Ladrões de Túmulos

Ladrões de Túmulos

por Pedro Moreno da bibliotecadosvampiros.com

— Isto não é nem um pouco inteligente.

As palavras de Martha ecoaram entre as tumbas, mas não atingiram o propósito de serem ouvidas por Rafael que continuava abaixado sobre a cova aberta tentando abrir um caixão com o pé de cabra.

— Relaxa – disse Rafael – quando botarmos a mão naquele anel você se esquecerá de tudo.

Ele voltou a manipular a ferramenta procurando uma brecha para conseguir o apoio necessário. Enquanto isso Martha sentou em um túmulo perto e tratou de ficar apreensiva. Ela tinha medo de ser vista por alguém. Já até imaginava a notícia correndo pela cidade: “Lembra a Martinha? Então... Agora ela rouba túmulos!”. Isso realmente não seria bom.

O rapaz conseguira apoio e agora a madeira rangia. Com a ajuda do pé ele arrancou a tampa do caixão fazendo a terra voar formando uma nuvem e poeira. Martha já teria desistido quando eles arrombaram o cadeado. Agora com o túmulo aberto ela se levantou decidida em direção à saída.

— Calma – interpelou Rafael enquanto segurava o braço dela – Já fomos tão longe. Agora não custa nada pegar o nosso tesouro.

Martha sentia vontade de chorar, mas ficou firme. Quando a poeira assentou, Rafael se debruçou sob a cova e examinou o cadáver. Segundo a lápide o enterrado se chama Clodoaldo Martins Leite. Dono de muitas posses na pequena cidade onde hoje está enterrado. Conta a lenda que com ele foi enterrado um anel de extremo valor, e depois de cinco anos enterrado coube aos dois darem legitimidade ao mito.

Talvez o clima tão peculiar da cidade preservou o seu corpo em um estado de mumificação. A pele enegrecida esticada pela pouca carne do cadáver. As roupas ainda estavam boas, mas não interessavam. No dedo anelar brilhava o anel.

Com seu corpo de ouro e um imenso rubi brilhante. Parecia um anel de formatura, porém bem mais caro e de bom gosto. Ao bater o olho em tal preciosidade Rafael lembrou o valor real da jóia. Se vendessem conseguiriam comprar um carro de médio valor. Seus pensamentos foram interrompidos por Martha.

A moça tinha olhos de ganância e parecia hipnotizada pelo anel. As mãos dela se aproximavam do cadáver como se não tivesse consciência do que fazia. Quando seu corpo encontrou com o de Rafael ela o empurrou como se fosse algum objeto que apenas atrapalhava.

Ele se desequilibrou e caiu enquanto Martha puxava a jóia do dedo do defunto. A expressão do rapaz se alterou e ganhou linhas firmes enquanto seu rosto ficava vermelho e seus denotavam vingança.

Ele segurou-a pelos braços e jogou em direção a uma lápide como fizesse com uma boneca de pano. Conferiu que ela estava desacordada e então olhou para a jóia que apesar de tanto tempo passado ainda brilhava.

Seu corpo se debruçou sobre o morto e viu que era tarefa difícil arrancar o anel. Rafael se lembrou que trouxe um alicate de corte caso precisasse e viu agora que a ferramenta lhe seria útil.

O alicate foi posicionado perto da base. O rapaz apertou firme com as duas mãos e enfim o dedo do morto caiu.

Rafael levantou o anel e apreciou a beleza que era. Enquanto sorria sua cabeça foi atingida por uma pá.

Enquanto o rapaz caía no chão era possível ver o sorriso alvo de Martha empunhando a pá com olhos de cobiça. Ela sorriu ao ver o dedo decepado. Guardou o objeto macabro no bolso e foi em direção à saída.

Porém nem dois passos foram dados. Os pés da moça foram agarrados por Rafael que segurava a mulher com firmeza que não esperava o ataque e acabou caindo com o rosto no chão. Ela levantou com um filete rubro descendo a testa e acertou com um chute as costelas do rapaz.

Ele se contorceu de dor e ficou no chão gemendo baixinho enquanto Martha de posse do anel correu em direção ao portão. Quando chegou nas grades se lembrou que só conseguiu escalar com ajuda para entrar. Enquanto imaginava como pularia foi pega pelos cabelos por Rafael que começou a arrasta-la de volta ao túmulo.

Martha foi jogada contra a lápide e logo o sangue escorreu em profusão. O rapaz abaixou e começou a procurar nos bolsos dela onde estaria a jóia.

Em um último impulso de vida a moça encontrou uma pedra e acertou a cabeça de Rafael que logo desfalecera. Ela deu um último sorriso e levantou, porém se sentiu zonza e perdeu o chão.

Quando pela manhã a polícia estava em peso dentro do cemitério. O coveiro alertara sobre três corpos encontrados fora de suas covas. Ao chegarem constataram que dois deles estavam originalmente vivos.

Prólogo

Os dois jovens estavam um ao lado do outro no necrotério. O legista revirava suas roupas quando um anel preso a um dedo caiu ruidosamente no chão. O brilho era magnífico. Ele levantou a jóia e pôs-se a admirá-la contra a luz. Infelizmente o doutor não pode ver seu assistente com olhos de cobiça e um bisturi na mão.