culpada pela tragédia de sua vida.
Triste e conformado pela sua condição, Daniel se levanta e começa a caminhar cabisbaixo enquanto ouve a risada sarcástica de Rodrigo, que de longe, grita.
- Daniel, você dá pena!
Chegando à sua casa, onde mora com os avós maternos, Daniel corre para o quarto, pega a bombinha de ar e começa a inflar Priscila.
- Nunca mais vão rir de mim. Nunca!
Daniel corre para o banheiro toma um banho e borrifa a colônia que usa só em momentos especiais e ao sair do banho põe sua melhor roupa.
Pega sua bicicleta, (apesar de já ter 19 anos, ainda não tem carteira nem carro) senta Priscila no quadro e sai para mostrar a todos a sua nova namorada.
Vai à lanchonete, ao cinema, ao parque, onde dá voltas na roda gigante e no trem fantasma.
Daniel repara que todos ficam lhe olhando e na sua inocência (ou seria loucura?) pensa: – invejosos. Pensavam que eu nunca teria alguém e agora que vêem que estou com uma bela mulher ficam olhando e cobiçando minha namorada.
- Parem de olhar pra minha namorada! Grita em dado momento.
As horas passam. Chega à hora de dormir.
Daniel leva Priscila ao quarto. A despi com o maior carinho do mundo. As luzes se apagam... Silêncio.
O dia amanhece ensolarado. O ar quente de verão enche os pulmões daqueles que tiveram a graça do despertar. E para Daniel, não é diferente.
- Bom dia vó!
- Bom dia vô!
- Bom dia mundo!
Levanta-se rapidamente. Troca de roupa e vai à cozinha tomar café da manhã. Depois, vai quintal para ajudar a avó a varrer as folhas secas que caíram da mangueira. Ajuda também o avô a consertar a porta do quarto de dispensa.
- Vô, vó, hoje vou passar o dia fora. Talvez nem volte pra almoçar. Devo comer alguma coisa na rua.
Daniel passa o dia com Priscila. Vai ao bosque e namoram sob a sombra de uma grande árvore.
Voltando pra casa, já a tardezinha, Daniel encontra com Rodrigo.
- Daniel, achei que você fosse idiota, mas estava enganado. Você é louco, doido, tem que ser internado e esquecido no hospício.
Dizendo isso, Rodrigo ataca violentamente Daniel com um chute.
Mas inesperadamente, a perna de Rodrigo se enrosca nas pernas de Priscila; Rodrigo cai sobre um toco de árvore, rompe o baço e é levado em estado grave para o hospital.
Daniel fica muito assustado com o que houve. Não gostava de Rodrigo, mas não queria o seu mal. No fundo, Daniel era um bom menino.
Voltou pra casa ainda chateado, mas no fundo, imaginava que o acidente de Rodrigo era um castigo divino.
Em meio a tais pensamentos, Daniel adormece e sonha.
Pessoas machucadas, gritos e pedidos de socorro preenchem o sonho de Daniel.
- Priscilaaaaaaaaa! – Daniel acorda gritando.
- Ufa! Foi só um sonho.
Levanta-se.
Os dias passam sem grandes alterações.
Certo dia, Daniel é convidado para a festa de aniversário de Mário, um de seus poucos amigos. E resolveu ir sozinho.
Festa barulhenta, bebida, zoeira. Daniel estava incomodado e prestes a ir embora, quando olha e vê uma moça sentada no sofá e resolve se aproximar.
- Oi, meu nome é Daniel.
- Olá, o meu é Elaine, sou prima do Mário.
A conversa se estende ao ponto de quase todos os convidados irem embora e eles ali, sentados no sofá.
Ao final da festa, resolveram trocar os telefones e combinaram de voltar a se falarem.
Alguns dias se passaram antes de Daniel tomar coragem e ligar para Elaine.
- Elaine, podemos nos ver?
- Sim claro! O que acha da sorveteria do Seu Nestor?
- Combinado, responde Daniel.
Os dois se encontraram e passaram horas conversando.
Elaine era uma moça tímida, sempre escondia o rosto quando ria, usava óculos fortes e aparelho ortodôntico; não era bonita, mas freqüentava a igreja, fazia curso técnico e tinha uma boa família.
Os minutos correm. Já é tarde. Hora de ir embora.
Chegando em frente a casa de Elaine, Daniel vacila um pouco, mas toma coragem e decide beijá-la. Surpreso, vê que ela corresponde ao beijo, abraçando-o carinhosamente.
Os dias se sucedem. Daniel passa cada vez mais tempo com Elaine.
Um dia, ele tomou coragem e pediu Elaine em namoro.
Felicidade!!! A resposta dela foi um sim.
- Mas falta resolver uma coisa importante, pensa Daniel.
Na sexta feira à noite, Daniel pegou Priscila, colocou-a sentada na cama ao seu lado e começou a explicar-lhe.
- Pri, você é muito importante pra mim. Nunca esquecerei os momentos que tivemos juntos. Mas eu encontrei outra pessoa e quero seguir minha vida com ela. Você foi minha primeira namorada e sempre será lembrada.
Dizendo isso, Daniel abre a válvula de ar e Priscila, que começa a esvaziar.
Daniel segue para o banho.
Enquanto Priscila esvazia, uma lágrima escorre de seu de olho de látex e Priscila diz.
- Maldito, terei minha vingança. Homens não prestam. Vou me vingar... vou me vingar.
Enquanto Daniel toma banho, um pequeno filete de luz da lua entra pela fresta da janela e atinge justamente à Priscila.
Imediatamente, ela começa a inflar.
Priscila está viva, VIVAAAAAAA!
Enquanto isso, na casa de Elaine...
- Elaine, eu não acho que seja uma boa idéia você continuar a ver esse Daniel. As pessoas falam que ele é estranho, maluco mesmo. Por que não procura alguém mais normal? Fala D. Ieda, mãe de Elaine.
- Bobagem mãe, o Dani é uma pessoa muito legal. Ele só passou por momentos difíceis. Tenho certeza que, com minha ajuda ele vai melhorar. Garanto!
Elaine estava realmente apaixonada por Daniel e faria qualquer coisa para vê-lo feliz.
- Nossa já são nove horas! Mãe, to indo pra casa do Daniel. Te amo, beijo.
- Vá com Deus, responde D. Ieda.
A porta se fecha atrás de Elaine.
Na casa de Daniel, tudo era silêncio. Seus avós haviam saído para jogar bingo na casa de amigos e o chuveiro já havia sido desligado.
A porta do banheiro se abre e Daniel sai enrolado numa toalha, seguindo para seu quarto, onde se tranca.
Enquanto escolha o que vestir, não se dá conta que Priscila não está mais no local onde a colocou. Veste a camisa nova que havia comprado com o dinheiro da mesada, que na verdade era a pensão de sua mãe, e passa o perfume que havia ganhado de Elaine. Nem sequer percebe que Priscila o aguardava de frente a porta do quarto munida de uma faca.
Estava transformada. Seus olhos pareciam bolas de sangue, sua boca estava com dentes enormes e pontiagudos como os de uma piranha.
- Pronto, estou bem para ver o meu amor. Melhor ir saindo e encontra com ela no caminho. Acho que ela vai gostar da surpresa.
Daniel abre a porta.
- Meu Deus! O que é isso? Que brincadeira idiota, exclama Daniel, entre a surpresa e o pânico.
- Traidor maldito! Você vai morrer! – grita Priscila.
E em meio aos gritos, desfere três facadas em Daniel, que cai agonizando.
Na mente doentia de Priscila, somente um pensamento vigorava.
- Vingança a todos os homens. Vingança a todos os homens.
Daniel começa a perder a consciência. Sua última visão é a de Priscila abrindo a porta da sala e sair.
Na rua, Elaine segue a caminho da casa de Daniel, com uma sensação de que algo está errado. Na verdade, a sensação era de perigo.
- Besteira, acho que minha mãe me deixou impressionada. O Daniel é uma boa pessoa e sei que ele me ama e não vai fazer nada que possa me magoar.
Elaine seria incapaz de imaginar que um grande mal estava acontecendo e que sua vida estaria em risco.
Finalmente, chega.
- Daniel!
Elaine chama em vão a seu namorado.
- Daniel!
Vendo que ninguém a atendia, Elaine decide entrar, e ao abrir a porta...
- Meu Deus, grita Elaine, ao ver Daniel ao chão sobre uma poça de sangue.
- Daniel, Daniel... meu Deus. Fale comigo meu amor.
Daniel está fraco, mas ainda está vivo. Com muita dificuldade consegue dizer a Elaine o que havia acontecido.
- Maldita boneca, vou por um fim a essa história.
- Não meu amor, não vá atrás dela, é muito perigoso.
- Pode deixar, vou colocar essa boneca no lugar dela.
Dizendo isso, Elaine liga para o socorro e deixa a casa de Daniel, saindo à caça de Priscila.
Enquanto isso...
João, um taxista que acaba de terminar seu horário de trabalho, dirige pelas ruas em busca de algo que possa aliviar sua solidão.
- Olha só isso! Uma boneca parada na esquina. E que roupinha curta. Que delícia de corpinho. Vou oferecer uma carona para ela, quem sabe....
Antes que João concluísse seus pensamentos, Priscila fez sinal para o carro parar.
-È hoje. É hoje que tiro o pé da miséria. Tô cansado de comer arroz e feijão. Ando trabalhando tanto, acho que mereço um filé mignon, fala João para si mesmo.
Pára o carro, desce e abre a porta para Priscila entrar.
- Hum... obrigada!
- É um prazer moça.
- Pra onde posso levá-la?
- Vamos dar uma volta e parar em algum lugar discreto.
João não acreditava no que estava acontecendo. Uma mulher bonita, gostosa e fácil.
- Obrigado Senhor! Depois eu me confesso. Mas não posso deixar essa chance passar. O Senhor entende né? A carne é fraca.
Após dar umas voltas pela cidade, João decide que é hora de saborear aquela iguaria que estava em seu carro. Resolve então, seguir para uma área afastada da cidade.
Estaciona o carro sob uma árvore e começa a fazer carícias em Priscila, que geme e pede para ser beijada.
João rapidamente atende ao pedido, ansioso por experimentar como seria o beijo daquela criatura.
De repente, dor.
Priscila se transforma novamente e arranca os lábios de João.
Desesperado por ver a nova fisionomia de Priscila e sentindo muita dor, João tenta abrir a porta do carro para fugir, mas é impedido pela boneca, que ataca-lhe o pescoço.
João tenta empurrá-la, mas a dor é muito grande e tira-lhe as forças.
Aos poucos, João começa a perde a consciência. Tenta uma última vez abrir a porta, mas tudo que consegue é deixar a marca de sua mão ensangüentada no vidro do carro.
João está morto.
- Vou me vingar de todos os homens, grita Priscila.
A porta do carro se abre e dele salta uma boneca impecavelmente linda. Nenhum traço de sangue. Nenhum sinal da maldade que mora em seu coração inexistente.
Priscila sai caminhando rumo a uma luz amarelada que está no final da rua.
- Droga! São onze horas. Acho que a noite de hoje vai ser duro de agüentar. Preciso dar um rumo na minha vida. Há três anos que trabalho de guarda nessa oficina e nada acontece; a não ser um drogado aqui, uma vagabunda ali. E o pior é que elas cobram caro, eu fico sempre na vontade.
Arnaldo ficava sozinho cuidando da oficina do Juca. Uma vez ou outra, algum amigo passa por lá para conversar. Seu companheiro inseparável, era um radinho de pilha que ele deixava sempre ligado na Rádio Sertaneja, só trocava a viola se fosse pelo futebol. Era um velho tarado. Havia ficado viúvo ha um ano, estava com 65 mas ainda adorava uma boa sacanagem.
- Oi, o senhor pode me ajudar? Pede Priscila ao portão da oficina.
- O que deseja moça?
- Gostaria de usar o banheiro.
Arnaldo sabia que não podia abrir o portão para pessoas estranhas, mas vendo a beleza daquela mulher, sente o fogo arder dentro de si.
Corre então até um painel, onde pega a chave do cadeado do portão.
Priscila agradece e entra.
Após sair do banheiro, Priscila senta numa cadeira e fica ouvindo as histórias de Arnaldo.
O pobre do vigia não sabe o que fazer para agradar e demonstrar suas reais intenções. Mas Priscila, sabendo o que se passava na cabeça daquele senhor, começa a brincar com sua imaginação, cruzando as pernas de forma insinuante.
Ansiosa por provar mais sangue, começa a fazer um streep.
- Hoje, eu vou comer uma franguinha, pensa Arnaldo. Chega de revistinha e punheta.
Ao tirar a última peça de roupa, Priscila segue para o banheiro e chama por Arnaldo.
Mal sabia ele, que ao pedir para ir ao banheiro, Priscila queria mesmo era deixar a faca que havia atacado Daniel, estrategicamente escondida no beiral do vitrô.
Arnaldo entra e é agarrado por Priscila, que o coloca sentado sobre o vaso sanitário. Dança em sua frente por alguns instantes, depois senta sobre suas pernas como se quisesse cavalgá-lo. O velho é só delírio e enquanto fecha os olhos pensando estar sonhando, sente uma dor aguda no pescoço. O sangue brota da artéria cortada de Arnaldo, enquanto Priscila o cavalga como se estivesse tendo um orgasmo.
Elaine voltou para casa e pegou o carro de seus pais escondida, queria encontrar Priscila e acabar com ela.
- Maldita boneca. Onde você está?
Elaine está nervosa e preocupada com o estado de saúde de Daniel, que já havia sido socorrido e levado para o hospital.
Após dirigir por vários lugares, teve a idéia de pedir ajuda a Julia, sua amiga do curso, mas ela havia se mudado e Elaine não sabia onde era a nova residência.
- Já sei, vou perguntar ao tio dela, o seu Arnaldo. Acho que ele ainda trabalha na oficina do pai dela. Vou pra lá.
- Estranho, o portão nunca fica aberto.
- Olá! Tem alguém aí?
- Tio Arnaldo. Sou eu, a Elaine.
Como ninguém atendeu, Elaine decide entrar.
- Seu Arnaldo!!! O senhor está aí?
E ao abrir a porta do banheiro, Elaine se depara com o corpo de Arnaldo ainda sentado sobre a privada. Morto.
- Meu Deus, o que está acontecendo?
- Boneca maldita, preciso acabar com isso!
Elaine sai rapidamente do local do crime, entra no carro e vai à caça de Priscila; que a essa altura, estava se fartando do sangue de um andarilho que havia encontrado próximo a um pontilhão.
- Se ela quer sangue, terá que seguir para a cidade. Uma ponte está quebrada, então, só tem mais uma opção pra chegar lá, diz Elaine pra si mesma.
Voltando pra cidade, ao passar sobre a linha férrea, Elaine percebe um vulto caminhando sobre os trilhos.
- Piranha, agora te pego, pensa.
- Boneca assassina, grita Elaine.
- Sem vergonha, vou ensinar você a não roubar o namorado de outra mulher, fala Priscila.
- Você não é mulher, não é real. Você é de látex.
Ouvindo isso, Priscila ataca Elaine com a faca ferindo-a no braço.
- Vou matá-la, igual eu fiz com o Daniel, aquele covarde.
- Lamento informá-la querida, mas o Daniel está vivo.
- Maldita, vou matar você então.
No segundo ataque, Elaine consegue fazer Priscila largar a faca.
As duas rolam no chão. Priscila parece tomada de uma força sobrenatural e era difícil segurá-la.
Com muita dificuldade, Elaine consegue pegar a faca do chão e esfaquear Priscila na perna, a boneca grita e sai voando como se fosse um balão furado, desaparecendo na escuridão.
- Acabou. Finalmente acabou.
Elaine volta para o carro, e exausta, adormece.
O dia amanheceu. Daniel está internado se recuperando da operação que precisou fazer, mas está fora de perigo. Na sala de espera, Elaine aguarda autorização para visitá-lo.
Na televisão, a imprensa noticía as estranhas mortes que haviam acontecido à noite.
Enquanto isso...
Numa borracharia, uma estranha figura sai e toma as ruas. Priscila, que ostenta agora, um discreto remendo em sua perna.
- Vou me vingar! É só o que pensa.
FIM!