A Coisa no Metrô

Em comemoração ao Dia das Bruxas posto hoje dois contos: A Coisa no Metrô e Missa Negra

A Coisa no Metrô

por Pedro Moreno da bibliotecadosvampiros.com

Definitivamente ele estava atrasado. Olhava indicador do andar no elevador e já imaginava o que sua mulher iria dizer quando chegasse. Além de ter que trabalhar até mais tarde ele tinha que aguentar todo tipo de insulto.

Quando enfim chegou no térreo Ronaldo suspirou de cansaço. Passou pela portaria do jornal e apenas acenou com a cabeça para o vigia noturno. Quando ganhou a rua inspirou o ar noturno fortemente, quando expirou olhou para o outro lado e viu que seu carro não estava onde tinha deixado.

Foi até o local de estacionamento batendo o pé forte, quando chegou entendeu o porque não estava mais lá. Era uma frente de garagem e provavelmente tinha sido guinchado. Apesar da lixeira depositada na calçada não ter culpa levou um chute de frustração.

Por causa do horário não havia ônibus disponíveis e o metrô era a única opção viável para o jornalista, apesar de um trecho até sua casa terá que ser percorrido a pé.

Ele bufou mais uma vez. Tirou o paletó e seguiu até o metrô mais perto. A noite estava tranquila, não fazia calor e uma caminhada não faria mal a ninguém. Quando alcançou a estação, Ronaldo reparou que estava vazia. Não havia ninguém em lugar nenhum, nem mesmo no guichê para a compra da passagem.

Ronaldo bateu palmas, assobiou e como a atendente não aparecera, ele resolveu passar por baixo da catraca. Olhou antes para os dois lados e passou. Chegando na plataforma a mesma situação ridícula. Nem funcionários, nem passageiros.

Logo imaginou que a estação poderia estar fechando e ele não poderia ficar ali. Antes de conseguir ir embora o metrô deu o típico sinal de aproximação. Resolveu esperar.

Quando os vagões começaram a passar, Ronaldo pareceu não ter visto o maquinista e muito menos alguém dentro dos vagões. Porém quando o comboio parou na estação abriu as portas normalmente.

Assim que entrou as portas se fecharam atrás dele e a locomotiva partiu. Era estranho, mas o quê iria fazer? Antes de sentar ainda deu uma olhada na portinhola em direção aos outros vagões e constatou que provavelmente seria o último usuário do dia. Sentou-se folgado e esperou.

Apalpou os bolsos a procura do celular a fim de ver a hora e este já tinha descarregado a bateria. No meio da viagem estranhou que estava demorando a chegar na estação apesar da velocidade até fora do normal. Quando colocou a cabeça para fora quase se machucou com uma placa que passou. Na verdade o trem não estava parando entre as estações.

Agora isso o preocupava. Será que o trem estaria indo à estação final? Devia ter percebido que tudo estava muito vazio e calmo, esta viagem não deveria ter começado.

Subitamente a luz do vagão vizinho apagou. Ronaldo se levantou e foi olhar pela portinhola e apenas pode enxergar uma figura que até então não tinha visto. Ele era alto e forte, fora isso não tinha como precisar o que vestia ou até mesmo seu rosto.

A pessoa estava de pé no meio do vagão e de costas para onde Ronaldo estava. Quando as luzes voltaram, ele viu que a pessoa vestia um macacão azul bem sujo. Provavelmente era da limpeza ou algo do gênero.

Mas ainda assim havia algo muito estranho com a pessoa. Não tinha cabelos e o formato da cabeça era incomum. Suas mãos desproporcionais tinham unhas amareladas pousavam inquietas ao lado do corpo.

Ele virou.

Ronaldo ficou pálido quando a coisa virou. De costas parecia uma pessoa normal, mas seu rosto era desfigurado e seus olhos todos negros brilhavam com a luz do vagão. Uma cinta de couro presa em sua cintura segurava uma faca de açougueiro enferrujada.

Quando a coisa deu um passo para frente Ronaldo recuou assustado. Então o “açougueiro” sorriu e correu em direção à porta. O jornalista de tão assustado desatou a correr para então perceber que não havia saída possível. Um baque seco contra a porta metálica fez o coração dele bater mais rápido. Pela força descomunal que a coisa acabou de apresentar aquela porta não ofereceria resistência por muito tempo.

Uma possível fuga seria a janela, mas com certeza ele se machucaria. A porta que até então continha a monstro veio abaixo e agora ele sorria de satisfação ao ver Ronaldo que pulou pela janela em um só movimento.

Com a queda provavelmente o braço fora torcido, ele deu urro de dor que foi interrompido pelo barulho da coisa atingindo o chão. Ronaldo tentou correr, mas tropeçou em alguma raiz e acabou no chão novamente. O monstro o alcançou.

O jornalista foi erguido pelas pernas e ficou ponta cabeça chorando enquanto dizia “Por quê eu? Por quê eu?”. A criatura ainda deu sorriso enquanto tirava a faca do cinto com a mão livre e com uma voz soturna respondeu “Porque não você?”.