Noite de Autógrafos
Noite de Autógrafos
por Pedro Moreno da bibliotecadosvampiros.com
Ele passa a mão pelo trinco de metal e gira até ouvir o clique que confirma que a janela está aberta.
Empurra a pesada janela de madeira e a noite invade o apartamento junto com o vento frio que corta a sala e bate contra a parede e enfim perde suas forças.
Véspera de noite de autógrafos do seu livro, Edgar está nervoso, com toda a razão. Nunca estará acostumado com os flashes e fãs, mas mesmo assim adora. Tinha até um fã-clube, fez sucesso pela Internet e emissoras de TV o procuravam para falar sobre seu assunto favorito: Vampiros.
Deixa seus pensamentos de lado e avança em seu notebook, escreve uma frase de agradecimento e a manda a todos àqueles que ajudaram, com o cuidado de trocar os nomes, afim de parecer pessoal. O sono finalmente vêm e Edgar consegue dormir.
Logo pela manhã escolhe sua melhor roupa e começa a atender os telefonemas de amigos. As mesmas desculpas de sempre. Meu filho ficou doente, tenho uma reunião, vou visitar minha sogra... Edgar pensa consigo que não precisa destes fracassados.
Edgar chega na livraria uma meia hora antes de começar o evento. Vê poucos rostos conhecidos e os cumprimenta. Encontra uma internauta que o conhece de longa data, dona de um site sobre vampiros, sempre o ajudou com propaganda. Ela tem na mão o livro e pede um autógrafo.
Autógrafo, beijo no rosto, abraço, a mão escorrega pelo quadril dela, ambos sorriem.
Um rapaz se aproxima de livro em punho e para na sua frente, mas Edgar decide ignorá-lo, afinal não começara ,realmente, dar autógrafos. Engata uma conversa com outra pessoa e repara que o rapaz continua lhe olhando. Ele deve ter uns vinte anos, está trajado com uma camiseta e calça de sarja, seu rosto é forte porém temn um olhar tímido. Os outros autores começam a chegar.
O livro fora escrito à catorze mãos, cada autor colaborou com um ou dois contos e ,com toda certeza, os contos de Edgar são os mais fracos e sem sal, mas e daí? Hoje ele é a celebridade.
Canetas armadas, fãs desarmados. Os autores sentam em uma mesa e começam a rabiscar as folhas de rosto dos livros, seja com assinaturas, desejos de boa leitura e até desenhos. A pequena multidão começa a se aglomerar em torno da mesa em busca de um contato com seus ídolos.
Edgar assina com maestria os livros, e então vê que chega a vez do rapaz. Seu olhar é sinistro mas quando ele fala gagueja um pouco, o quê deixou Edgar mais tranquilo.
- Qual o seu nome?
- P... Paulo.
- Prontinho, obrigado Paulo.
A noite termina em um sucesso, de tão excitado Edgar não consegue dormir e resolve entrar na Internet pegar os seus recados. Uma foto lhe chama a atenção. Aquele rapaz o... Paulo, isso Paulo! está em sua rede de amigos, e olha só, Edgar o havia elogiado pois Paulo, dono de um site, estava promovendo o evento desta noite. Por isso Paulo lhe ficava olhando, ele esperava ser reconhecido.
Edgar consegue dormir, porém as três da manhã acorda com frio. A janela está aberta. Ele caminha meio trôpego até a fecha. Ao voltar escorrega e cai no chão, havia algo molhado, sua mão alcança o interruptor de luz e a lâmpada clareia o ambiente. Seu tórax tinha um corte da altura do mamilo até perto do umbigo, o líquido em que escorregara era o seu próprio sangue.
A tontura vem de imediato, por mais que Edgar fosse acostumado com a visão de sangue este era o seu. A sua vida estava saindo de dentro dele. Correu até o banheiro e tomou um banho. Terminado passou gaze pelo corpo e fixou com esparadrapos as pontas soltas. Olhou o trabalho no espelho.
Um vulto passou por trás dele.
Pegou uma tesoura que havia no banheiro, com o coração palpitando muito forte atravessou o batente da porta em direção ao quarto. Olhou o vulto pousado na janela. Sorrindo. E pior era Paulo.
Paulo pula para fora do prédio.
Edgar corre até a janela, pousa sua mão na madeira e olha para a rua. O quarto fica no sexto andar e não há nenhum corpo na calçada. Edgar houve uma risada vinda de cima. É Paulo. Esta grudado no cimento do prédio como uma aranha, de ponta cabeça olhando Edgar incrédulo.
- Olá.
- O quê você quer? Me matar?
- Não... a morte não seria .. tão ruim. Um canalha como você merece viver.
Paulo vira-se e escala o prédio com facilidade, até o topo e de cima dá um sorriso de dentes alvos e caninos prolongados.
Rapidamente Edgar pega o telefone. No começo não sabia para quem ligar, menosprezando as pessoas por tanto tempo ele não tinha reais amigos. Ligou para a sua mãe, hoje ele dormiria lá.
Chegou em quinze minutos na casa da mãe e em pouco tempo estava dormindo no sofá.
O dia amanhece, Edgar abre os olhos e percebe que tem uma faca na mão, toda suja de sangue. Joga longe a faca e começa a tatear o seu corpo em busca de algum ferimento, mas apenas as suas mãos tem sangue e não é do seu.
- Mãe!!
Ligeiro ,Edgar, abre a porta do quarto de sua mãe, ela está morta e suas entranhas jazem em cima dos cômodos e pelo chão. Edgar quase desfalece, dipara até o telefone e liga para a polícia chorando feito criança. Quando os policiais chegam ele percebe o quê fizeram com ele.
Depois de anos na cadeia Edgar é colocado em um manicômio, já tentou se matar sete vezes, mas depois que foi transferido para um quarto sem janela parece que se acalmou.