História de assombração

- Valdemar, dá mais um tempo, cara. Só até passar um táxi.

- Não posso, já é muito tarde. Minha mulher tá me esperando. Se nossos caminhos não fossem tão contrários, eu daria uma carona pra vocês.

Valdemar fecha a porta de seu bar, entra em seu carro e vai embora.

Raymond e Fabiano ficam sozinhos embaixo do toldo do bar. Está caindo uma forte chuva e a rua está deserta.

- Porra. O Valdemar podia ter quebrado essa pra gente - diz Fabiano. - Era só esperar um pouquinho até passar um táxi.

- O Valdemar só se importa com ele mesmo. Vou ligar pra casa.

Raymond pega seu celular e:

- Alô, amor? Eu ainda tô no bar. É sério. Só que o Valdemar já fechou o bar e eu tô aqui fora com o fabiano embaixo desta chuva esperando um táxi. Eu sei, meu bem, eu sei. Logo eu tô aí, beijo.

Raymond desliga o celular e fabiano diz:

- Eu nem ligo pra minha mulher porque sei que ela vai me encher o saco.

Passam-se quarenta minutos, a chuva não diminuiu e só dois carros passaram na estrada.

- E agora? - pergunta Fabiano. - A chuva tá aumentando e o vento tá jogando a chuva pra cima da gente.

Em frente ao bar há um cemitério.

- Você tá vendo o que eu tô vendo? - pergunta Raymond

Eles viam do outro lado da rua, uma jovem bonita em um vestido e sapato brancos. Também usava luvas brancas. A água da chuva não a tocava. Ela abriu o portão do cemitério e entrou.

Raymond e Fabiano estavam paralisados. Raymond estava tão encantado que nem piscava, enquanto Fabiano estava paralisado é de medo.

- Vamos - diz Raymond. - Vamos até lá.

Raymond puxava Fabiano pela camisa que dizia:

- Você enlouqueceu? Aquilo é uma assombração.

Fabiano se desvencilhou de Raymond que seguiu para o cemitério. Atravessou a rua e para seu espanto, o portão do cemitério estava trancado. Ele resolveu pular o portão. Assim que entrou um trovão se fez ouvir.

Fabiano olhou para o lado e viu aproximar-se um homem de roupas rasgadas, arrastando a perna esquerda. O estado de seu corpo era o de uma pessoa morta há quinze dias deixado ao ar livre. Praticamente um zumbi.

Seu passo ao caminhar ficou mais rápido. Fabiano olhava para os lados, se desesperava, não sabia o que fazer. Só conseguia pensar em Raymond. Por isso correu para o cemitério, pulou o portão e entrou.

Viu Raymond parado a poucos metros dele. Olhou para trás. O zumbi não estava mais lá. Ele aproximou-se de Raymond e tocou seu ombro.

- Cara, o que você está fazendo? Tinha um monstro lá fora.

- Eu não sei - Raymond passa a mão no rosto. A chuva diminuiu quarenta por cento. - Fiquei fora de mim quando vi aquela mulher. O que foi que você disse?

- Disse que vi um zumbi lá fora.

- Zumbi? Que é isso? - ironiza Raymond.

De repente, eles ouvem um choro e olham para trás. Há uma capelinha acima. A jovem de branco está na porta chorando, dá as costas para os dois e entra.

- Vamos - diz Raymond, - quero descobrir o que está acontecendo.

- Você o quê? A minha ideia é pular o portão e sair correndo.

Os dois entram na capela. As velas dos três castiçais acendem-se uma a uma lentamente.

A jovem está ajoelhada em frente ao altar. Mãos juntas na altura do queixo, cabeça baixa. É como se estivesse rezando. Ela diz:

- Certa noite, numa rua deserta como essa, uma jovem que voltava da faculdade foi arrastada por um coveiro bêbado para dentro de um cemitério. Dentro de um mausoléu, ele, com uma faca, tentou estuprá-la. Jogou-a em cima do túmulo e começou a rasgar a roupa dela.

A jovem de branco começa a se emocionar e chorar. Quem estivesse de frente para ela, veria lágrimas de sangue. Ela continua:

- O bêbado subiu em cima dela. Ela rasgou o rosto dele com as unhas, se desvencilhou e correu para a porta do mausoléu. Antes que chegasse, foi agarrada pelos cabelos e teve seu ventre perfurado de cima a baixo. Ele a estuprou mesmo morta.

Raymond e Fabiano percebem o sangue que vem dela e chega até os pés dos dois. Ela prossegue:

- Essa história... essa história é minha!

Ela se vira para os dois e seu rosto já não tem mais a beleza de antes. Ele está deteriorado, com poucos restos de carne.

Os dois gritam e tentam correr, mas seus pés não se movem. Ela começa a aproximar-se lentamente dos dois. Fabiano vê o zumbi que encontrou anteriormente, agora, dentro do cemitério em frente ao portão.

- Raymond...

Fabiano o chama devagar.

Raymond que estava olhando para a menina vira-se e surpreende-se ainda mais.

- O que é aquilo?

- Eu não disse que tinha visto um zumbi?

O zumbi avança lentamente.

- Foi ele quem me matou - diz a jovem. - Seu primeiro castigo foi morrer atropelado.

Raymond vê o impossível. Há sangue por todo o chão da capela e ele pergunta:

- O que está acontecendo? Por que vocês dois estão aqui?

- Enquanto eu não encontrar meu descanso eterno - diz ela - ele me acompanhará como seu maior castigo. Sua alma jamais abandonará seu corpo.

- E por que você não descansa?

A jovem para diante deles e o zumbi continua avançando.

- Minha vida - diz ela - pelos olhos de Deus foi pecaminosa. Há quinze anos que venho até este cemitério, onde fui assassinada para rezar. Venho sempre no aniversário da minha morte, esperando o dia que Deus liberte minha alma.

- Raymond - chama Fabiano - é o sangue. O sangue está nos prendendo ao chão. Vamos tirar nossos sapatos, subir nos bancos e pular pra fora da capela através das janelas.

O zumbi está próximo da porta da capela e Raymond e Fabiano começam a tirar os sapatos.

- Vocês, enxeridos - diz a jovem, - vieram me atrapalhar. Ninguém chamou os dois e vocês mereciam ser castigados.

Raymond e Fabiano sobem nos bancos da capela. O zumbi chega até a porta. Um relâmpago surge. As velas se apagam. O zumbi e a jovem sumiram como se nunca estivessem estado lá.

Raymond e Fabiano olham para todos os lados e não vêem nada de estranho. O sangue que estava no chão também desapareceu. Os dois descem dos bancos e Fabiano pergunta:

- O que aconteceu?

- Eu não sei, mas é melhor irmos embora.

Do lado de fora da capela, a chuva já diminuiu bastante. Raymond e Fabiano olham para o cemitério e para a capela. Olham-se e descem o caminho para o portão. Fabiano diz:

- Raymond, será que nos não bebemos demais e imaginamos coisas?

Raymond não responde, mas olha para o chão e vê um pouco de sangue misturar-se a água da chuva. Ele mostra para Fabiano e os dois correm. Correm como jamais correram em suas vidas, pulam o portão do cemitério e somem na noite.

Robert Phoenix
Enviado por Robert Phoenix em 11/02/2010
Reeditado em 19/10/2019
Código do texto: T2081641
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