O reencontro

A lua apareceu vermelha e as ruas sangrentas.

A guerra urbana estourou na cidade,um dia teria que estourar.

Os presos e os soltos se rebelaram e em tudo reina o caos.

Escuridão e loucura estão soltos pelas ruas,os desejos mais sordidos são revelados,os medos mais secretos revelados,tornados realidade.No meio dessa destruição ela surge.Uma calça de couro apertada, recentemente roubada,um top de seda preto e por cima algo trasparente,feito de plastico manchado de sangue,é tudo o que veste.

Numa das mãos um machado de bombeiro,na outra alguma arma de repetição.Cabeça baixa,cabelos cobertos de sangue e suor.Rosto sem expressão,ou melhor,com todas as expressões da guerra.Do caos que consumiu sua vida.

Morte é seu nome e enquanto sue corpo cheia a jasmim, seu espirito tem o cheiro de carniça.

Do outro lado da rua ele aparece matando tudo o que vê pela frente.Uma mera vitima da guerra,mas são nas vitimas que existem os piores assassinos.

Criado numa situação de risco ele não tem piedade de ninguém,amigos ou inimigos todos morrem do mesmo jeito.Camisa branca,manchada de vermelho,rasgada em varios pontos,alguns cortes visiveis.Cabelo despenteado,ele ja não usa oculos ja morte é sua visão.

As pessoas surgem nas ruas,se mordem,se batem,se matam.Loucos?Uns poucos sim,o resto é crueldade reprimida.Eles se atacam,querendo comer-se vivos.Mesmo assim ele e ela não mostram reação.Apenas se olham de onde estão.Correm,um de encontro ao outro,com o rosto visivelmente em raiva.

Ela desce o machado na cabeça de uns,atira em outros,sempre na cabeça assim não precisa distinguir os humanos do não-humanos.Ele atira em uns com um rifle antigo,os outros são mortos pelas mãos dele,quase não sente as mordidas que lhe dão.Ele é apenas uma vitima que descobriu seu assassino interior.

Agora estão muito perto um do outro,mas de uma porta arrombada saem centenas de pessoas.O rosto dele se contrai,só se vê o vislumbre da granada em sua mão.Ele a joga no meio da multidão.Um sorriso passa pelo sorriso dela.

Um explosão,pedaços de corpos queimados por todos os lados.Chuva de sangue,ela ergue o rosto deixando as gotas vermelhas cairem sobre seu corpo.

Eles finalmente conseguem chegar perto um do outro.Ela pula para abraçá-lo,suas pernas se cruzam nas costas dele enquanto ela o beija mostrando suas saudades.

Ele pega na nuca dela e puxando-a pelo cabelo fala.

- Como soube onde eu estava?

- Eu apenas leio os jornais... - Disse ela com um sorriso felino.

Alguém tenta ataca-lo pelas costas, o covarde tem logo a cabeça decepada por ela.

Ela volta ao chão,ele segura em sua cintura e os dois saem andando pela cidade destruida.

Apenas um reencontro de quem nunca se viu...Um reencontro sangrento no que sobrou de São Paulo...

Dedico esse conto a alguém muito especial...

DTR