Risonho - Parte 1

Não lembrava como, mas sua casa fora tomada, homens de uniforme vermelho, ameaçando sua mãe para que não reagisse enquanto descarregavam sua libido distorcida. Indefeso ele assistia, mãos e pés atados, boca estourada pelo golpear de uma bota.

Ele assistiu a tudo, os homens se revezando, sua mãe que a principio gritava, foi calando-se enquanto aqueles homens a destroçavam sua alma e após algum tempo seus gritos tornaram-se apenas um soluçar.

Ele gritou três ou quatro vezes implorando para que os soldados parassem, teria gritado mais se o golpear súbito de um bota não tivesse arrancado-lhe três dentes, Regis chegou a cuspir sangue da boca dilacerada, mas a bota retornou desta vez esmagando-lhe a face, ele estremeceu como em um ataque epilético e num momento parou.

Sua mãe tornou a gritar, mas desta vez o líder daqueles homens apenas limitou-se lhe fender o ventre com uma baioneta fixando o corpo da mulher ao chão, um dos soldados emitiu um protesto, mas o Coronel Pennyworth limitou-se a ordenar: – Peguem a comida, incendeiem o resto. Vamos dar o fora daqui. Num momento os soldados ingleses reuniram-se fora da casa e esta era devorada pela chamas. Temendo a fúria de alguma tropa Boêre atraída pela fumaça afastarem-se pelo medo e não pela culpa.

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Nunca soube quanto tempo ficou entre as chamas. Acordou no chão da cozinha, seu corpo ainda atado, seu olho esquerdo escorria pela face deixando-lhe com um bizarro aspecto ciclópico. Suas roupas começavam a fumegar e a pele da sua perna esquerda tornara-se apenas um bolha. Ainda pensou: – Cheiro de porco – e desmaiou.

Seu despertar foi um mergulho em dor, sentia que suas mãos e pernas estavam livres das amarras, encontrava-se em uma cabana tentou erguer-se, mas seu peito parecia tomado por um peso descomunal, percorreu o local com os olhos sentia algo estranho como se a visão estivesse cortada e lembrou-se da bota do Coronel despedaçando-lhe a boca e esmagando o olho em seguida, Tentou se erguer mais uma vez, tentou se descobrir e gritar, mas o máximo que conseguiu parecia o crocitar selvagem.

Ainda tentava erguer-se quando a entrada da cabana foi tomada por uma sombra, em condições normais teria fugido, um negro semi-nu, com andrajos de pele mal cheirosa, parecia que o couro delas sequer havia sido curtido, diferente dos outros nativos que tinha encontrado este era muito mais alto e não exibia nenhum sinal da fome presente desde do inicio da guerra, em contraste com a pele negra como breu este carregava uma serpente branca como cal e mais larga que um braço acomodada em seu pescoço. Apesar da aparência bizarra, de algum modo possuía uma presença tranqüilizadora.

Efetuou uma nova tentativa de erguer-se, mas o homem avançando rapidamente impediu-o com a mão segurando os lençóis, tentou mais uma vez falar algo, mas foi interrompido pelo estranho:

- Tua mãe morreu, você morreu, mas não quer ir, o que você quer?

A frase ecoou em sua mente e achou que aquele homem estava tomado por alguma febre insana, como podia dizer que estava morto? Efetuou mais um esforço e descobriu suas mãos. Seus dedos haviam desaparecido, suas mãos eram apenas tocos enegrecidos, seus braços depreendiam pedaços de pele e entendeu neste momento que não eram os lençóis que estavam úmidos mas sim seu corpo de exalava um tipo de visgo. Tentou gritar mais uma vez e pelo esforço perdeu a consciência.