Uma Vingança - Parte 1: Carlos
12 Anos. Recém desperto era apenas isto que a mente de Carlos conseguia atinar: whisky 12 anos.
Jogado de bruços por sobre a cama, talvez fizesse dois dias que não saísse do quarto, não tinha certeza, terça ou quarta-feira pouco lhe importava agora. Estático, abobalhado por um momento, tenta se virar a sua cabeça é golpeada pelo álcool, um movimento de frear vindo da nuca golpeando-lhe a testa, seu estomago se revira.
Carlos olha para o quarto, uma garrafa vazia jazia próxima à cabeceira da cama, ao lado da foto de Renata e Daniela, tirada a cerca de dois anos, quando Carlos era o senhor do mundo, mesmo se não houvesse provento para seus desejos ninguém lhe negaria credito. Estabelecido, morava tranquilamente em Alphaville, ruas patrulhadas e cercadas constantemente.
Tentou apagar esta lembrança, vivia só, em um cubículo, a mais de um ano, um dia apenas saiu de casa, não tivera força, não conseguia se reerguer, mesmo batendo seu peito estava morto, num gesto de complacência deixou sua esposa, não por desamor, mas porque se sentia um lastro, sabia que se continuassem juntos infalivelmente a arrastaria junto a si.
Lembrou-se de ter vendido seu carro e a sociedade no consultório. Rubens seu amigo desde a residência no São Camilo, este apenas abraçou-o e sem questionar se despediu.
As lembranças fixaram a consciência, a luz da janela indicava-lhe que o dia corria solto com o sol em seu ápice, tentou sentar-se na cama suportando a dor que lhe entorpecia os movimentos, sua cabeça fez um movimento de pendulo que quase o jogou ao chão.
Cambaleante levantou-se, lembrava de ter um resto de pizza na cozinha, de ontem, ou antes disto, não lhe importava, apenas precisava ingerir algo. Achou a embalagem no chão da sala.
Engoliu um bocado da pizza fria e dura, desceu raspando sua garganta e não trouxe alivio ao estomago, sentou-se no sofá rasgado em tentou mais uma vez centrar seus pensamentos, levou certo tempo para entender que não eram seus ouvidos zumbindo, mas sim o toque incessante da campainha. Apoiou-se na porta e pelo olho mágico viu um homem com uniforme e prancheta. Teria perguntado quem era, mas sua garganta ainda sofria pela álcool e pela pizza então apenas abriu a porta.
— Senhor Carlos. Encomenda para o Senhor - disse o desconhecido empurrando um pacote pequeno - Não precisa assinar,.já esta tudo certo.
Carlos observou por um momento o pacote ia dizer que não queria nada, mas ao erguer os olhos pode ver apenas a porta do elevador se fechando. Mirou novamente o pacote em suas mãos, papel pardo sem nenhuma marca, leu seu nome no pacote e se questionando quem lhe enviaria algo virou o pacote
Rio Negro - Recorporações e Afins
CP 16.367
CP 12.223-780
Movido por uma curiosidade que a muito não sentia abriu o pacote, apenas um livro Pesadelos e Paisagens Noturnas de Stephen King
— Já li este livro - disse a si mesmo, abriu as paginas, pulou a introdução e apenas leu o titulo da primeiro conto: O Cadillac de Dolan.
Sua mente continuava entorpecida, mas neste momento algo em seu intimo estalou, fechou o livro e fitou sua capa, um rosto mal desenhado engolindo vários corpos pequenos, apertou o tomo com tanta força que suas unhas sangraram, jogou o livro de lado e firmando as pernas caminhou ao banheiro, olhou-se no espelho, rosto inchado e vermelho de alcoólatra, olhos injetados, banho e escanhoar ausentes a quase uma semana. Abriu a espelho meio sem certeza do que acharia, fechou-o e sem se dar conta tateou a parte de cima, seus dedos tocaram em algo.
Carlos trouxe o objeto para perto dos olhos, levou um instante para entender que era uma navalha e dois se questionando se era do antigo inquilino do quarto. Deslizou os dedos tirando o pó e abriu a lamina. Não sabia a quanto tempo estava lá, o pó acumulado parecia de uma década, mas a lamina estava intacta com brilho de recém forjada. Seus olhos faiscaram imitando o brilho da lamina e Carlos soube o que fazer.