Ecos (maldição) 3/4
Depois de quatro noites malditas nessa casa, acabo repensando minha situação, chego a cogitar a abandonar tudo e sair da casa. Tem certos tipos de historias que deveriam ficar enterradas para que não sejam lembradas e não sejam revitalizadas de forma irracional. O fato é que esta casa, segundo meu conceito, é amaldiçoada em cada pedaço de madeira de seu assoalho.
Na manhã de ontem eu descobri um pequeno alçapão no andar superior, esta pequena porta não cabe um corpo humano adulto, logo pensei que as crianças deveriam adorá-lo, mas ao abri-lo descubro que não, pois não cabia nada alem da caixa de madeira que lá estava esta era muito velha e estava quase destruída pelos cupins que condenam esta casa, por isso eu não tive dificuldades em abri-la.
Dentro havia um livro de alunos, uma relação de notas escolares e um curioso plano extra para “Alunas especiais”. O que descobri é que meninas carentes eram arrancadas de seus pais pelos padres e enviadas ate este lugar, que durante um bom tempo funcionou como convento, e depois como convento e escola internato.
O curioso é que as atividades deste convento ficaram muito mais intensas no ano de 1836, exato um ano antes de o incêndio fechar o local... Parece que aconteciam coisas bizarras ali dentro, sobre o comando da “Madre Ivani”.
As pequenas meninas que eram mandadas para este lugar chegavam aqui com a idade media de dez anos, e obviamente só saiam quando eram mandadas já como madres para as paróquias de todo país. Mas segundo este livro assinado por uma das madres, assim diz:
“Madre Ivani tem uma convicção cega, e uma teoria estranha de “a raça sacerdotal”, no inicio não compreendi exatamente, ate a noite de quinta passada, ela veio a mim e disse que me preparasse, pois à noite eu teria visita, ela disse para que eu ficasse calma:
_Assim como a Virgem Maria, você concebera uma criança para servir a Deus, esta será batizada com as glorias de Deus e porá inicio a uma raça de sacerdotes, para melhor direcionar o rebanho de nosso senhor Jesus. _Ela disse em tom muito alto e parecia uma profetiza. E mais uma vez eu não entendi, ela mandou algumas madres me banharem e me vestirem adequadamente, e quando o relógio do centro da sala bate meia-noite, ela mandou me buscar... Quando cheguei, ela estava com o Padre Emanuel. Como de costume tomei as bênçãos do padre, mal poderia imaginar do que se tratava... Naquela noite deixei de ser virgem, mas não engravidei isso fez com que mais três Padres fossem chamados, noites após noites, nessa ocasião eu já poderia saber do que exatamente se tratava. Madre Ivani, com um grupo de padres, eles tinham uma idéia diferente daquela do santo Papa sobre o celibato, eles eram a favor de envolvimento entre sacerdotes a fim de criar uma espécie de raça sacerdotal, uma raça criada para conduzir o rebanho, e eu fui escolhida para gerar um desses sacerdotes.
Varias tentativa depois finalmente engravidei, e depois da gestação a criança foi levada para um outro mosteiro já que esta nascera homem, e depois disso eu fui iniciada a uma Madre, eu havia alcançado um dos desígnios dessa que segundo Emanuel (que passou a falar comigo com bastante freqüência, e agora éramos somente eu e Ivani quem podíamos conversar com o padre livremente.) Nova ordem da igreja, numa conversa entre eu Ivani e Emanuel, descubro que Emanuel é filho da Madre superiora, e esta idéia começou a me fazer sentido, por fim aceitei isso, e começou-se a iniciar mais duas noviças, Angélica e Maria, tudo corria bem ate a noite de iniciação de Angélica, foi descoberto de que ela não era mais pura.
Eu não estava no convento nesses dias, por isso pude escrever estas palavras relatando ao santíssimo Frei Joaquim o que se passou nesses dias obscuros. Angélica deveria ser expurgada de seus pecados, e como a antiga ordem de Santo Inácio de Loyola ordena, mas pelo que sei é que sua carne deveria ser marcada a ferro em fogo, para que seu espírito se lembre de sua vergonha, sanando assim sua mente, corpo e alma, ate o dia do julgamento final, mas algo deu errado, e o convento foi incendiado, todas as freiras estavam mortas, certamente um intento do diabo... “
Estou sentado na cama, lendo estas palavras, tentando entender, pela época a autora dessa carta que provavelmente não chegou ao seu destino deveria ser uma pessoa muito esclarecida, mas ainda sim se deixou levar pelo fanatismo religioso, aceitar que a freira Angélica deveria ser punida a “Ferro e fogo” é desumano, mas sei que é ainda hoje um pensamento presente em muitos fieis religiosos em varias religiões, mas eu não consigo entender tal pensamento irracional, por isso não tenho uma fé,
Mas o que está escrito é algo bem interessante e responde várias das minhas perguntas. Aqui nesta casa funcionou um convento que era regido por uma madre que fazia parte de uma instituição discrepante de Roma, isso certamente da uma bela historia.
No momento que começo a fomentar em minha cabeça varias partes da historia que seria tema do, mas novo dos meus livros, vejo dois vultos passar disparados pela porta de meu quarto, e por mais que o nervosismo tenha me feito vacilar, corro também na mesma direção, descendo as escadas de forma tão afobada e louca que quase caio no ultimo lance de degraus. Vejo os mesmos vultos, agora já posso distinguir um casal, era um homem vestido com velhas roupas e uma freira, ao abrirem à porta (Porta esta que quando passam pela mesma descubro que ainda esta fechada e trancada, mas a pesada chave balança o chaveiro na fechadura.).
Deduzo que seja o “Eco” de Angélica e seu affair, e que as emanações deixadas pela cruel morte da garota, isso deve ser uma reflexão de um dos momentos do casal. E pouco depois eu escuto uma grande cacofonia de gritos e choros vindos da área depois da cozinha, a área descoberta.
Quando chego a abrir a porta da cozinha, tudo volta a ser silencioso... Silencioso demais, não há barulhos de morcegos nem insetos noturnos, apenas um ranger de dobradiças enferrujadas, vejo que a porta da construção que estava selada pelo grande cadeado estava agora aberta, e segundo o proprietário da casa me disse que lá está guardado o que a igreja não levou do antigo convento. Um passo atrás do outro vou à direção à porta semi-aberta, sinto o coração acelerar a um ponto que me chega a fazer-me tremer todo o corpo, que segredos este lugar quer me revelar?