Eles não voltam sozinhos [01/03]

-Então seu marido achava que era uma espécie de Jesus?

Assim começou o interrogatório de Márcia Veras ,sobre a morte de seu marido, o Médico Antonio Veras na ultima noite.

Sentindo o sarcasmo na voz do detetive Márcia se absteve de responder a pergunta.

O detetive percebendo a reação de Marcia resolveu assumir uma posição mais séria e perguntou: - Porque matou seu marido?

- Eu já disse em meu depoimento. Respondeu secamente.

O detetive puxou uma folha de dentro de uma pasta que estava ao lado de sua cadeira e a leu em voz alta: - A que diz que seu marido enlouqueceu e tentou matá-la durante a madrugada.

- Foi isso mesmo.

-Em seu depoimento a senhora alega que ele acreditava ter o dom de ressuscitar pessoas.

-Ele tinha o dom! Respondeu com uma voz firme.

O detetive deu uma risada sonora, e continuou: - Não seria mais fácil a senhora admitir que descobriu que seu marido tinha uma amante,e não agüentando carregar esse fardo nas costas o matou?

-a senhora desferiu quarenta facadas em seu marido, acho que isso combina muito mais com uma traição recém descoberta.

-Por quanto tempo vão me manter presa aqui?

-O tempo que for necessário parta juntarmos as provas para provar sua culpa.

Márcia abaixou a cabeça por um tempo e falou: - Eu sabia que meu marido freqüentava a casa daquela mulher; ele não estava me traindo.

Naquela casa morava uma jovem menina chamada Monica, foi a ultima pessoa ressuscitada por ele.

-Vai continuar sustentando essa mentira?

Márcia nada respondeu. O detetive a olhou durante um tempo, para depois continuar falando:

Eu estive na casa, não havia mais ninguém morando lá, estranhamente deixaram tudo para trás, móveis, eletrodomésticos, para mim quando sua vizinha descobriu o que fez com o seu marido resolveu fugir para não ser a próxima vitima.

Márcia deu uma gargalha estrondosa, em seguida olhou o detetive nos olhos e disse: - Ou pode ser também que o que aconteceu naquela casa foi tão terrível que eles não quiseram guardar nada daquilo em suas vidas novas.

-Bem conveniente isso... Respondeu o detetive Mariano .

-Amanda Souza, Ronaldo de Jesus, Milton Nunes, Cássio Vergueiro!

-O que tem esses nomes? Perguntou Mariano demonstrando uma curiosidade crescente no tom de voz.

-Investigue, e descubra o que eles têm em comum.

-Talvez eu faça isso. Respondeu ele para logo em seguida chamar um guarda para levar a prisioneira de volta a sua cela.

Assim que saiu da sala de interrogatório, o delegado Silas o chamou e perguntou: - Conseguiu tirar algo dela?

-Ainda não. Continua com a história sobre seu marido ter poderes paranormais.

-Quando a pericia vai começar a fazer a autopsia no corpo? Perguntou ao delegado.

Essa greve dos legistas deve nos atrasar um pouco, mas acredito que até amanha esteja tudo resolvido. E sua filha como está?

-Ela está bem, estou indo ao hospital agora.

-Melhoras para ela!

Na Saída da delegacia Mariano refletiu sobre os problemas que começaram a afligir sua família nos últimos meses, primeiro a separação da esposa que foi embora do país largando as filhas de dez e seis anos respectivamente para ele criar sozinho.Não que ele achasse que era um sacrifício, amava Lívia, e Raquel que era a menorzinha, mas não entendia como uma mãe largava as filhas assim para trás. Logo depois Lívia começou a ter desmaios freqüentes, depois de uma bateria de exames, foi constatado que a menina tinha um tumor no cérebro, posteriormente o resultado dos exames acusou um câncer maligno. Em outras palavras sua filha tinha pouco tempo de vida.

Assim que chegou ao hospital sua filha o recebeu com um imenso sorriso no rosto, onde antes havia lindos cabelos encaracolados, agora havia apenas uma cabeça lisa.

-Porque demorou papai?

-Fiquei preso no trabalho filha! Respondeu, enquanto alisava o rosto da filha.

-Como foi seu dia Lívia?

-Foi bom, quase não senti dores, dormi a maior parte da tarde.

-Teve bons sonhos?

-Não sei ao certo papai, sonhei com um homem que parecia estar perdido, estava em uma floresta, onde as árvores estavam todas com as folhas secas, ele parecia estar tentando achar seu caminho de volta.

Mariano abraçou a filha e falou: - Foi apenas um sonho filha.

Ficou mais meia hora conversando com a filha antes de ir embora. Já no caminho de volta lembrou-se dos nomes ditos por Márcia, e resolveu investigar.

Três dias depois a primeira coisa que disse foi: - Investiguei os nomes!

-Descobriu o que eles têm em comum?

-Todos foram pacientes do mesmo hospital que seu marido trabalhava.

- E o que mais? Perguntou.

- Tiveram a morte constatada por mais de cinco minutos, e milagrosamente conseguiram se recuperar.

-Se você for mais a fundo, descobrirá também que meu marido estava de plantão no hospital todos esses dias.

Ele juntou as mãos e falou: - Eu não duvido disso, a senhora é tão doente que planejou tudo.

- A menina Mônica foi o único caso diferente geralmente ele tinha suas regras, só curava essas pessoas no hospital, não queria ser descoberto, mas ele não agüentou ver o corpo da menina.

-Ela havia sido atropelada por um ônibus, enquanto tentava atravessar a rua, ela só tinha seis anos.

- Meu marido adorava aquela menina, sempre que ela o via pedia doces.

-Ele a ressuscitou em frente de uma multidão.

-E ninguém que testemunhou um fato tão “incrível” como esse chamou os jornais? Perguntou com seu tom de deboche habitual Mariano.

-Chamaram sim,mas ninguém se interessou pela noticia,era sensacional demais para alguém acreditar.Você acreditaria se abrisse um jornal com a seguinte noticia:- Homem ressuscita menina de seis anos!

Antes que ele pudesse respondeu qualquer coisa seu celular tocou, ele observou o nome que aparecia na tela brilhante do telefone, e seu rosto assumiu feições de preocupação: Oi Amor! Disse ele.

-Ela piorou? Perguntou ele, enquanto baixava a cabeça e levava uma das mãos à testa.

-Tudo bem, já estou indo para ai. Continuou ele desligando o telefone em seguida.

No hospital foi informado que o estado de sua filha havia piorado, e que no momento ela estava passando por uma cirurgia. Ficou na recepção aguardando por mais informações que nunca chegava.

Logo chegaram seus familiares, sua mãe que estava tomando conta de sua filha mais velha, alguns amigos e sua ex esposa.

Verônica se aproximou, gentilmente tocou em seu ombro e disse: - Ela é forte. Vai melhorar.

Mariano não conseguiu disfarçar a raiva que sentia naquele momento, o que aquela mulher fazia ali? Ela deixou para trás não só ele, como também as duas filhas: - Fora daqui, você não tem direito de estar aqui! Vociferou enquanto empurrava Verônica em direção a porta de saída.

Verônica tentava se desvencilhar dele sem sucesso, Mariano estava completamente transtornado só parou quando ouviu uma voz atrás de si: Senhor Mariano Machado?

Era o Medico. – Sim sou eu! Respondeu sem esconder sua preocupação.

-Tentamos de tudo, mas infeliz mente sua filha faleceu.

Continua....