Visita Noturna
Aquele quatro de setembro de mil novecentos e oitenta e cinco jamais vai sair da minha cabeça, eu era uma criança de apenas dez anos, mas os acontecimentos daquele dia e dos dias posteriores vão ficar marcados na minha memória para sempre.
Lembro-me como se fosse hoje da forma como meu irmão de dezoito anos adentrou pela porta da sala do nosso apartamento no sexto andar.
Ziguezagueava, parecia estar de porre, tombou sobre a mesa da sala, tentando se agarrar na toalha da mesa, que caiu com juntamente com ele levando ao chão alguns pequenos objetos.
Minha mãe correu para o meu irmão que se debatia no chão.
-Cristiano, o que aconteceu, o que aconteceu? Gritava ela.
Minha mãe levou a palma de sua mão ao rosto de meu irmão e olhando para mim disse: Ligue para o seu pai, seu irmão está queimando em febre, precisamos levá-lo ao hospital.
Liguei para o telefone do meu pai que chamou até cair na caixa de mensagem, tentei ligar mais uma vez sem obter o êxito esperado.
-Mãe meu pai não atende!
Merda! Exclamou ela, pegando meu irmão no colo e o levando até a cama do seu quarto.
Ivete, nossa Poodle entrou no quarto e começou a latir e ganir para o meu irmão.
-Chispa! Chispa! – Gritava minha mãe e batia com o pé no chão tentando afastar a cachorra, que correu do quarto voltando para a sua casinha que ficava na área de serviço do nosso apartamento.
Eu amava meu irmão ele era tudo o que eu queria ser, ele era meu ídolo, meu herói.
Não conseguia conter as lágrimas que insistiam em brotar do meu rosto, sentia que meu irmão havia contraído alguma coisa grave, que nunca mais ele voltaria a ser o mesmo.
Minha mãe conseguiu um carro de um amigo da família que levou meu irmão até o hospital, mas em todos que ele foi levado ele foi medicado e foi mandado de volta para casa, apenas em um hospital foi realizado algum exame em meu irmão, o exame de sangue constatou que meu irmão estava com anemia, o que para gente parecia ser meio improvável já que meu irmão se alimentava muito bem.
Meu pai não apareceu em casa, ouvi minha mãe falando ao telefone com minha tia que meu pai deveria ter arrumado mulher na rua mais uma vez, e que ela já estava farta disso que assim que ele chegasse encontraria as coisas dele na varanda.
Acordei de madrugada e fui até a varanda, constatei que minha mãe tinha falado serio, as coisas do meu pai realmente estavam lá, entrei porque estava fazendo frio, caminhei devagar até o quarto do meu irmão e da porta pude ver que ele estava falando enquanto dormia.
Sim, Verônica pode entrar... Sussurrava ele enquanto dormia.
Olhei para a janela do seu quarto, e bem ali de frente, havia uma mulher flutuando de frente para a janela. As janelas abriram como se ela tivesse usado apenas o poder da mente, ainda flutuando ela foi até o meu irmão que ainda estava deitado, mas agora estava de olhos abertos, sua boca se alargou em um grande sorriso e ele abriu os braços para a mulher que deitou sobre ele, e o mordeu no pescoço.
Eu queria fugir, mas estava petrificado, só mais tarde percebi que tinha esvaziado minha bexiga na calça.
Só voltei a mim quando ela parou de sugar o sangue do meu irmão e olhou em minha direção, pude ver duas presas bem afiadas e o sangue do meu irmão que empapava seu queixo. Corri o mais rápido que eu podia para o meu quarto e me cobrindo dos pés a cabeça como se tivesse criado ali um santuário que evitasse que a criatura me pegasse.
Não dormi a noite toda, uma voz ficava na minha cabeça zombando de mim o tempo todo: - você é o próximo garoto bisbilhoteiro, o próximo....
No dia seguinte meu irmão havia piorado em alguma hora da madrugada ele havia se levantado e pegado todas as cortinas da casa e colocado na janela do seu quarto.
Ivete ficava rosnando e ganindo na porta do quarto, minha mãe já estava perdendo a cabeça com a cachorra ameaçando a prendê-la na área de serviço.
Minha mãe parecia bem nervosa, meu pai ainda não havia dado noticias.
Na segunda noite acordei pela madrugada com aquelas palavras na minha cabeça, acordei e vi que a criatura estava em pé olhando para mim. Seus olhos eram vermelhos, e as pupilas amarelas, dessa vez o queixo não estava sujo de sangue, havia apenas um filete de sangue em seus lábios.
Dei um salto e me encolhi sentado na cama, nas mãos da vampira vi que ela segurava um celular, reconheci como o celular do meu pai, que ela jogou sobre mim para em seguida virar nevoa saindo pela fresta da porta do meu quarto.
Acordei por volta de meio dia, já que não conseguir pregar mais os olhos enquanto o sol não nasceu.
Quando fui para cozinha ainda com sono vi quando minha mãe botava o telefone no gancho, ele abaixou a cabeça e começou a chorar, quando percebeu minha presença me chamou para sentar ao lado dela e disse: - Encontraram seu pai, ele está morto!
Mesmo já sabendo que meu pai não voltaria com vida para casa,confesso que chorei,acredito que só quando minha mãe deu a noticia eu tenho entendido a situação, meu pai estava morto e não voltaria mais.
No final daquela tarde, meu irmão começou a passar mal, sua febre já passava de 41 graus o que lhe causou convulsões, minha mãe o levou para o hospital as pressas, aonde ele veio a falecer as vinte e duas horas.
Seu enterro foi no dia seguinte juntamente com o meu pai, depois de enterrá-los minha tia nos ajudou a guardar as coisas dos dois, com a chegada da noite minha mãe me convidou para ver um filme, a noite estava fria, desde o começo da tarde estava chovendo.
Minha mãe me convidou para dormir com ela, ma eu já estava grandinho demais para dormir com minha mãe e decidir dormir sozinho.
Acordei com a voz da vampira na minha cabeça: - Trouxe companhia para você, nos deixe entrar!
Acordei e olhei para fora ela estava flutuando sobre minha janela.
Ela só poderia entrar na minha casa se fosse convidada, e eu não faria esse convite, de repente lá embaixo, a campainha tocou seguida de socos na porta.
Ouvi passos no corredor, era minha mãe se dirigindo para porta, sai correndo do meu quarto gritando ela, enquanto a vampira ficava gargalhando do lado de fora.
-Não abre a porta mãe, são vampiros! Gritei.
Minha mãe olhou para mim e em seguida olhou pelo olho mágico.
Meu Deus! Disse ela abrindo a porta com as mãos tremendo.
Pela porta recém aberta entraram meu pai e meu irmão.
Meu pai agarrou minha mãe em um abraço mortal, enquanto que meu irmão ainda com o terno que foi enterrado e coberto de lama do tumulo, deu um salto sobrenatural em minha direção, escapei por pouco, Ivete mordeu meu irmão na canela que me proporcionou um tempo para chegar até a cozinha. Sabia que não sairia dali com vida, meu pai apareceu segurando o corpo da minha mãe no colo: - Entre Verônica ele dizia, em seus devaneios.
Em um piscar de olhos Verônica estava na minha frente juntamente com o meu irmão que segurava o corpo moribundo de Ivete.
Não queria virar um vampiro então em meu desespero peguei um vidro de chumbinho na gaveta e o tomei todo, pude ver a expressão de raiva que tomou conta da vampira.
Você vai queimar no inferno pequeno, é para lá que vão os suicidas! Gritou Ela antes de desaparecer com os outros vampiros na névoa deixando apenas eu e o corpo da minha mãe na cozinha.
Sair do meu apartamento e chamei o vizinho pedi ajuda para chegar até o hospital, falei que tinha ingerido chumbinho.
Ele perguntou sobre minha mãe e eu disse que ela tinha saído de casa. No hospital sofri uma lavagem estomacal que me salvou da morte.
Minha mãe foi hospitalizada até que em uma bela noite ela sumiu sem deixar rastros.