O Legista
O Legista
por Pedro Moreno da bibliotecadosvampiros.com
- Ok então, vamos começar.
O doutor pega o gravador e examina o corpo, aproxima o aparelho da boca e começa os primeiros acordes da sinfonia que é uma necrópsia.
- Homem, caucasiano, aproximadamente 35 anos, três ferimentos no tórax, medindo aproximadamente... 2 centímentros cada com distância de um palmo mais ou menos.
O doutor para a narração e coloca o dedo indicador em um dos ferimentos. Sente um metal estranho no corpo.
- A bala ainda está alojada e parece íntegra... Tiraremos para enviar à balística.
De súbito a porta abre e entra o auxiliar vestindo ainda o jaleco.
- Está atrasado Leandro!
- Desculpa doutor.. o trânsito estava ruim.
- Hunf.
Sem dar muito atenção a explicação do rapaz, o doutor volta a colocar o dedo na ferida do cadáver afim de ver a espessura. Mas o dedo não entra.
- Droga!
- O quê foi doutor?
- Agora pouco eu senti o projétil e então meu dedo não entra.
- Vai ver que você errou de buraco...
O doutor menea a cabeça concordando sem perceber a pequena troça que seu auxiliar lhe fizera e pede para que este pegue o bisturi e faça a primeira incisão.
O auxiliar se aproxima do defunto e com firmeza na mão posiciona o instrumento na parte superior direita do tórax e desliza fundo até o meio deste. Mas então para espantado com o quê vê.
- Do... Do... Doutor!
- Sim?
O legista se vira e vê o auxiliar em pânico extremo ao perceber que o morto sangrara, o quê não é nada bom.
- Meus Deus! Rápido Leandro! Eu devo ter um pouco de adrenalina na farmácia!
Em menos de dois minutos o doutor aplica adrenalina direto no coração do "cadáver". Passado os procedimentos básicos nada do morto reagir, por fim aferida a pressão constata-se morte de novo.
- Eu vou pegar minha prancheta.. Este cara não podia sangrar...
O legista sai da sala pega sua prancheta e resolve tomar água no bebedouro tentando esfriar um pouco a cabeça.
Quando volta o "morto" está sentado na maca e parece bem.
Na hora a prancheta parece fazer um barulho imenso quando se estatela no chão, talvez fosse a quietude do local ou a situação inusitada.
- Você está.... Vivo?.. Mas é um milag....
Suas palavras não conseguem sair da boca quando repara que não mais marcas de bala no peito do indivíduo. Ele olha para o lado e vê o estagiário caído no chão com o pescoço todo lacerado, os olhos voltam ao sujeito que já não está sentado na maca e infelizmente ele caminha com um sorriso sujo de sangue em direção ao médico...