Missa Negra

Em comemoração ao Dia das Bruxas posto hoje dois contos, Missa Negra e A Coisa no Metrô

Missa Negra

por Pedro Moreno da criptadesangue.blogspot.com

Apesar do frio fora do esgoto, dentro dele estava aquecido, talvez por causa das chamas das velas que afastavam a escuridão física do local.

Sim eu disse física.

A escolha do esgoto não fora aleatória. Quantos amigos você conhece que frequentam os subterrâneos da cidade? Nenhum? Claro, esse era o propósito. Apesar de existirem as missas negras, digamos que elas não são tão bem quistas pela sociedade.

Por causa disto nós nos reunimos aqui neste lugar úmido e fétido. Falo por nós apesar de não poder ver sinceridade em todos os corações presentes. Estão aqui Marcos, Leila e dois futuros membros. Lógico que eu, César, o Sacerdote das Hordas Infernais, não podia faltar.

Enquanto pensava em tudo isto até me esqueci da nossa convidada de honra... Marcela! Em geral nossos sacrifícios requerem animais, mas hoje por ser uma noite especial temos o melhor animal possível a se oferecer: O ser humano.

Antes que você questione a “pureza” da moça devo adverti-lhe o requerimento da moça ser virgem é apenas uma fabula contada pela nossa velha conhecida igreja de Cristo. Quando penso na velha igreja me pego pensando que o apóstolo Pedro não foi a pedra principal da crença e sim a mentira é o alicerce.

E todos sabemos quem é o Pai da Mentira.

Uma lufada de ar frio consegue entrar no túnel apagando algumas velas, logo Marcos tira a caixa de fósforo do bolso e começa a acender as velas. Quando termina ele volta à posição inicial e acena com a cabeça.

Abro o tomo de capa negra e começo, em latim, com as Orações de Invocação. Neste momento você deve perceber que não estamos aqui por ritualismo barato. Na noite de hoje espalharemos as trevas na Terra e então a humanidade será escravizada.

Lógico que eu já pensei na possibilidade de também me tornar um escravo. Pesquisei de antemão e descobri que se eu fosse o responsável pela libertação das hostes demoníacas eu poderia barganhar alguma posição em suas fileiras. Claro que meus ajudantes da noite de hoje não sabem que apenas eu poderei fazer esta negociação e só eu me beneficiarei dela.

A cerimônia é cheia de simbolismo. O ápice fica quando no meio do coro de vozes eu levanto a adaga. A lâmina brilha e eu observo com satisfação quando é cravada no coração da vítima que de tão dopada mal teve reação.

Por um orifício embaixo da mesa eu recolho o sangue dela em uma taça que outrora fora um crânio de bode. Passo para o primeiro que toma um gole e passa aos demais. Enfim quando chega a mim além de tomar o líquido rubro eu o derramo sobre minha cabeça.

Os membros percebem a deixa e começam a se despir. Aprecio, talvez pela última vez, os seios de Leila, ficam ainda mais bonitos quando ela começa a se cortar com a navalha. Logo todos os membros estão se cortando e o sangue começa a jorrar.

Digo as últimas palavras da cerimônia e aguardo.

Logo uma fumaça de tom avermelhado toma conta do esgoto. Em pequenos redemoinhos ela se fixa em um só canto da câmara e começa a tomar forma, Todas as velas se apagam e o negrume da noite toma conta.

Eu espero ansioso pelo próximo acontecimento quando ouço gritos de terror. Não posso mentir dizendo que não sinto medo. Mas o inferno só admite aqueles com coragem. Sinto uma mão pegando minha perna, abaixo e puxo a mão que não vem com o braço. Os gritos cessam.

De súbito as paredes do local pegam fogo e iluminam o local. Todos os participantes foram desmembrados e desfigurados. Seria um terrível quebra cabeça tentar juntar os corpos de novo.

Enquanto vejo o estrago sinto um bafo quente na minha nuca, me viro e sinto medo. Com uns dois metros de altura e chifres que quase batem no teto. Sua pele é avermelhada e escamosa e seu torso tem uma musculatura de fazer inveja à qualquer fisiculturista.

Ele me olha com seus olhos amarelos “Quem ousa me chamar” diz em voz de trovão. Eu gaguejo e nem consigo falar meu nome. Ele ri alto e me pega pelo pescoço me levantando de uma só vez traz meu rosto para perto do seu e sinto seu hálito de enxofre quando começa a falar.

“Maldito seja você, seu humano desprezível. O quê achas que és? Crê que preciso de tua ajuda para alguma coisa? Vá e não volte a dizer sequer meu nome ou eu mesmo virei te buscar”.

Fiquei tremendo no canto. Ele desapareceu há duas horas, mas eu ainda não consigo me levantar para sair daqui. Já ouço as sirenes da polícia na rua acima de mim e não consigo fugir ou ao menos pensar em que dizer quando a polícia chegar e me ver aqui com estes pedaços de corpos.

Quando eles alcançam a o meu túnel vejo que de alguma forma a entidade demoníaca já começou sua vingança.