Ecos 3- Tormento (2)

Um mês depois de sua experiência estranha na casa do professor Diego, tudo já havia voltado ao normal, o acontecimento não saiu da cabeça da jovem Syntia, mas este já não lhe afetava mais, e os pesadelos não voltaram depois de tal sonho... O que não quer dizer que esta tudo bem, sua mãe, Helena, que estivera internada em um hospital para doentes mentais a mais de um ano, havia se suicidado em seu quarto com um pedaço de sua própria blusa.

Muita lagrima e chuva no enterro, Diego permanece observando os rituais fúnebres que se desenrola, abraçado a Syntia, ele olha para Augusto o marido de Helena e Pai de Syntia, ele esta com um rosto sombrio, o professor escaneia sua memória e conclui que jamais vira antes tanta tristeza no rosto de um homem, é um sentimento pior que se este homem se derretesse em lagrimas, é como que se ele também houvesse morrido junto a esposa. Diego sabe o quanto Augusto estava animado, pois a menos de uma semana os psiquiatras haviam constatado uma melhora esperançosa no quadro de Helena, e diziam que logo ela estaria de volta a casa, e há dois dias ela recebeu o aviso de alta para a próxima sexta... Helena voltaria ao lar hoje, e tudo voltaria a ser colorido de novo para aquele homem de aproximadamente quarenta e dois anos que se esconde atrás de lentes escuras, não se move apenas observa o buraco no chão, também não olha para o caixão de sua esposa. A tristeza também invadia Diego que se esforçava para não deixar as lagrimas rolarem, apenas se mantém forte ao lado de sua amada Syntia, esta estava agarrada ao corpo dele como uma criança, frágil e indefesa muito diferente da mulher decidida e forte que conhecera em sua sala de aula.

Depois do enterro findado finalmente Augusto deixa a armadura cair, em um abraço forte no genro, forte a ponto de fazer os ossos de Diego estralar, Augusto fala com a voz embargada pela tristeza:

_Não se deixe viver mais que Syntia, não somos assim tão fortes, morra antes... Não vai querer passar por isso!

Diego também não suporta, se emociona com as palavras do pai da mulher que escolhera, suas lagrimas rolam tímidas... E neste momento todos já se retiram, mas a chuva insiste em manchar ainda mais este dia, e logo fica mais forte, Augusto e Diego já estavam saindo quando percebem que Syntia não esta com eles, olham para trás, Syntia agora tomara a armadura de Augusto, estava de pé, mesmo com todo vento e toda chuva que caia, seu vestido preto contorna seu corpo, deixando claro sua beleza... Diego grita para que Syntia venha com eles, mas ela não parece escutá-los.

Perante o tumulo fresco de sua mãe Syntia permanece, ela sentia o que sua mãe sentiu antes de se matar, é aquela tristeza, Syntia sente seus braços sangrar, mas não se move, percebendo seu corpo ficar pesado, a chuva não incomodava, mas a dor em seu coração era insuportável, algo maior que já havia imaginado ser possível, mas não era por sua mãe que ela derramava lágrimas que se misturavam com a chuva que castigava cada vez mais forte aquele horrível dia, sente o aperto, é como que se a matassem, como que se estivesse crucificada... Ela remete ao seu sonho, ela tinha certeza de que estava sentindo aquilo que a pobre mulher crucificada sentia, uma dor dilacerante que não tinha nada haver com seus ferimentos, ela conseguia abrir um pouco os olhos, e lá esta, perante ela, os corpos sem vida de Diego, sua Mãe e seu Pai, todos aqueles que ela amava... era como que se o céu se partisse, aquilo era a pior dor que existia, ver seus entes mortos... E sem aviso a visão morre, neste instante ela sentiu-se morrer como aquela que morreu na cruz naquela caverna de pedra talhada, como que se fosse ela quem estivesse ali sofrendo, mas mesmo depois da morte, ela pode ver o rosto de Diego, morto, mas Diego vestia-se de Padre e não era Diego que o padre se chamava, era Breno o nome de Diego ali morto.

Diego olhava fixamente para Syntia quando esta caiu sem forças encima da sepultura de sua mãe, ele correu mas não pode evitar a queda, ela cai pesada sobre o mármore, mas não de forma a se machucar. Quando ele chega pode perceber que seus braços sangravam em dois buracos, um em cada pulso, e ela estava completamente inconsciente, Augusto já estava com Diego quando este a levanta, o homem corria para o carro já ligando-o e colocando pronto a partir para a emergência, ela parecia perder muito sangue... Diego puxa em sua memória todos os relatos de estiguimatas que já havia estudado, todos relatavam um forte cheiro de flores, mas ali dentro do carro o que se sentiu foi um forte cheiro de ferrugem de ferro, Mas Diego não se permite ficar pensando em coisas assim, apenas amparava sua namorada ate a chegada ao posto de emergência.

Paulo Mendonça
Enviado por Paulo Mendonça em 08/11/2009
Código do texto: T1911258
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.