Esfolado

O carro chegou e todos correram para cercá-lo,envolvida em veludo negro ela sentia sua respiração parar.Os guarda-costas vieram abrir a porta mas ela teve medo de sair,um deles sorriu ao lhe oferecer a mão,ela teve vontade de lhe dar uma mordida.Saiu para a luminosidade e para as pessoas que gritavam perguntas.

- Hell,como se sente agora que ele morreu?

- Podem se afastar por favor... - Ela disse timidamente.

- Surgiram boatos que você o matou,tem algo a dizer sobre isso?

Eles apenas apertaram o cerco,gritavam,fotografavam,colocavam microfones em seu rosto.

- Por favor...Não posso...Afastem-se... - Ela dizia sentindo falta de ar constante.

- Você o amava?Matou por ciumes?Vai voltar a escrever com ele morto?

Eles pareciam rir,malditos reporteres,queria matar todos,todos.Queria ferí-los,despi-los e joga-los num poço profundo assim como estavam fazendo com ela.Ela avançava de cabeça baixa em meio a barreira de contenção.

- Acredita em suicidio ou há outra pessoa por trás disso?Vai publicar livros sobre a morte dele?

- Por favor...Eu quero espaço! - Ela estava a beira das lágrimas,queria que tudo parasse,queria um lugar tranquilo e seguro.Queria que todos fossem ao inferno,queria ter uma arma e atirar em todos.Seus pensamentos foram interrompidos por um puxão no cabelo,ela gritou de medo e de dor.

- Não me toquem,por favor,não me toquem! - Ela quis correr mas sabia que não deixariam.Só queria que tudo acabasse,algo se despedaçava dentro de si,ela queria lutar mas eles não lhe davam escolha.Finalmente entrou em casa,suspirou e chorou correndo para o quarto.

Foi despindo as peças de roupa preta uma por uma,só queria que eles lhe deixassem em paz,estava sofrendo,será que não compreendiam?Doia,doia muito,algo estava prestes a romper.Ela lutava com o fecho do sutiã,o morto surgiu para perturba-la,sentado na cama com a mesma cara sarcastica,ele ria e ria.

- Você quebrou como uma porcelana...Na primeira morte...Você gostou?

- Vá embora! - Disse ela atirando o sapato naquela cara roxa e decomposta.Fechou os olhos com força e ao abri-los só viu o espelho.

Lutou mais um pouco com o fecho do sutiã,ele ria as suas costas.

- Acha mesmo que eu vou embora?Até que a morte nos separe querida!Ou não... - Ele disse olhando a aliança e rindo debochado.

Ela correu para a bandeja de comida que nem tocara,pegou uma faca.

- Você esta morto,eu sei que está!Eu posso te manter morto sabia?! Eu posso! - Ela movia a faca ameaçadoramente,ele havia sumido de novo mas o cheiro de podridão pairava no ambiente.

Ela sentou no chão e chorou agarrada a faca.Ele apareceu de novo,dessa vez saído da sacada,tirando fotos de seu rosto e dizendo.

- Ah meu amor não chore,a morte é tão doce,você fez seu melhor...Agora assuma,você me matou!Foi você!Foi você!

- Não!Não!Não!Eu não matei ninguem!Não matei ninguem! - Ela ainda chorava quando levantou e o esfaqueou,não uma nem duas mas 37 vezes.Por fim passou a faca por sua pele arrancando-a,repetia convulsivamente.

- Não matei,não matei...

Ela abriu os olhos e constatou horrorizada que aos seus pés estava um reporter esfolado.O rosto dele ainda tinha sua ultima expressão de dor,ela largou a faca sentindo-se fraca.Seu marido morto aproximou-se por trás lhe cochichando ao ouvido.

- Mais um amor,mais um...Agora livre-se dele,eu te guio,não tenha medo...É assim mesmo,a morte é tão doce,tão doce que vicia... - Ele a conduziu pela mão e ela se deixou levar.Aquilo dentro dela finalmente rompera,agora tinha consciência,matara e mataria de novo,várias e varias vezes.Apanhou apenas um colar sobre a cama...L era a letra do pingente,pos o colar no pescoço e seguiu atentamente as instruções do marido morto...

[ dedicado a alguem que provavelmente não vai ler isto...]